Westvleteren XII a melhor cerveja do mundo é feita por monges trapistas que levam vida de penitência. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Há perto de três anos pudemos comentar um artigo vindo da França, narrando que a cerveja Westvleteren XII, produzida pelos monges trapistas da abadia de São Sixto de Westvleteren, na Bélgica, ocupava o primeiro lugar das melhores cervejas do mundo, segundo o site americano especializado www.rateBeer.com.
Mas as modas mudam. Há pressões econômicas para transformar em puro negócio aquilo que é uma tradição religiosa de vários séculos.
Também o chamado “progressismo católico” tem uma declarada animadversão aos costumes e às tradições católicas que remontam à Idade Média, uma idade de fé em que o Evangelho penetrava todas as instituições, segundo ensinou o Papa Leão XIII.
No mês de junho do presente ano (2016), o site da revista italiana “Pane & Focolare” trouxe a notícia de que os monges trapistas de São Sixto de Westvleteren prosseguem imperturbáveis a tradição de fabrico de cerveja artesanal da mais alta qualidade.
E que, em consequência, essa cerveja monacal continua sendo votada como a melhor do mundo no referido site de apreciadores da bebida. Confira.
Os monges não querem saber de um aumento de produção ou qualquer argumento econômico que possa por em perigo o recolhimento de sua vida monástica.
A imagem representa um monge da abadia de São Sixto de Westvleteren que faz a famosa cerveja. |
Os Trapistas (Ordem dos Cistercienses de Estrita Observância) possuem 171 monastérios no mundo, mas apenas oito têm o direito de usar o logo Authentic Trappist Product.
Um deles é o de São Sixto de Westvleteren, na fronteira da Bélgica com a França.
Com formato delicado e elegante, a garrafa não tem etiqueta alguma: todas as informações estão na tampinha. Ela vem sendo produzida desde 1838 somente para sustento do convento.
Tampouco produzem o ano todo, e só vendem num período limitado deste.
Quando a data se aproxima, a notícia se espalha como mancha de óleo, sem publicidade.
O Padre Joris, responsável pela produção, explicou ao jornal americano de grande tiragem USA Today por que não vão aumentar a quantia elaborada:
“Não somos produtores de cerveja. Somos monges. Produzir cerveja nos permite ser monges. Não há motivo para ganhar dinheiro.
“Se aumentássemos a produção e abríssemos franquias, esta atividade deixaria de ser parte integrante da nossa existência.
“Portanto, a produção ficará em 4.500 hectolitros por ano, com uma venda ao público limitada num período de 70 a 75 dias”.
As abadias medievais levaram ao requinte a produção de cerveja. |
Nenhuma comercialização em grande escala ou e-commerce.
No dia em que começa a venda ao público, a região é invadida, tendo sido registradas filas de carros de três quilômetros.
A polícia é mobilizada para garantir a ordem.
Os monges recomendam a seus clientes de não revenderem a cerveja com finalidades lucrativas, sobretudo evitarem a sua comercialização a preços injustos, pois a garrafinha chega a ser oferecida na Internet por 450 dólares.
Recentemente, os monges tiveram de reformar o mosteiro, danificado por obra dos anos. Para reunir os fundos necessários, criaram uma bela caixinha com os dizeres “Uma cerveja por um tijolo”, também em número limitado, solicitando ajuda para a ampliação do mosteiro e a restauração do claustro da Abadia.
Como na Idade Média, na fidelidade estrita ao “Ora et labora” do grande São Bento, fundador da família beneditina há XVI séculos!