domingo, 26 de junho de 2022

Limpo como na Idade Média

Preocupações com a qualidade dos alimentos e problemas da cozinha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A higiene não é uma descoberta dos tempos modernos, mas “uma arte que o século de Luiz XIV menosprezou e que a Idade Média cultuou com amor”, escreveu a historiadora Monique Closson.

Ela é autora de numerosos livros sobre a criança, a mulher e a saúde no período medieval.

No estudo de referência “Limpo como na Idade Media”, a historiadora mostra com luxo de fontes que desde o século XII são incontáveis os documentos como tratados de medicina, ervolários, romances, fábulas, inventários, contabilidades, que nos mostram a paixão dos medievais pela higiene. Higiene pessoal, da cozinha, das oficinas, etc.

As iluminuras dos manuscritos são documentos insubstituíveis onde os gestos refletem o “clima psicológico ou moral da época”.

O zelo pela higiene veio abaixo no século XVI, com a Renascença e o protestantismo.

Milhares de manuscritos, diz Closson, ilustram o costume medieval.

Bartolomeu o inglês, Vicente de Beauvais, Aldobrandino de Siena, no século XIII, com seus tratados de medicina e de educação “instalaram uma verdadeira obsessão pela higiene das crianças”.

Eles descrevem todos os pormenores do banho do bebê: três vezes ao dia, as horas, temperatura da água, perto da lareira para não pegar resfriado, etc..

As famosas Chroniques de Froissart, em 1382, descrevem a bacia para o banho de ouro e prata parte do mobiliário do conde de Flandes. As dos burgueses eram de metais menos nobres e as camponesas em madeira.

A Idade Média atribuía valor curativo ao banho, como ensina Bartolomeu o Inglês no Livro sobre as propriedades das coisas.

Na idade adulta os banhos eram quotidianos. Os centros urbanos tinham banhos públicos quentes copiados da antiguidade romana. Mas, era mais fácil tomar banho quente todo dia em casa.

Médico visitando doente.
Na época carolíngia os palácios rivalizavam em salas de banho com os mosteiros. Conventos e mosteiros muitas vezes mantinham ambulatórios para doentes e funcionavam como hospitais.

Em Paris, em 1292, havia 27 banhos públicos inscritos. São Luis IX os regulamentou em 1268.

Nos séculos XIV e XV, os banhos públicos tiveram um verdadeiro apogeu. Bruxelas, Bruges, Baden, Dijon, Digne, Rouen, Estrasburgo, Chartres... as cidades grandes ou pequenas os acolhiam em quantidade.

Eram vigiados moral e praticamente pelo clero que cuidava da saúde pública. Os hospitais mantidos pelas ordens religiosas eram exímios e davam o tom na matéria.

Regulamentos, preços, condições, etc., tudo isso ficou registrado em abundantes documentos, escreve Closson.

Farmacêutico manipulando remédios naturais
Dentifrícios, desodorantes, xampus, sabonetes, etc., tirados de essências naturais, são elencados nos tratados conhecidos como ervolários feitos nas abadias.

Historiadores como J. Garnier descreveram com luxo de detalhes os altamente higienizados costumes medievais.

As estações termais também eram largamente apreciadas. Flamenca, romance do século XIII, faz o elogio da estação termal de Bourbon-l'Archambault. Imperadores, príncipes, ricos-homens os freqüentavam na Alemanha, Itália, Países Baixos, etc.

A era do ensebamento começou com o fim da Idade Média e durou até o século XX, conclui Monique Closson.

Ao menos até que os movimentos hippies, ecologistas, neo-tribais, etc. voltaram a pôr na moda andar sujo , sem barbear, vestido com blue-jeans e outras peças que estão ou fingem estar em farrapos ou com manchas, que vemos todos os dias na rua, nos transportes, aulas e locais de festa!

(Autor: Monique Closson, "Propre comme au Moyen-Age", Historama N°40, junho 1987)





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domingo, 19 de junho de 2022

Visibilidade, hierarquia e simbolismo da igreja

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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As igrejas e catedrais medievais foram construídas nos locais de máxima relevância. Isso lhes conferia um ar triunfante e glorioso.

Mas essa não era a única finalidade, nem a mais importante até. Elas visavam obedecer os conselhos evangélicos.

Para os construtores de igrejas as palavras de Cristo são normativas, diz o arquiteto americano Michel Rose, que estudou a arquitetura eclesiástica modernista no livro "Feia como o Pecado" (Ugly as Sin, Sophia Institute Press, Manchester, NH, 2001).

O Divino Mestre, diz Rose, ensinou no Sermão das Bem-aventuranças: “Não pode se esconder uma cidade que está situada sobre um monte. Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos que estão na casa” (Mt 5, 14-15).

domingo, 12 de junho de 2022

Na Idade Média nasceu a ciência logicamente sistematizada

A Geometria, The British Library
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Ainda perduram os ecos do laicismo anticristão visceralmente difamador da Idade Média pelo fato de ter sido uma época modelada pela Igreja Católica.

Professores e enciclopédias objetivas e atualizadas abandonaram essas visões laicista anticristãs e anti-medievais.

Um exemplo é a própria Wikipedia que, no verbete Ciência Medieval, fornece ricas e ponderadas informações sobre a Era Medieval, e que reproduzimos a continuação.

Caos pós-queda de Roma

A Europa Ocidental entrou na Idade Média em grandes dificuldades que minaram a produção intelectual do continente.

Os tempos eram confusos e havia-se perdido o acesso aos tratados científicos da antiguidade clássica (em grego), ficando apenas as compilações resumidas e até deturpadas que os romanos tinham traduzido para o latim.