domingo, 26 de fevereiro de 2023

Papa Celestino III:
é louvável tomar armas contra os fautores do mal

Celestino III aprova a autonomia do Hospital, Domenico di Bartolo (1400-1404 – 1445-1447), Santa Maria della Scalla, Siena
Celestino III aprova a autonomia do Hospital,
Domenico di Bartolo (1400-1404 – 1445-1447),
Santa Maria della Scalla, Siena
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Celestino, Bispo, servo dos servos de Deus. Ao caríssimo filho em Cristo, o Rei de Portugal, saudação e bênção apostólica.

Como pelos sagrados cânones seja cominada igual pena aos autores e aos fautores do mal, e não seja menor desprezo impugnarem a fé católica os que se têm por cristãos, porque seria se a deixassem, ou a perseguissem e adotassem a superstição dos bárbaros, pareceu-nos que não deveríamos faltar com o favor apostólico à petição que fazeis, de que a vós e a todos os que fizerem guerra ao Rei de Leão sejam concedidas as mesmas indulgências que a Santa Sé Apostólica tem outorgado aos que militam contra os infiéis e defendem a Cristandade de Espanha, porquanto ele tem tomado à sua conta a defesa dos mesmos infiéis, e em companhia dos mouros luta contra os cristãos.

Nós, respeitando vossa real petição e concedendo pelo teor da presente, a vós e a todos os que fizerem guerra ao dito Rei enquanto permanecer em sua pertinácia, as graças que são concedidas aos que passam à guerra de Jerusalém, ordenamos mais, que todas as terras que vós ou outros quaisquer ganhardes àquele Rei enquanto for contumaz, fiquem livremente a quem as ocupar, sem mais se devolverem ao senhorio do mesmo Rei.

Portanto, a nenhuma pessoa seja lícito infringir ou contrariar temerariamente esta bula de indulgência.

E se alguém se atrever a fazê-lo, saiba que há de incorrer na indignação de Deus todo poderoso e dos bem-aventurados S. Pedro e S. Paulo, seus Apóstolos.



(Bula dirigida pelo Santo Padre Celestino III a D. Sancho I de Portugal, a respeito de D. Afonso XII de Leão, em 10 de abril de 1197)




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domingo, 12 de fevereiro de 2023

Cristandade e Idade Média ‒ A Cristandade (5)

Coroacão do imperador do Sacro Império em Frankfurt,
pelos bispos de Mainz, Colonia e Trier
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Existiu a Cristandade?

Sim. Sob o influxo de todas as energias naturais e sobrenaturais entesouradas nas nações cristãs, foi emergindo lentamente do caos da barbárie na alta Idade Média, a sociedade civil cristã, A Cristandade.

Sua beleza, de início indecisa e sutil, mais promessa e esperança que realidade, foi se afirmando a medida que, com o escoar dos séculos de vida cristã, a Europa batizada "crescia em graça e santidade".


O que nasceu na Idade Média?

Nasceram os reinos, e as estirpes fidalgas, os costumes corteses, e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis, por exemplo.


A Idade Média atingiu o máximo da Civilização?

Não. Ela não atingiu o máximo de seu desenvolvimento. Muito ainda haveria que progredir.


Então, de onde vem o encanto da Idade Média?

O encanto grandioso e delicado da Idade Média não provém tanto do que ela realizou, como da harmonia profunda e da veracidade cintilante dos princípios sobre os quais ela construiu.

Áustria
Ninguém possuiu como ela, o conhecimento profundo da ordem natural das coisas; ninguém teve como ela o senso vivo da insuficiência do natural — mesmo quando desenvolvido na plenitude de sua ordem própria — e da necessidade do sobrenatural; ninguém como ela, brilhou ao sol da influência sobrenatural com mais limpidez e na candura de uma maior sinceridade.


Como eram os homens que fizeram a Idade Média?

Eram homens que lutaram e sofreram na realização do ideal da Civilização Cristã, e que na sua caminhada muitas vezes recuaram ou desfaleceram ao longo do caminho; mas de homens que sempre continuaram fiéis ao seu ideal, ainda mesmo quando dele se afastavam por seus atos.

E dai uma consonância profunda de todas as instituições, de todos os costumes, de todas as tradições nascidas nessa época, não só com as circunstâncias contingentes e transitórias do tempo em que surgiram, mas com as exigências genéricas da alma humana "naturaliter christiana" e as tendências espirituais peculiares aos povos do Ocidente.


A Civilização Cristã é igual por toda parte?

Sim na essência, não na concretização em cada país.

Toda a civilização cristã há de ser inteiramente cristã, católica, universal, mas há de se ajustar, há de respeitar, há de desenvolver e estimular as características de cada região, e de cada povo.


Então deve respeitar as características locais?

Sim. A sociedade cristã vive de acordo com a ordem natural. E, por isto, ela há de respeitar integralmente as características regionais de cada povo ou região.

Budapest, Hungría.
Respeitar e desenvolver, porque essas características são dons de Deus, e todos os dons de Deus merecem desenvolvimento.

Nos séculos de civilização cristã, cada povo teve, pois, suas características próprias, bem definidas.


Onde a alma nacional se encontra melhor?

A alma nacional, em todas as suas aspirações universais e humanas, em todas as suas aspirações nacionais e locais, encontra plena e ordenada expansão dentro da civilização cristã.

Dai a enorme variedade de formas de governo e de organização social ou econômica, de expressões artísticas e de produções intelectuais, nas varias nações da Europa medieval.


Do que servem os símbolos e a cultura nacional?

Os símbolos são um patrimônio nacional, uma condição essencial para a sobrevivência e progresso espiritual da nação.

Eles tem uma consonância indefinível e profunda com a mentalidade nacional, uma consonância que é natural e verídica, e não puramente fictícia e convencional.

Por isto, em via de regra, cada povo elabora uma só arte, uma só cultura e nela caminha enquanto existe.

O maior tesouro natural de um povo é a posse de sua própria cultura, isto é, quase a posse de sua própria mentalidade.

Escudo do Reino das Duas Sicílias


Quem pode admirar a Civilização Cristã?

Fora da Igreja uma civilização cristã só pode ser admirada pelas almas que tendem para o Catolicismo.

Dentro da Igreja só pode ser admirada e vivida pelas almas que vivem do Catolicismo.

Ela é incompreensível, é cheia de tédio, é odiosa até em sua superioridade solar, para as almas que começam a abandonar a Igreja, ou que, do lado de fora, blasfemam contra ela.

A civilização cristã só viveu plenamente, enquanto a Europa foi sincera e profundamente católica.


Qual é a grande tragédia da civilização?

A grande tragédia da civilização ocidental foi precisamente a ruptura com o Catolicismo que, no século XVI, arrebatou ao grêmio da Igreja as nações protestantes.

Essa apostasia foi aprofundada no terreno civil pela Revolução Francesa de 1789 e a Revolução comunista de 1917. Essas revoluções foram completadas pela Revolução da Sorbonne de Maio de 1968.

Todas elas somadas em cadeia formam uma só Revolução com R maiúsculo. A Revolução é a causa do caos de hoje e, portanto da grande tragédia da civilização.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “A Cruzada do século XX”, Catolicismo nº 1, Janeiro de 1951) 




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domingo, 5 de fevereiro de 2023

A civilização cristã e a sociedade perfeita ‒ A Cristandade (4)

Luis Dufaur
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A civilização cristã é a sociedade perfeita?

Sim. Se Jesus Cristo é o verdadeiro ideal de perfeição de todos os homens, uma sociedade que aplique todas as Suas leis tem de ser uma sociedade perfeita, a cultura e a civilização nascidas da Igreja de Cristo tem de ser forçosamente, não só a melhor civilização, mas, a única verdadeira. Di-lo o Santo Pontífice Pio X:

"Não há verdadeira civilização sem civilização moral, e não há verdadeira civilização moral senão com a Religião verdadeira". (Carta ao Episcopado Francês, de 28-VIII-1910, sobre "Le Sillon"). 

De onde decorre com evidência cristalina que não há verdadeira civilização senão como decorrência e fruto da verdadeira Religião.


A ação da Igreja sobre os homens é só individual?

Não, Ela forma também povos, culturas, civilizações.



Por quê?

Porque Deus criou o homem naturalmente sociável, e quis que os homens, em sociedade, trabalhassem uns pela santificação dos outros.



Os demais homens nos influenciam?

Sim. Temos todos, pela própria pressão do instinto de sociabilidade, a tendência a comunicar em certa medida nossas ideias aos outros, e, em certa medida, em receber a influência deles. Isto se pode afirmar nas relações de indivíduo a indivíduo, e do indivíduo com a sociedade.



As leis, costumes, culturas nos influenciam?

Os ambientes, as leis, as instituições em que vivemos exercem efeito sobre nós, têm sobre nós uma ação pedagógica.

Resistir inteiramente ao ambiente ruim, cuja influência nos penetra até por osmose e como que pela pele, é obra de alta e árdua virtude.

E por isto os primitivos cristãos não foram mais admiráveis enfrentando as feras do Coliseu, do que mantendo íntegro seu espírito católico embora vivessem no seio de uma sociedade pagã.



A cultura e a civilização são meios de salvação da alma?

Sim. A cultura e a civilização são fortíssimos meios para agir sobre as almas. Agir para a sua ruína, quando a cultura e a civilização são pagãs.

Para a sua edificação e sua salvação, quando são católicas.

Por isso, a Igreja não pode desinteressar-se em produzir uma cultura e uma civilização, e se contentar em agir sobre cada alma a título meramente individual.



Todo cristão é um foco de Civilização Cristã?

Sim. Toda a alma sobre a qual a Igreja age, e que corresponde generosamente a tal ação, é como que um foco ou uma semente da civilização cristã, que ela expande ativa e energicamente em torno de si.

A virtude transparece e contagia. Contagiando, propaga-se. Agindo e propagando-se tende a transformar-se em cultura e civilização católica.



A Igreja pode não produzir uma Civilização e uma cultura católicas?

Não. O próprio da Igreja é de produzir uma cultura e uma civilização cristã. É de produzir todos os seus frutos numa atmosfera social plenamente católica.



O fiel deve desejar a Civilização Cristã?

Sim. O católico deve aspirar a uma civilização católica como o homem encarcerado num subterrâneo deseja o ar livre, e o pássaro aprisionado anseia por recuperar os espaços infinitos do Céu.



Qual é, em resumo, o ideal católico hoje?

E é esta nossa finalidade, nosso grande ideal. Caminhamos para a civilização católica que poderá nascer dos escombros do mundo de hoje, como dos escombros do mundo romano nasceu a civilização medieval.

Caminhamos para a conquista deste ideal, com a coragem, a perseverança, a resolução de enfrentar e vencer todos os obstáculos, com que os Cruzados marcharam para Jerusalém.

Porque, se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o sepulcro de Cristo, como não queremos nós filhos da Igreja como eles lutar e morrer para restaurar algo que vale infinitamente mais do que o preciosíssimo sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades, que Ele criou e salvou para O amarem eternamente?


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “A Cruzada do século XX”, Catolicismo nº 1, Janeiro de 1951)



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