São Nicolau padroeiro dos marinheiros do Mediterrâneo salva nau que afundava |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
De tão deturpado, esqueceu-se sua maravilhosa origem.
Pois Papai Noel tem na sua fonte um homem de carne e osso, um bispo da Santa Igreja, um santo de altar!
Foi São Nicolau, bispo de Myra, na ilha de Gemile, hoje no largo da Turquia.
Ele faleceu rodeado de fama de santidade no ano de 326.
Conta a tradição que o piedoso bispo soube de um pagão que tinha três filhas mas não tinha dinheiro para casá-las bem.
Então decidiu — como aliás não era raro entre certos pagãos — vende-las ou alugá-las para a prostituição, após as festas cristãs do Natal.
Podemos imaginar quão lúgubre foi aquela noite de Natal para as pobres moças.
Porém, o bispo São Nicolau soube do que se planejava.
Jeitosamente, na calada da noite, jogou pela janela três sacolinhas com dinheiro aos pés do leito de cada uma delas.
No dia seguinte, elas amanheceram com o presente e a certeza de que poderiam fazer um bom casamento.
A tradição não é só verbal.
Acontece que nos tempos das Cruzadas, os piratas muçulmanos devastavam as cidades cristãs junto ao mar.
Myra sofreu essa cruel sorte.
Para salvar as reliquias do santo bispo, marinheiros católicos as trasladaram para Bari no sul da Itália.
E São Nicolau hoje é mais conhecido como São Nicolau de Bari e é representado com três saquinhos na mão em lembrança do famoso milagre para as moças.
Em 1993, arqueólogos intrigados foram a vasculhar a ilha de Gemile.
Queriam saber qual catástrofe ecológica a tornara deserta.
Os cientistas encontraram as ruínas de um centro de peregrinações composto de quatro igrejas, um caminho processional e uma quarentena de prédios em torno do primeiro túmulo de São Nicolau.
Nos restos das paredes acharam pintada em várias formas a história de São Nicolau e as moças, além de muitos outros milagres natalinos que o santo foi praticando na Idade Média.
Os ex-votos testemunhavam que a tradição dos presentes de Natal para as crianças (e também para os adultos em forma de graças e auxílios sobrenaturais e até materiais) é bem verdadeira.
A grosseira deturpação hodierna de São Nicolau não desqualifica em nada a maravilhosa tradição medieval.
Se em vez do laicizado Papai Noel, os homens tivessem devoção a São Nicolau não obteriam presentes espirituais e até materiais que enchem a alma, portadores de imponderáveis e bênçãos de que a humanidade perdeu a lembrança?