domingo, 29 de outubro de 2023

Relógio de Paris com mais de 650 anos

O mais antigo relógio de Paris no Palácio de São Luís
O mais antigo relógio de Paris no Palácio de São Luís
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Paris é reputada capital do requinte e do bom gosto que atravessa os séculos com seu prestígio desde o impulso fundamental que lhe foi dado na era medieval representado pela Catedral Notre Dame e a Sainte Chapelle.

Também pela memória dos homens eminentes em virtude e procura do maravilhoso como São Luis IX, rei da França, quem mandou construir a Sainte Chapelle e o renomado Castelo de São Luís (conhecido como Conciergerie), nos bordes do rio Sena na Ile-de-la-Cité.

Apesar de ser uma cidade atemporal, ela preserva cuidadosamente um relógio que indica as horas aos parisienses há mais de 650 anos.

Hoje é o relógio mais antigo de Paris e o seu magnífico mostrador continua a surpreender os transeuntes instalado na Tour de l’Horloge, parte do referido castelo de São Luis!

O esplêndido relógio foi encomendado pelo rei Carlos V ao relojoeiro loreno Henri de Vic em 1371. Está instalado na torre nordeste do palácio dos reis da França.

Apesar da sua idade avançada, ainda hoje funciona e nunca deixa de surpreender os transeuntes que têm a boa ideia de admirá-lo!

Ele ainda deu seu nome à torre e ao cais onde está localizado, ambos hoje chamados de “de l’Horloge”.

Ele é objeto de manutenção constante, e foi restaurado e remodelado diversas vezes ao longo dos séculos.

Apresenta assim os vestígios de vários soberanos franceses.

Sob o pequeno telhado que o abriga, se observa as iniciais “H” e “C” entrelaçadas, símbolo do rei Henrique II e da sua esposa a rainha Catarina de Médicis.

Mas também “H” e “M” para o casal real de Henrique IV e Marguerita de Valois.

São assinaturas que indicam o trabalho realizado por estes reis e rainhas no emblemático relógio!

O rei Henrique III mandou inscrever uma frase em latim no topo do relógio que lembra às diferentes coroas dos países sobre os quais reinou: as da França, da Polônia e da Lituânia!

Devemos também a ele as duas belíssimas figuras alegóricas que representam a lei (à esquerda) e a justiça (à direita). Essa moldura é obra do escultor Germain Pilon, grande figura do Renascimento francês.

E não é por acaso então que nessa parte da Conciergerie se instalaram os supremos tribunais de Justiça da Franca.

Curiosamente o número 4 (das 16 hs) não está escrito “IV” como sempre se faz em latim, mas “IIII”. Esse recurso era usado em relógios anteriores ao século XV, daí o nome do “quatro de relojoeiro”!

Isto, por duas razões. Em primeiro lugar, prática, porque a notação IIII evita confundir IV e VI, números parecidos porque escritos ao contrário nos mostradores.

E também estético, porque essa escrita permite um equilíbrio gráfico entre as partes direita e esquerda do mostrador do relógio.

Muito dificilmente um relógio em estilo moderno duraria tanto e seria tão admirado envolto em tanto prestígio.





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domingo, 22 de outubro de 2023

Crescente interesse acadêmico pela Idade Média

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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1. Nas últimas décadas, a Idade Média vem suscitado um interesse crescente.

Desde os anos 50, aproximadamente, os estudos medievais conquistaram um posto de honra na historiografia, razão pela qual têm sido amplamente divulgados no Brasil; mas essa curiosidade já extrapolou os restritos círculos acadêmicos.

Nos dias de hoje, a Idade Média exerce também uma fascinação irrecusável sobre a imaginação do grande público, conforme testemunham a crescente quantidade de publicações de textos literários medievais e o fato de que recriações das narrativas sobre o rei Artur, o Santo Graal ou o mago Merlin sejam atualmente responsáveis por alguns best-sellers nas livrarias e por gordas bilheterias nos cinemas: é o sucesso da Idade Média na sociedade de consumo.

Esse interesse é bem compreensível, pois falar da Idade Média é, de certa forma, falar de nós mesmos.

Ela representa o longo período de gestação no qual foi criado o mundo moderno: as atuais nações europeias, das quais derivamos, juntamente com suas respectivas línguas e literaturas, são parte do legado medieval.

Nosso quotidiano está repleto de inovações surgidas naquela época, como as universidades, os bancos, e ainda a imprensa, o relógio mecânico e os óculos.

De acordo com Hilário Franco Júnior, devemos à Idade Média inclusive a origem dos modernos sistemas de representação política e os fundamentos da mentalidade científica que caracterizam a civilização ocidental(1).

Pode-se afirmar, portanto, que os estudos medievais também auxiliam a compreender a história e a cultura dos países americanos: a própria expansão marítima, que ocasionou a descoberta do Novo Mundo, tem suas raízes solidamente vincadas na Idade Média.

Temas da literatura medieval, como a gesta de Carlos Magno, permanecem vivos ainda hoje na poesia de cordel nordestina; além disso, é sabido que diversos escritores brasileiros de nosso século, entre os quais Manuel Bandeira, Guimarães Rosa e Adélia Prado, beberam fartamente de fontes medievais.





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domingo, 8 de outubro de 2023

A Cavalaria andante: seu lugar na Justiça medieval

São Jorge foi um modelo inspirador do cavaleiro andante. Igreja de S. Jorge, Hanworth, Inglaterra
São Jorge foi um modelo inspirador do cavaleiro andante.
Igreja de S. Jorge, Hanworth, Inglaterra
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Uma forma de cavalaria que historicamente se adulterou muito nos últimos séculos da Idade Média, mas cujo ideal era muito bonito, era a cavalaria andante.

O cavaleiro andante tinha um lugar especial dentro da aplicação da Justiça medieval.

A cavalaria andante estava composta por um cavaleiro que ia sozinho, ou em grupo de dois ou três, por vales e montes, a fim de procurar as injustiças para reparar.

Então, defendia as viúvas, defendia os órfãos, defendia os pobres que estão sendo oprimidos por um senhor tirânico, etc.

Enfim, restaurava a prática da lei de Deus onde quer que se encontrasse. É muito bonito.

Imagine ver subitamente no alto de uma montanha a silhueta de um cavaleiro que anda: está à procura do quê?

De um mal a esmagar.

O cavaleiro andante e as virtudes que deve praticar.
O cavaleiro andante e as virtudes que deve praticar.
Do alto de uma montanha, num cavalo magro, um cavaleiro vai andando com o sol batendo na couraça, no capacete, e ele andando e não prestando atenção em nada.

O que é?

É um cavaleiro andante que está à procura de uma injustiça para reparar. É muito bonito.

Historicamente a cavalaria andante se deteriorou e acabou desaparecendo.

Mas, deixou a lembrança e admiração que suscita uma instituição em si mesma muito bonita e que exige muita virtude para ser bem exercida.



(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, 28/2/91. Sem revisão do autor)



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domingo, 1 de outubro de 2023

A nobreza leva o esplendor dos castelos ao mundo agrícola

A nobreza do campo encarnava a identidade da região, Carnasciale, Itália
A nobreza do campo encarnava a identidade da região,
Carnasciale, Itália
Luis Dufaur
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Vencidos os tempos caóticos típicos do início da Idade Média, os nobres que viviam nos castelos-fortalezas foram reformando seus castelos e lhes dando o ar elegante e maravilhoso que hoje contemplamos.

A nobreza continuou assim vivendo no meio do campo numa residência muito boa.

Os castelos na Idade Média, de início rústicos, maciços e austeros por causa de sua finalidade militar, foram sendo ajeitados.

E das inacessíveis fortalezas feudais se passou às residências magníficas que deslumbram os séculos.

Nelas viviam os nobres do campo.

Eles não os derrubaram, mas fizeram algo mais interessante e inteligente: procuraram conservar, tanto quanto possível, o tom medieval original.

E fizeram disso um ponto de honra: afinal de contas foi naquelas torres e muralhas que seus antepassados viveram e morreram para salvar a civilização e a região onde estão instalados.

Interior do castelo de Chaumont, França
Interior do castelo de Chaumont, França
É a dimensão histórica que faz dos castelos medievais algo como que insuperável, mesmo pelas tentativas de imitação como a Disneylândia.

Quando os povos foram se cristianizando, os costumes ficaram menos violentos e a paz foi se instalando por toda Europa.

Os castelos deixaram de ter a finalidade quase exclusivamente militar originária.

Então, os nobres do campo apelaram ao melhor da arquitetura e das artes para embelezar as fortalezas.

Como no tempo dessas melhoras predominava a arte renascentista, censurável debaixo de alguns aspectos e admirável debaixo de outros, os nobres do campo fizeram uma seleção dos novos estilos.

Quarto do castelo de Chenonceaux
Quarto do castelo de Chenonceaux
E criaram uma coisa única: as mais maravilhosas residências dos Tempos Modernos, que reuniam a história e o progresso das artes.

Os castelos de Chenonceaux e de Chambord, para só citar esses, são um exemplo muito concreto.

E as fortalezas militares viraram verdadeiros palácios, e que ainda se chamam de castelos.

O luxo interior, antes inexistente, passou a ser grande, os parques, outrora sacrificados por razoes militares, ficaram magníficos, os terrenos que a nobreza reserva para si passaram a ser plantados como por um pintor formando conjuntos arborizados de sonho.

Nesses parques, instalaram lindos jogos de artifício de água, com espelhos aquáticos e jorros fantasiosos que entretêm a vida do campo, que sem eles facilmente se torna monótona.

A nobreza melhorou os caminhos e ficou muito fácil a viagem de visita de uns castelos para outros, de uns palácios para outros.

Galeria no castelo de Scone, Perth, Escócia
Galeria no castelo de Scone, Perth, Escócia
De maneira que a todo o momento os nobres se reuniam no castelo ou no palácio de um ou de outro para festas de família, casamentos, batizados, reuniões, ou para tratar de interesses comuns da agricultura, ou inclusive interesses políticos gerais.

Muito frequentemente esses castelos de origem medieval eram bem conservados, e ficavam muito bonitos, com tapeçarias, vitrais, móveis finamente trabalhados com as melhores madeiras, porcelanas, pratarias que o comércio trazia para a Europa de continente longínquos, como a Ásia ou a América do Sul, portuguesa ou espanhola.

Também conservavam recordações dos grandes feitos de guerra dos antepassados: armaduras medievais, salas exclusivamente destinadas a servir de uma espécie de museu de armas medievais.

Sala de jantar de Blenheim Palace, Reino Unido
Sala de jantar de Blenheim Palace, Reino Unido
Então aquelas armaduras que cobriam inclusive o rosto, postas de pé apoiadas sobre uma espada, por vezes de meter medo, com aquela presença dava a impressão de que de dentro uma recordação prestigiosa dizia: "Lembre-se que eu fui um herói".

Era frequente também que, nas peças de mobiliário do castelo, figurasse com destaque o escudo da família.

O escudo é como um resumo simbólico do passado e da ascendência da família.

Conhecido como “as armas”, o escudo, ou brasão, incluía aquilo que o duque de Saint-Simon, grande escritor sobre essa matéria, chama de la chimère, quer dizer as origens por vezes quiméricas da família.

Pois muitas daquelas grandes famílias pretendiam descender, de um modo ou do outro, de reis, de príncipes, de figuras famosas, de cruzados, de heróis de guerra, mas a relação ou as provas se tinham perdido através dos séculos.

Esses brasões provinham de costumes imemoriais e davam uma nota de esplendor e de fantasia oriental à atmosfera que cercava a nobreza. E dignificavam a família em um grau extraordinário.

O nobre de fazenda, para usarmos uma expressão caracteristicamente brasileira, representava a força, a coragem, a capacidade de lutar, a capacidade de organização da vida agrícola, virtudes reconhecidas por todos.

Refeitório dos empregados (representados com figuras de cera) no castelo de Breteuil, Ile de France
Refeitório dos empregados (representados com figuras de cera)
no castelo de Breteuil, Ile de France
As senhoras deles naturalmente eram menos rudes, mas montavam a cavalo também e eram a versão feminina de seus maridos.

Isso punha-as muito em contato com os pobres do feudo, e não era raro que muitas delas ajudassem economicamente os pobres.

Para isso mantinham enfermarias nos salões inferiores do castelo.

Também tinham salas onde a senhora do lugar uma vez por semana, às vezes no próprio domingo, recebia os aldeões mais necessitados ou preocupados.

E até tinham uma espécie de consultório médico com os remédios primitivos da época e distribuíam segundo os casos.

Elas entendiam muito de remédios, e ainda não tinham aparecido os médicos especializados com muito mais competência de nossos dias.

Então, elas aprendiam mais ou menos a arte de curar, davam receitas e remédios caseiros, naturalmente grátis, socorriam os pobres, os acidentados, e encaminhavam para o hospital da cidade – em geral religioso – algum necessitado para cuja situação não havia remédio no feudo.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra em 8/4/94, sem revisão do autor)



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