Mestre açougueiro e aprendiz |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Durante toda a Idade Média, no início as oportunidades são as mesmas para todos, e o aprendiz só não se torna mestre por falta de jeito ou indolência.
O aprendiz liga-se a seu mestre por um contrato de aprendizagem — sempre esse laço pessoal, caro à Idade Média — comportando obrigações a ambas as partes: para o mestre, a de formar seu aluno no ofício, e seu sustento durante esse tempo; para o aprendiz, obediência a seu mestre e dedicação ao trabalho.
Transpôs-se assim ao artesanato a dupla noção de “fidelidade-proteção”, que une o senhor a seu vassalo.
Mas como aqui uma das partes contratantes é uma criança de 12 a 14 anos, todos os cuidados são tendentes a reforçar sua proteção.
Deste modo, por um lado manifesta-se maior indulgência para com suas faltas, estorvamentos e até vagabundagens; por outro, delimitam-se severamente os deveres do mestre: ele não pode ter mais que um aprendiz por vez, para que seu ensino seja frutuoso; não pode explorar seus alunos, descarregando sobre eles uma parte de seu trabalho.
Mestre padeiro e aprendiz |
“Ninguém deve ter aprendiz se não for tão sábio e tão rico que o possa ensinar, governar e sustentar, e isso deve ser conhecido pelos homens que protegem o ofício” — dizem os regulamentos.
Eles fixam também quanto o mestre deve despender diariamente com a alimentação e manutenção do aluno.
Os mestres são ainda submetidos a um direito de visita, exercido pelos jurados da corporação, que vem a domicílio examinar como o aprendiz é alimentado, ensinado e tratado.
O mestre tem para com ele os deveres e obrigações de um pai. Entre outras coisas, deve velar por sua conduta moral.
O aprendiz lhe deve respeito e obediência, apesar de conservar uma certa independência.
No caso de ele abandonar a casa de seu mestre, este deve esperar um ano antes de tomar outro, e durante esse período é obrigado a recebê-lo, se voltar.
Todas as garantias do lado mais fraco, e não do mais forte.
O tempo do aprendizado varia segundo as profissões. Em geral é de 3 a 5 anos.
No final o aluno põe à prova suas habilidades perante os jurados de sua corporação.
Essa é a origem da obra-prima, cujas condições se irão complicando com o correr dos séculos.
Armeiros |
Em alguns ofícios em que o comerciante deve provar sua solvabilidade, exige-se uma caução.
Foram estas as condições da maestria na Idade Média.
A partir do século XIV elas haviam sido independentes, mas a partir de então começam a se ligar ao poder central.
O acesso à maestria vai sendo dificultado pouco a pouco.
Por exemplo, tornou-se então obrigatório em quase todas as corporações um estágio intermediário de 3 anos, como companheiro; o postulante devia desembolsar o que se chamou “compra do ofício”, variando de 5 a 20 soldos.
(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)