domingo, 24 de setembro de 2023

Povos bárbaros: um dos componentes que a Igreja tirou da ignorância

Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Os povos bárbaros invadiram o Império Romano não como numa simples incursão militar, mas com o intuito de fixarem ali a sua residência.

Eles tinham procedências muito diversas seja geográficas, étnicas, religiosas ou culturais.

O termo “bárbaro” foi cunhado pelos gregos para significar “que não é grego”.

Foi adotado pelos romanos em sentido análogo, indicando os povos que não tinham um Direito ou uma escrita como Roma.

Assumindo pela força a direção da sociedade, provocaram um tal embrutecimento que a Idade Média se iniciou com o mais pavoroso colapso de civilização que a História registrou.

Bárbaro ou selvagem

Para que a extensão desse colapso possa ser medida, é necessário ter-se em conta aquilo que diferencia o selvagem do homem civilizado.

A total ignorância de tudo ou quase tudo o que constituiu a civilização cria no selvagem uma inadaptabilidade quase completa para a vida civilizada.

Por isso muitos selvagens, como ainda em nossos dias se observa nas missões que levam a cabo a catequese dos nossos índios, não podem resistir à brusca transplantação de toda a sua existência para um ambiente plenamente civilizado.

Muitos sofrem com essa transplantação um dano irreparável em sua saúde. Os poucos dentre eles que sobrevivem ao choque, depois de viverem longos anos em uma vida civilizada fogem bruscamente.

E o mesmo fato se dá, se bem que mais raramente, com os filhos de selvagens já catequizados, quando transplantados para um ambiente de grandes cidades.

Elmo anglo-saxão
Essa inadaptabilidade resulta, em última análise, da oposição profunda existente entre os hábitos de um povo civilizado e os de um povo selvagem.

Hábitos dos povos bárbaros

Os bárbaros, singularmente parecidos sob alguns pontos de vista com os nossos índios, tinham hábitos que facilmente explicam o que acima ficou dito.

Em tempo de guerra, pintavam o corpo de modo a amedrontar o adversário. Com o mesmo objetivo, os homens de certas tribos atavam à cabeça crânios de animais selvagens.

Uivando e silvando como animais, costumavam atacar os inimigos em hordas compactas, cujos componentes semi-embriagados executavam saltos ferozes. A certa distância, as mulheres cantavam melodias guerreiras, em que incitavam os combatentes a sacrificar suas vidas em defesa de sua nação.

Um dos hábitos dessas tribos era o chamado juízo de deus. Partindo do princípio verdadeiro de que Deus prefere o inocente ao culpado, concluíam eles erroneamente que em uma luta o vencedor tinha sempre a razão, porque sem a proteção divina ele não poderia ter vencido.

O processo para provar a inocência dos indivíduos, quanto a crimes de que eram acusados, também se inspirava na mesma ordem de idéias.

Daí o fato de serem submetidos os acusados a certas provas, como por exemplo de caminhar, com os pés descalços, sobre metal incandescente, ou a de carregar durante certo tempo barras de metal incandescente. O direito penal consagrava também a obrigação de certas mutilações por certos crimes.

Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Freqüentemente, a pena consistia no pagamento de certa quantia, existindo a esse respeito curiosas tabelas em certos povos bárbaros do norte da Europa, que especificavam o preço de um olho, de uma orelha ou de um braço, ou computavam o preço da vida de um rei, de um príncipe ou de um nobre, servindo como padrão o valor das vacas.

Certas tribos eram tão selvagens que, quando invadiram o Império Romano, não pousavam nas cidades, por se sentirem asfixiadas. Tinham grande cavalheirismo, grande respeito à mulher e irrepreensível hospitalidade.

De todos esses costumes bárbaros — como o duelo judiciário, torturas e penas corporais — se ressentiu durante muitos séculos a civilização.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira. Excerto do curso de “História da Civilização”, 1936, Colégio Universitário, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo)





AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

domingo, 17 de setembro de 2023

Pe Foulques: de relaxado a pregador de Crruzadas

Foulques de Neuilly-sur-Marne: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo
Foulques de Neuilly-sur-Marne: de padre relaxado
a pregador da Cruzada e taumaturgo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Um exemplo significativo da flexibilidade de espírito dos medievais vem da história de Foulques, vigário de Neuilly-sur-Marne, na França.

Ele, de início, foi um vigário relaxado que vivia como um leigo na ignorância da religião.

E na Idade Média havia duas categorias bem definidas de vigários: o relaxado e o não relaxado.

Esse vigário relaxado à certa altura se converteu e se transformou num bom vigário.

Sua ação começou a se difundir em torno de Neuilly-sur-Marne. Depois começou a ser conhecido fora, mas mal visto.

A conversão dele datava de apenas dois anos, quando ele soube que havia uma assembleia geral de abades para tratar das Cruzadas.

Ele vai, se apresenta nessa assembleia e fala aos abades. Os abades se recusam a apoiá-lo.

Então, ele resolve dirigir-se ao povo que se comprimia do lado de fora. Falou com tanta força, com tanta unção, de um modo tão religioso que toda a multidão que o ouvia – velhos, homens, mulheres, nobres, plebeus – resolveu tomar a cruz.

Depois, ele começou a pregar a Cruzada por toda a região.

Entre os episódios, conta-se que ele encontrou, num castelo, um grupo de nobres ingleses e franceses, que se divertiam num torneio.

domingo, 10 de setembro de 2023

Como era uma "Canção de Cruzada"?

Batalha das Navas de Tolosa, episódio eminente da Reconquista da Espanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A Canção de Cruzada traduzida e reproduzida a continuação foi composta para encorajar os cristãos a participar na campanha contra a invasão islâmica da Espanha.

A cruzada resultante deu na grande vitória de Las Navas de Tolosa em 1212.

Foi composta após a derrota de Alarcos (19 de julho de 1195) e do avanço dos almohades de Abu Yusuf na península ibérica. O autor Gavaudan (1195-1215) foi um trovador-soldado das cortes de Tolosa e posteriormente em Castela.

Senhores, por causa dos nossos pecados cresce a força dos sarracenos; Saladino tomou Jerusalém (em 1187) e a cidade ainda não foi recuperada.

O rei de Marrocos fez-nos saber que combaterá contra todos os reis cristãos com seus pérfidos andaluzes e árabes, armados contra a fé de Cristo.

Ele convocou a todos os alcaides (governadores de fortalezas), almofades, mouros, godos e bereberés, e não queda homem forte nem débil que não tenha se reunido a todos eles.

Nunca uma chuva tão torrencial fez tanto dano como quando eles passam e se apossam dos prados. Eles devastam como ovelhas que não deixam nem broto nem raiz.

Seus escolhidos têm tanto orgulho que acham que submeterão o mundo todo. Marroquinos e almorávides instalam-se nos morros e nos vales.

Fanfarreiam entre eles: “¡Francos, afastai-vos! Nossas são a Provença e o Tolosanés e tudo que há até o Puy.”

Nunca se ouviu uma bazófia tão feroz nesses cães falsos, malditos sem fé.

Ouvi vós, imperador (Enrique IV, 1191-1197), rei da França (Felipe Augusto, 1180-1223), com vossos primos, o rei inglês (Ricardo Coração de Leão, 1189-1199), e o conde de Poitiers: socorrei ao rei da Espanha.

Navas de Tolosa. A épica e decisiva carga do rei de Navarra contra a tenda do chefe sarraceno.
Que nunca ninguém pôde ter ficado tão perto de melhor servir a Deus. Com Ele vencereis todos os cães que Maomé enganou e os renegados apóstatas.

Jesus Cristo que veio pregar para que nosso fim seja bom, Ele nos ensina que este é o reto caminho; pois, com a penitência será perdoado o pecado que vem de Adão (bula de Inocêncio III com indulgências de cruzada na campanha que culminou com a grande vitória cristã de Las Navas de Tolosa), e quer nos dar certeza e segurança de que, se cremos n’Ele, Eles nos exaltará por cima dos que estão mais elevados, e será nosso guia contra os felões vis e falsos.

Posto que possuímos a grande Fé, não deixemos nossas herdades a mercê de cães negros ultramarinos. Que cada uno reflita antes de sofrermos prejuízo.

Portugueses, galegos, castelhanos, navarros, aragoneses e da Cerdenha ficaram como barreira mas eles os tem repelido e humilhado.

Quando vejam os barões cruzados: alemães, franceses, de Cambray, ingleses, bretões, angevinos, bearneses e gascões, misturados com nós e os provençais todos numa só multidão, podereis estar certos que, com os hispanos quebraremos o ímpeto da invasão e cortar-lhe-emos a cabeça e as mãos até deixar mortos e aniquilados a todos. Depois, repartir-se-á entre nós todo o ouro.

Gavaudan será profeta de que acontecerá o que eu tenho dito.

Morram os cães! E Deus será honrado e servido onde Bafoma era reverenciado.


Vídeo: Canção de Cruzada: por causa dos nossos pecados





AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

domingo, 3 de setembro de 2023

Moradia com espírito elevado, oposto ao prosaísmo

Kaysersberg, Alsacia, França
Kaysersberg, Alsacia, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Denomino “europeização” a compreensão do que a Europa tem de bonito e a adoção do estado de espírito do europeu.

Não seria uma pura valorização do que há na Europa, mas a aquisição de um modo de ser inspirado no europeu.

Os europeus procuram organizar a vida de modo belo, com valores positivos.

Em suas casas, por exemplo: se há uma janela disponível, eles colocam um vaso com gerânios; se há um jardinzinho, plantam flores com desenhos lindos.

Óbidos, Portugal
Óbidos, Portugal
Tendo um belo panorama, aparecem artistas para ver, pintar, fotografar; comentam o panorama e extasiam-se com ele; expõem quadros com as pinturas.

Tudo aquilo vai entrando na cultura do povo.

Os brasileiros modernos, entretanto, ao contrário dessa impostação de alma, geralmente não incorporam as coisas com aquele estado de espírito medieval, mesmo tendo nós panoramas realmente bonitos.

Se adquirissem esse estado espírito, ficariam com apetência desse tipo de prazer intelectual.

Annecy, França
Annecy, França
Bem diferente da apetência pela politicagem, pela sensualidade, pela torcida desenfreada no esporte…

São defeitos contra os quais se deve remar.

Há nisso um sentido religioso?

Há, evidentemente, pois as coisas magníficas da natureza nos foram dadas pela Providência para nos elevarmos a Deus.

São imagens da sublimidade d’Ele.

É evidente que a posição de fechamento, de não se ter a alma aberta em relação ao sublime, leva as pessoas para o que é prosaico.

Portanto, representa um fechamento para a imagem que Deus colocou nas coisas criadas por Ele.

Tal fechamento para os aspectos sublimes das coisas representa, substancialmente, algo de antirreligioso.


Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 31 de outubro de 1966. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.


Vídeos: a moradia em cidades medievais europeias










AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS