Castelo de Wijnendael, Bélgica |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
É difícil sintetizar como era a vida nos castelos medievais, porque ela era extremamente rica e variegada, variando muito segundo os locais.
Em cada lugar era, em verdade, inteiramente diferente. Mas há alguns traços comuns.
No castelo e nos arredores vive a pequena pátria que o espírito feudal formou em torno do barão.
Ela tem seus camponeses e artesãos, que são também seus soldados; seu tribunal, que é presidido pelo senhor; seus costumes, suas tradições de honra e de heroísmo, das quais se orgulha; uma insígnia, um lema e até um nome, que é o do próprio barão.
É um todo orgânico e único, que protege seus membros contra o mundo inimigo.
Graças ao senhor feudal que por eles vigia, os camponeses se sentem protegidos, podem arar, semear e esperar a colheita sem medo de serem surpreendidos por bandidos que os pilhem e escravizem.
Diz uma crônica do tempo que os barões, “para estarem sempre prontos, têm seus cavalos na sala onde dormem”.
Pouco a pouco, por via consuetudinária, vão se estabelecendo contratos. Em retribuição pela proteção que recebem, os camponeses e artesãos dão um tanto do que produzem, para sustentar o barão e sua família, e trabalham uns tantos dias por ano na reparação e conservação do castelo.
Os interesses de uns e outros são solidários; a prosperidade dos súditos é a do barão, que com ela se rejubila; das alegrias e do renome do barão participam os súditos.
O caráter essencial desta grande família, formada pela união íntima das famílias que a compõem, é o amor mútuo, profundo e devotado entre seus membros.
Amor filial e submisso dos súditos para com o senhor, amor paternal e protetor do senhor para com seus súditos.
Uma das belas canções de gesta da época assim descreve os sentimentos do Conde de Artois, vencido numa batalha, ao ver seus homens que jazem por terra:
Sua mesnada está lá, morta, ensangüentada.
Com sua mão direita ele a abençoa,
Sobre ela se inclina e chora
E suas lágrimas correm até a cintura.
Assim como no deserto floresce o oásis junto ao poço, também no princípio da era feudal, nos lugares onde havia homens de valor para erguer a “motte” e o castelo e se opor às arremetidas do inimigo, aí havia trabalho e progresso. Porém, onde não havia senhores fortes e obedecidos, tudo caía na anarquia.
E a França ia se enchendo desses núcleos isolados, formando uma constelação de pequenas soberanias que cresciam espontaneamente, por suas próprias forças, sem planificações de governos, mas com vitalidade e pujança que permitiam prever os esplendores da civilização cristã.
Até inimigos ferrenhos da ordem hierárquica medieval, como o soturno fundador do comunismo Karl Marx, reconhecem que nunca a vida dos operários foi melhor que na Idade Média.
De fato, como constata um comunista divulgador de Marx, (Henri Lefebvre, “Le matérialisme dialectique”, P.U.F., 1962), o senhor feudal tinha outro conceito de seu feudo. Ele não se perguntava quanto valia e qual a vantagem que podia tirar.
Castelo de Montrésor, França, interior |
Por isso quando acontecia de algum senhor feudal vender seu feudo, os sinos da igrejinha tocavam a finados. Como se alguém tivesse morrido. De tal maneira, isso era considerado uma desgraça, para os nobres e para o povo.
(Fonte: “Catolicismo”, nº 57, setembro de 1955)
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