Guarda Suiça Pontificia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Carlos VII rei da França, em 1453, fez aliança com o povo helvético.
O acordo foi renovado em 1474 por Luís XI, que tinha ficado admirado em Basileia pela resistência da Suíça contra um adversário vinte vezes superior.
Luís XI alistou suíços como instrutores para o exército francês. O rei da Espanha fez a mesma coisa.
Os suíços foram descritos por Guicciardini como “o nervo e a esperança de um exército”. Em 1495 o rei francês teve a vida salva graças à firmeza inabalável de sua infantaria suíça.
Os guardas suíços continuavam, entretanto, submissos às autoridades de seus cantões natais, verdadeiros proprietários destas tropas que se reservavam o direito de recolhê-las quando bem entendessem.
Os regimentos suíços eram corpos armados totalmente independentes. Tinham suas próprias regras, seus juízes e seus chefes. As ordens eram dadas na sua língua, o alemão, oficiais e soldados permaneciam suíços até o fim sob as leis de seus cantões. O regimento era sua pátria.
Tais disposições foram confirmadas em todos os acordos feitos em anos posteriores.
Pelo fim da Idade Média, o espírito de revolta e a imoralidade grassavam na Europa. Tudo estava pronto para a grande explosão de orgulho e sensualidade que devastaria a Civilização Medieval católica.
O Renascimento em plena expansão e a iminente Revolução Protestante semeavam a revolta contra o sucessor de Pedro.
O Papa Sisto IV concluiu em 1479 uma aliança com os helvéticos. Em 1506 o Papa Júlio II chamou-os a Roma. Eles eram considerados invencíveis, devido à sua coragem, seus sentimentos nobres e sua proverbial fidelidade. Sem cavalaria e com pouca artilharia eles eram capazes de formar muralhas humanas impenetráveis.
Em 1512, o Papa Júlio II lhes concedeu o título de “defensores da liberdade da Igreja”.
Mas, 22 de janeiro de 1506 é a data oficial do nascimento da Guarda Suíça Pontifícia. Naquele dia, ao pôr do sol, um grupo de cento e cinquenta soldados suíços comandado pelo capitão Kaspar von Silenen do cantão de Uri, entrou pela primeira vez no Vaticano, pela Porta del Popolo para receber a bênção do Papa Júlio II.
Mons. Johann Burchard de Estrasburgo, capelão papal e autor de uma famosa história de seu tempo, registrou o evento em seu diário.
Juramento de fidelidade dos guardas suíços |
Os guardas suíços reuniram-se no pé do obelisco que ali está, e junto com as poucas tropas romanas de que dispunha o Papa, lutaram até o fim.
O comandante Kaspar Roister foi morto. Dos 189 suíços, apenas 42 não pereceram.
Esses, sob o comando de Hércules Göldli levaram o Papa Clemente VII até o impenetrável Castelo de Santo Ângelo.
Os outros caíram gloriosamente, massacrados até nos degraus do altar de São Pedro.
Clemente VII e seus suíços fugiram pelo famoso “Passetto” um corredor secreto construído por Alexandre VI na parede que liga o Vaticano com o Castelo Sant'Angelo.
As tropas invasoras saquearam Roma durante oito dias, praticando toda espécie de abusos, roubos, sacrilégios e massacres.
Até os túmulos dos Papas foram violados para roubar o que havia dentro.
Os saqueadores gritavam “viva o pontífice Lutero” em sinal de desprezo.
O nome do heresiarca protestante foi pichado sobre o famoso afresco do “Triunfo do Santíssimo Sacramento” de Rafael.
Desde então uma aura de martírio envolve a guarda suíça pontifícia.
Ela traz um perfume da velha fidelidade feudal medieval impregnada de sagrado e heroísmo em serviço do Senhor dos Senhores, o Vigário de Jesus Cristo.