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Conrado III imperador.
Chronica Regia Coloniensis (s 13) |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
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Desde o Imperador Conrado até Fernando I, irmão de Carlos V, isto é de 911 a 1556, a coroação teve lugar em Aachen (Aix-la-Chapelle).
Maximiliano II começou em 1564 a série de Imperadores eleitos de Frankfurt.
A partir desse momento, a sala principal do magnífico edifício central de Frankfurt, o Rómer, serviu para a proclamação dos Imperadores, e denominou-se esta sala Kaisersaal, Sala do Imperador.
E' um recinto oblongo, vasto, discretamente iluminado em sua extremidade oriental por cinco estreitas janelas desiguais que se elevam no sentido do muro externo do Romer.
Na Kaisersaal há móveis preciosos, entre os quais a mesa de couro dos Príncipes Eleitores.
Em suas quatro altas paredes abundam afrescos esmaecidos pelo tempo. E sob uma abóbada de madeira com nervuras de um dourado envelhecido, encontram-se, em prestigiosa penumbra, os quarenta e cinco retratos dos continuadores do Império Carolíngio, figurados em bustos de bronze, cujos pedestais mostram as duas datas que abrem e fecham cada reinado, alguns ornados com lauréis, como os Césares romanos, outros cingidos com o diadema germânico.
Ali entreolham-se silenciosamente, cada um dentro de seu nicho ogival, os três Conrados, os sete Henriques, os quatro Ottons, o único Lotário, os dois Albertos, o único Luiz, os quatro Carlos que sucederam a Carlos Magno, o único Wenceslau, o único Roberto, o único Segismundo, os dois Maximilianos, os três Fernandos, o único Matias, os dois Leopoldos, os dois Josés, os dois Franciscos, os quais durante nove séculos, de 911 a 1806 marcaram a História do mundo, com a espada de São Pedro numa mão e o globo de Carlos Magno na outra.
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Coroa do Sacro Império. Schatzkammer Tesouro no Palácio Hofburg, Viena. |
Depois da cerimônia da coroação, que tinha lugar na igreja-catedral de São Bartolomeu, mais conhecida pelo simples nome do Dom, o novo Eleito, acompanhado dos Príncipes Eleitores, entrava no Paço Municipal de Frankfurt, o Romer, e subia à grande sala para cumprir e ver cumprir as cerimônias costumeiras em tal ocasião.
Os Eleitores de Tréveris, de Mogúncia e de Colônia situavam-se na primeira janela. Eram os três Eleitores eclesiásticos, os três Arcebispos destas cidades.
O Imperador, em trajes solenes, o manto imperial sobre os ombros, Coroa na cabeça, cetro e globo às mãos, tomava lugar na segunda janela.
A terceira era ocupada por um baldaquim, debaixo do qual ficavam o Arcebispo de Frankfurt e o Clero.
A quarta era destinada aos Embaixadores da Boêmia e do Palatinado.
A quinta, aos Eleitores da Saxonia, de Brandenburg e Brünswick.
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Roupa da coroação: túnica do novo imperador. |
No momento em que aparecia esta brilhante assembleia, a praça toda irrompia em brados e aclamações.
As comemorações na praça merecem uma descrição particular.
O centro dela era ocupado por um boi que se assava inteiro no meio de uma cozinha de tábuas.
Num dos lados havia uma fonte encimada por uma águia bicéfala. Por um dos bicos, jorrava vinho tinto; pelo outro, vinho branco. O segundo lado era ocupado por um monte de aveia que podia elevar-se à altura de três pés.
Quando todas as janelas e balcões estavam ornados, quando o Imperador, o Arcebispo e os Eleitores estavam sentados em seus respectivos lugares, o som de um trompete fazia-se ouvir; o arquiferreiro, o arquimarechal ‒ encarregado das cavalariças do Império ‒ saia a cavalo, enfiava sua montaria até os arreios na aveia, enchia uma medida de prata, subia à
kaisersaal e a apresentava ao Imperador. Isto queria dizer que as cavalariças do Império estavam bem providas.
Então, o trompete fazia-se ouvir uma segunda vez, o arquicopeiro saia a cavalo e ia encher duas largas taças de prata na fonte, uma com vinho tinto, outra com vinho branco, e levava-as ao Imperador. Isto simbolizava que as adegas do Sacro Império estavam abastecidas.
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Imperador coroado |
Depois o trompete fazia-se ouvir uma terceira vez, e o arquitrinchador saia a cavalo, ia cortar um pedaço de boi e o apresentava ao Imperador. Isto significava que as cozinhas estavam florescentes.
Enfim, o trompete fazia-se ouvir uma quarta vez, o arquitesoureiro saia a cavalo tendo na mão um saco com moedas de ouro e prata e jogava-as ao povo. Isto queria dizer que o tesouro nacional estava cheio.
O retorno do grande tesoureiro era o sinal de um combate que se travava entre o povo para ter a aveia, o vinho e o boi.
Em geral, deixava-se os açougueiros e os adegueiros assediar e tomar a cozinha; a cabeça do boi era o troféu mais honorífico da luta.
A vitória era atribuída ao partido que possuísse a cabeça.
E ainda hoje os adegueiros mostram nas adegas do palácio, e os açougueiros, no seu mercado, as cabeças que seus antepassados conquistaram nas memoráveis jornadas das coroações imperiais.
(Autor: Alexandre Dumas, « La Terreur Prussiene », Paris, Calmann Levy, Editeurs, 1887, t.I, pp.261 s.)