domingo, 25 de agosto de 2024

O povo, terceira classe social medieval, ficava com a economia

Casa de rico burguês, Reims, França
Casa de rico burguês, Reims, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









Na época medieval, as funções mais lucrativas não eram as do nobre, nem do eclesiástico. Mas sim as do comerciante e do industrial.

Frequentemente encontravam-se burgueses e comerciantes cuja fortuna era tal, que emprestavam dinheiro aos Reis.

Sem eles os monarcas não podiam fazer guerra.

Eram mais ricos que muitíssimos nobres.

O comerciante não ia para a guerra, não era ferido ou mutilado, levava uma vida calma.

A esta classe de produção econômica era cobrado imposto.

Casas de comerciantes, Obernai, Alsácia
Casas de comerciantes, Obernai, Alsácia
Atualmente a primeira classe social é a dos mais ricos.

Naquele tempo, a primeira classe era a dos mais virtuosos,.

Isto é, o Clero, que se entregava ao serviço de Deus.

O plebeu mais rico tinha que se inclinar diante do clérigo mais pobre, o que é muito digno, muito razoável.

Se o Clero e a nobreza desfrutavam privilégios, isso decorria de suas funções mais elevadas e mais sacrificadas.

O que é natural, orgânico, justo.

Porta da cidade de Nancy
Porta da cidade de Nancy




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domingo, 18 de agosto de 2024

Covadonga: onde Nossa Senhora parou a invasão muçulmana

Gruta de Covadonga: local do milagre
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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No ano 722, em Covadonga começou a reconquista da Espanha invadida pelos árabes muçulmanos.

Foi ali que, segundo as crônicas, Pelayo (primeiro rei das Astúrias), derrotou aos seguidores de Maomé, com o auxílio miraculoso de Nossa Senhora.

Aquela vitória impossível sem intervenção sobrenatural deu início a 800 anos de Cruzada nos quais se constituiu a Espanha católica.

Cangas de Onís foi a capital do novo Reino de Astúrias até o ano 774.

Don Pelayo
Nela se estabeleceu o rei Don Pelayo, e desde ela empreendeu com seus homens diversas campanhas no norte da Espanha.

Cangas de Onís ficou com seu heróico rei como único foco de resistência ao expansionismo muçulmano até então invicto.

Do antigo e decadente reino visigodo cristão tudo tinha desaparecido.

Só ficou Don Pelayo, um punhado de valentes e, o mais valioso de tudo, o impulso vencedor da Cruz e de Nossa Senhora de Covadonga.

Veja vídeo
Covadonga:
milagre parou
invasão muçulmana
Na batalha de Covadonga, Don Pelayo portava uma Cruz com a inscrição em latim: “HOC SIGNO TVETVR PIVS. HOC SIGNO VINCITVR INMICVS”

Quer dizer: “Com este signo o piedoso é protegido. Com este signo o inimigo é vencido”.

Hoje é o símbolo de Astúrias.

Junto à gruta da vitória milagrosa e sobre um pequeno morro surge hoje o Santuário de Covadonga.

Ele foi construído com a pedra avermelhada da região que se destaca entre o verde das pradarias e das florestas.

Nossa Senhora de Covadonga, a "Santina"
Na manhã cedinho, quando a névoa envolve o vale, é fácil ver o Santuário emergindo na solidão como se estivesse pairando no ar.

Etimologicamente Covadonga significa Cova da Senhora e está unida indissoluvelmente ao nascimento da nacionalidade hispânica.

Nossa Senhora de Covadonga, a “Santinha”

Bendita seja a Rainha da nossa montanha, cujo trono é o berço da Espanha.

Causa da nossa alegria, vida e esperança nossa, abençoa nossa Pátria e mostra que teus filhos, teus são.

Don Pelayo, o vencedor dos muçulmanos em Covadonga, hoje é considerado “o símbolo de uma sociedade, que após ter caído, luta para reconquistar a liberdade, é o modelo para nós reconquistarmos uma sociedade invadida por outros bárbaros”.





BATALHA DE COVADONGA: O início da RECONQUISTA

domingo, 4 de agosto de 2024

Covadonga: como foi o portentoso milagre da vitória

Don Pelayo, estátua em Cangas de Onís, Astúrias
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Invasão moura na base da traição

Musa bem Nusayr, com ciúmes dos sucessos de seu capitão Tarif, resolveu também atravessar o Estreito à frente de poderoso exército, com o qual foi conquistando, uma após outra, Sevilha, Mérida, Saragoça e as atuais províncias de Málaga e Granada. Toledo já fora dominada por Tarif no ano de 713.

Juntando infâmia à traição, os partidários do último rei Vitiza foram entregando suas cidades ao invasor.

E assim foram caindo, como cartas de baralho, todas as regiões da Espanha visigótica, restando somente poucos núcleos independentes da autoridade muçulmana nos Montes Cantábricos, nas Vascongadas e junto aos Pireneus.

No ano 716, a maioria da população era composta de hispano-romanos cristãos, aos quais os mouros não obrigavam a se converter ao Islã, porque sua religião era também do Livro Revelado.

Mas tinham que pagar impostos ao invasor, sob pena de escravidão e confisco de bens.

D. Pelayo resiste e é aclamado rei

O governador muçulmano de Gijón, Munuza, enamorou-se da irmã de Pelayo. Por isso enviou-o para Córdoba com outros reféns, para poder dar livre curso a suas paixões desordenadas.

Mas Pelayo conseguiu fugir e voltar para a Astúrias, onde se opôs ao casamento da irmã com o mouro. Perseguido, teve que fugir para os montes de Cangas de Onis.

A gruta da resistência
Lá, em 718, reuniu um grupo numeroso de opositores ao regime islamita, incitou-os à resistência e foi por eles aclamado rei.

D. Pelayo era líder nato e grande aglutinador de homens. Sabia dirigi-los e deles tirar o máximo proveito.

Vendo que o forte da atenção inimiga estava posto na fracassada tentativa de invasão das Gálias, começou a atacar as guarnições mouras em pequenas guerras de escaramuça, alcançando vitórias sucessivas.

Isso levou Tarif, que tornara Córdoba sua capital, a envir contra os rebeldes um forte contingente comandado por Alcama.

Em sua empresa, era este traidor secundado por uma tropa cristã colaboracionista, comandada pelo bispo Opas, que acorrera com seus homens vindo de Toledo.

O Bispo Dom Opas, que já havia pactuado, se adiantou para tentar convencê-lo da inutilidade de resistir e da conveniência de seguir seu exemplo.

Invocando o auxílio de Deus e da Virgem, que tinha como seguros, D. Pelayo rechaçou indignado a proposta traidora, dispondo-se a batalhar até o fim contra os inimigos da Fé.

D. Pelayo não podia enfrentar tão forte inimigo, sobretudo com seu exército pouco numeroso e pouco adestrado.

Enviou parte dele para as montanhas, e refugiou-se com mil de seus melhores combatentes numa grande gruta natural no monte Auseva, com provisão para muitos dias e armas ofensivas e defensivas.

Vitória miraculosa de Covadonga

Chegado o exército islâmico junto à gruta, Alcama tentou uma última vez, através do bispo Opas, a rendição dos rebeldes, com a promessa de perdão para todos.

Respondeu-lhe D. Pelayo que os cristãos confiavam em seu Deus e na ajuda de sua Mãe Santíssima, pois era por eles que lutavam. E preferiam morrer a continuar vivendo sob o jugo de ímpios profanadores de igrejas.

Nossa Senhora de Covadonga
Retiraram-se os defensores para a gruta, sendo cercados pelo exército inimigo. Pondo sua confiança na Santa Mãe de Deus, Pelayo e os seus, como narra o Pe. Mariana,

“combateram com todo gênero de armas e com um granizo de pedras à entrada da cova; no que se descobriu o poder de Deus, favorável aos nossos e contrário aos mouros, pois as pedras, setas e dardos que os inimigos atiravam retornavam contra os que os arrojavam, com grande estrago que faziam em seus próprios senhores.

“Ficaram os inimigos atônitos com tão grande milagre.

“Os cristãos, animados e inflamados com a esperança da vitória, saem de seu esconderijo pelejando, poucos em número, sujos e de mau talhe; a peleja foi em tropel e sem ordem; carregaram com grande denodo sobre os inimigos, os quais, enfraquecidos e pasmos com o espanto que tinham cobrado, lhes voltaram as costas” (4).

Na fuga morreram mais de 20 mil soldados inimigos. Alcama pereceu na batalha, D. Opas foi feito prisioneiro e justiçado, e Munuza linchado pelos habitantes de uma aldeia, quando empreendia sua fuga.

Início de uma insigne Reconquista na História

Custou caro a derrota aos islamitas. Narram os historiadores árabes que os emires de Córdoba desprezaram o inimigo, dizendo:

“Pelayo não tem consigo mais que 30 homens famintos, que se alimentam com o mel que as abelhas fabricam nas rachaduras dos penhascos; e 30 homens, que podem importar?”.

A batalha
Pelas conseqüências que essa derrota teve depois, na história dos árabes na Espanha, lamentam tristemente seus historiadores: “Grave descuido, que foi depois causa de grandes aflições para o Islã” (5).

Àqueles rudes espanhóis, que os emires de Córdoba desprezavam, podia-se no entanto aplicar a descrição que Menéndez Pidal fez depois, do castelhano em geral:

“Suporta com forte conformidade toda carência, pode resistir às cobiças e à perturbadora solicitação dos prazeres; rege-o uma fundamental sobriedade de estímulos, que o inclina a certa austeridade ética, manifesta no estilo geral de vida; habitual simplicidade de costumes, nobre dignidade de porte, notada mesmo nas classes mais humildes; firmeza nas virtudes familiares”; e, quando preciso, um heroísmo poucas vezes imitado (6).

Tumba de Don Pelayo
O que sucedeu a D. Pelayo após a esplendorosa vitória de Covadonga? Segundo alguns, não se têm mais notícias de ações militares suas.

Estabeleceu sua residência em Cangas de Onis, “que se converteu em núcleo inicial de um reino sem nome nem território, mas com o qual colaborava já o Ducado de Cantábria” (7) .

Segundo o Pe. Mariana, ele fortificou—se nas Astúrias e fazia incursões nas terras sujeitas aos mouros. Atraindo para junto de si um número de pessoas cada vez maior, tomou pelas armas a cidade de León, que teria sido sua primeira capital.

O herói de Covadonga faleceu provavelmente em 737, sendo sucedido por seu filho Fáfila. Este, por sua vez, faleceu apenas dois anos depois, quando caçava um urso. Sucedeu-o um genro de D. Pelayo, filho do Duque da Cantábria.

Notas:
1.Cfr. Luis Suárez Fernández, Historia de España — Edad Media, Madrid, 1978, pp. 9 e 10
2.Id., ib. pp. 9 e 10
3.Padre Mariana, Historia General de España, enriquecida e completada por Eduardo Chao. Imprenta y Libreria de Gaspar y Roig, Editores, Madrid, 1848, tomo I, p. 308.
4.Id., p. 322.
5.Menéndez Pidal, España y sua Historia, Ediciones Minotauro, Madrid, 1957, tomo I, pp. 247, 248.
6.Id., pp. 15, 16.
7.Luis Suárez Fernandez, op. cit., pp. 15, 16. 


(Autor: José Maria dos Santos, “Catolicismo”, outubro de 2002)


BATALHA DE COVADONGA: O início da RECONQUISTA