domingo, 27 de agosto de 2023

Paternalidade e bondade nas relações sociais

Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso ao Rei
Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso ao Rei
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Na Idade Média, as relações das pessoas entre si e entre as diversas classes sociais eram muito orgânicas e naturais.

Qualquer pessoa do povo tinha grande facilidade de acesso aos nobres e até mesmo ao Rei.

Este costumava receber os plebeus em audiência, para ouvir os pedidos que lhe faziam.

Assim, São Fernando III, Rei de Castela, quando estava de viagem e se hospedava em determinada cidade, sentava-se perto de uma janela que dava para a rua, podendo ser visto pelo povo e ao alcance de qualquer plebeu que desejasse falar com ele.

E São Luís IX, Rei de França, tinha por hábito sentar-se sob um enorme carvalho, em Vincennes, e ali atender o povo, ouvindo seus pedidos, suas queixas, julgando casos e pendências entre plebeus.

Até bem depois da Idade Média, na época de Luís XIV e seus sucessores, o povo, na França tinha livre acesso aos jardins do Palácio de Versailles, onde podia entrar em contato pessoal com os nobres e mesmo com os soberanos.

Quando terminava a cerimônia de coroação de um Rei de França, do lado de fora da Catedral de Reims, em cujo recinto realiza-se o ato, ficavam muitos escrofulosos, portadores de uma doença de pele repugnante.

Pois dizia-se que o Rei de França tinha o carisma de curar as escrófulas pelo toque.

Ao sair da Catedral, dirigia-se ele a cada escrofuloso e tocava a chaga dizendo: "O Rei te toca. Deus te cure". E muitos realmente ficavam curados.

Tal era a monarquia cristã, na sua paternalidade, na sua bondade. E este tratamento que o Rei mantinha com os plebeus repetia-se entre os diversos níveis da escala social.


Fonte: CATOLICISMO



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domingo, 20 de agosto de 2023

A Idade Média achava que a Terra era plana?

Deus Criador, geómetra, Codex Vindobonensis 2554
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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Na revista de número 01 da coleção sobre História da ciência da Scientific American, Rudolf Simek desmonta, com muitos documentos, que na Idade Média, com base na Bíblia, se acreditasse que a Terra era plana.

Essa difamação foi espalhada principalmente por muitos ateus de séculos passados e hoje é repetida por alguns desatualizados:

“A ideia de que antes da Renascença a Terra era considerada plana, ainda persiste, explicou o prof. Rudolf Simek.

“No entanto, a esfericidade do Planeta já era admitida na época medieval”

“[...] Em 1492, quando Martin Behaim fabricou o primeiro globo terrestre e o chamou de Erdapfel (“maçã terrestre”), ele se remeteu à tradição medieval. [...]

“O manual de astronomia mais conhecido nas universidades medievais era o Liber de Sphaera (“Tratado sobre a esfera”), escrito pelo inglês Jean de Sacrobosco, na primeira metade do século XIII.

“O autor tratava das bases da geometria e da astronomia, apresentando provas evidentes da esfericidade da Terra e de outros corpos celestes. [...]

A esfericidade da Terra era um dado banalmente como comum na Idade Média.

De tal maneira que Santo Tomás de Aquino no início de sua magna obra “Suma Teológica”, recorre a essa posição aceita por todos.

E parte dela para fundamentar sobre um pressuposto inconteste a necessidade da ciência teológica, dizendo:

“a diversidade das ciências procede da diversidade de nossos meios de conhecimento.

Assim o astrônomo e o físico demonstram a mesma proposição por exemplo, que a terra é redonda.

“Mas o astrônomo o prova por meio das matemáticas, quer dizer, com cálculos abstratos, enquanto que o físico se apoia em provas concretas, em fatos experimentais”.

(Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, I, q. 1 a. 1 ad 2)

O próprio Doutor Angélico comentou muito extensamente dezenas de livros de Aristóteles.

Nesses, o grande filósofo grego tratou, entre muitas outras coisas, da esfericidade da Terra e da ordem dos astros.

O Filósofo se deteve muito nas opiniões adversas, correntes entre outros filósofos da Grécia antiga, e pagãos em geral.

E as desfez meticulosamente uma por uma. E até com dados primários da observação.

Como é o caso do navio que se aproxima pelo mar: quando está longe se vê a ponta do mastro e quando se aproxima começa a se ver o mastro todo e por fim o casco da nau.



Bíblia, Toledo
“Se a esfericidade da Terra ‒ e todas as suas consequências ‒ era uma ideia tão corrente na Idade Média, como foi possível chegar ao mito, que ainda persiste, que pretende que o homem medieval acreditava numa Terra plana? [...]

“A partir do século XVII, essas ideias foram consideradas ‒ por engano ‒ como típicas do pensamento monástico medieval.

“As correntes anticlericais da época das Luzes contribuíram para a propagação dessas interpretações errôneas, que visavam desmerecer uma Idade Média influenciada pela Igreja, pouco afeita às questões das ciências naturais e com uma visão de mundo limitada. [...]”


(Fonte: A ciência na Idade Média, Scientific American História, p. 30 à 33)




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domingo, 13 de agosto de 2023

Farmácias: invenção dos monges medievais para progresso da saúde


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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No coração de Florença prossegue aberta uma das farmácias mais antigas do mundo: a Officina Profumo – Farmaceutica di Santa Maria Novella, segundo noticiou o site “Panorama farmacêutico”.

A farmácia foi fundada pelos frades dominicanos por volta de 1.221, ano de sua chegada na região italiana. A Ordem dos Pregadores é o nome oficial dos dominicanos.

Ela foi fundada pelo nobre espanhol Santo Domingo de Gusmão e se distinguiu na luta contra as heresias e sua participação na Inquisição contra a Perfídia dos Hereges.

As farmácias monacais medievais eram gratuitas e abertas para qualquer um que se apresentasse com algum mal-estar. Hoje a Officina Profumo é privada e paga.

As primeiras preparações farmacêuticas usavam ervas medicinais cultivadas nos jardins do mosteiro.

Com essas e a sabedoria monacal eram feitos remédios, pomadas, licores, perfumes, pastilhas e bálsamos, entre outros.

De início, visavam atender os frades doentes, mas logo as multidões de todas as classes sociais acorriam a elas, confiando mais nos monges que nos médicos da época. E eram gratuitas.

A tendência para a medicina natural foi menosprezada como artifício de uma época de ignorância e atraso. Hoje a tendência mudou.

Após séculos de industrialismo exacerbado na farmacêutica, hoje se reconhece que a medicina natural típica da Idade Média também traz valiosos ensinamentos e fórmulas eficazes para tratar determinadas patologias.

A Officina Profumo é considerada uma das melhores e mais tradicionais marcas de Florença, ainda fiel aos seus métodos artesanais e tradicionais, oferecendo produtos de alta qualidade.

Depois de 407 anos atendendo no mesmo prédio no número 16 da Via della Scala, a marca decidiu abrir uma segunda loja, uma miniboutique dentro do Hotel Savoy, da Rocco Forte Hotels.

Os hóspedes que reservam uma suíte no Hotel Savoy terão direito a uma visita à casa histórica da Officina, que passou por um restauro completo em 2012, preservando as características históricas das obras de arte e detalhes arquitetônicos.

O local foi o favorito da rainha da França Catarina de Médici, nascida ela própria em Florença.

A rainha Catarina ajudou a fazer a fama da farmácia por usar a Acqua di Colonia Santa Maria Novella, que até hoje é o produto mais vendido.

Pois a sábia medicina medieval não procurava só o útil (o bonum na linguagem teológica) mas o belo e deleitável (o pulchrum também na linguagem da teologia aristotélico-tomista).




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domingo, 6 de agosto de 2023

Licores medievais recuperam a vida

Um dos livros de onde a Tattersall Distilling tirou fórmulas medievais
Um dos livros de onde a Tattersall Distilling tirou fórmulas medievais
Luis Dufaur
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No centro da moderna cidade de Minneapolis, EUA, a destilaria Tattersall Distilling ganhou reputação por suas genebras, bitters e licores premiados.

Mas dentro de pouco poderá ser conhecida pelos seus produtos medievais, alguns dos quais vêm com nomes assustadores para os espíritos modernos como a “água contra a peste”, noticiou o “The New York Times”.

Se anuncia como uma mistura alcoólica na base de angélica, genciana e mais uma dúzia de ervas.

A “água contra a peste” foi famosa entre os boticários medievais como tónico para prevenir as doenças.

No milênio seguinte – o nosso – é um dos oito licores que a Tattersall ressuscitou em cooperação com a Universidade de Minnesota e o Instituto de Arte de Minneapolis.

A empresa apresentou as “novas” bebidas num evento em inícios de março.

A gastronomia medieval era natural. O oposto da comida industrializada sem sabor
A gastronomia medieval era natural. O oposto da comida industrializada sem sabor
O fato é que a destilação artesanal, como é fato no Brasil com a cerveja, se expande entre um público farto de produtos industrializados, massificados e sem graça.

Simultaneamente um crescente número de historiadores indaga o que bebiam e comiam os medievais na vida quotidiana.

As iniciativas como a de Tattersall não são ingênuas nem românticas, elas pressupõem que há um público que as procura e retornará lucro.

Tattersall foi procurar as fórmulas nos enormes acervos da Biblioteca Histórica Wangensteen de Biologia e Medicina na Universidade de Minnesota.

Entre seus 72 mil volumes, alguns de 1430, há centenas de livros que descrevem com luxo de detalhes as propriedades curativas de raízes, ervas, sementes, metais e órgãos de animais.

Essas gigantescas acumulações de saber, geradas em mosteiros beneditinos ficaram ali ignoradas em tempos passados quando se dizia que a Idade Média foi a “era das Trevas”.

Monge faz misturas: modelo para alimentos originais, saudáveis, medicinais e saborosos
Monge faz misturas: modelo para alimentos originais, saudáveis, medicinais e saborosos
Hoje cientistas e até empresários correm ávidos atrás delas.

A medicina medieval era natural.

Sabia como discernir, misturar e combinar os ingredientes em função das propriedades curativas, explicou Amy Stewart, autora de “The Drunken Botanist: The Plants That Create the World’s Great Drinks” (O botânico bêbado: As plantas que criam as grandes bebidas do mundo).

Os licores foram combinados com açúcar e outros ingredientes para gerar fórmulas famosas até hoje.

Com a industrialização “muitos licores incríveis caíram no esquecimento”, sublinhou Jon Kreidler, um dos fundadores da Tattersall.

Mas, agora “acreditamos que seria interessante não só falar dessas fórmulas nos salões históricos, mas também os oferecer para degustação”, disse Nicole LaBouff, curadora no instituto de arte.

O Chartreuse é ponto de referência
O Chartreuse é ponto de referência
Mas, “percebemos que precisávamos contactar verdadeiros profissionais”, acrescentou ela.

E Tattersall está especializada em licores complicados e pouco conhecidos. Nasceu então a sociedade perfeita.

Vasculhando os velhos pergaminhos escolheram algumas dúzias de receitas para lhes dar nova vida.

Algumas eram simples como o ponche de leite, que já desfruta de um interessado renascimento nas cantinas.

Mas outros como a “água contra a peste” exigiram substitutos engenhosos, porque alguns ingredientes não estão mais disponíveis.

O moderno e anti-medieval “The New York Times” confessa que “surpreendentemente, os licores não estão mal”.

E dá como exemplo, o licor de nome mais espantoso: a própria “água contra a peste” que segundo o jornal “tem um sabor a ervas agradavelmente terroso”.

“Pensei, ‘água contra a peste’, como é que uma coisa dessas poderia ter bom sabor?”, disse Kreidler.

“Mas de fato tem o sabor de base para o chartreuse”, o delicioso licor que segundo alguns entendidos é o melhor do mundo concebido há séculos pelos monges de vida absolutamente isolada ao pé dos Alpes.




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