domingo, 3 de dezembro de 2023

Costumes católicos do Natal: uma arca de tesouros!

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs


Na lista de links que segue a continuação, clicando o leitor encontrará um rica explicação de cada um desses santos e deliciosos costumes católicos natalinos.





























domingo, 26 de novembro de 2023

A multiforme inspiração do Espírito Santo
nos panettones de Natal

Christmas pudding inglês
Christmas pudding inglês
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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política internacional,
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No Natal, os britânicos preparam o tradicional “pudding”, oriundo da Idade Média e que segundo instrução da Igreja Católica, “deve ser feito no domingo 25, após a Trindade.

“Ele é preparado com 13 ingredientes para representar Cristo e os 12 Apóstolos, e em cuja massa todos os membros da família devem dar uma mexida durante a preparação, um de cada vez, de leste a oeste, a fim de homenagear os Reis Magos e sua suposta jornada nessa direção”.
Por sua vez, os belgas degustam os chamados “cougnoles” ou “cougnous”, pães do tipo brioche cujo tamanho varia entre 15 e 80 cm, com a forma de um presépio que acolhe uma imagenzinha do Menino Jesus.

Christstollen alemão.
Christstollen alemão.
Os alemães preparam o “Christstollen”, bolo muito denso perfumado com especiarias e recheado com frutos cristalizados e passas, cozinhado numa forma especial.

Os espanhóis no Natal preferem o “turrón”, uma massa feita com amêndoas e mel. Ele tem muitas variantes: com chocolate, nozes, frutas secas, etc.

Os franceses comemoram com a “bûche”, literalmente pedaço de lenha, que suscita todo ano um verdadeiro concurso para ver quem é o “pâtissier” que concebe a variante mais criativa.

Bûche de Noël francesa.
Bûche de Noël francesa.
Porém, nesse ponto os italianos acabaram passando na frente de todos os outros com o universalmente conhecido e cobiçado “panettone”.

De onde vem ele?

Discute-se fortemente na Itália sobre a sua origem. Todos concordam que nasceu na região de Milão.

Segundo uma versão, o panettone nasceu pelo fim do século XV num banquete oferecido pelo tempestuoso duque Ludovico Sforza, dito “o Mouro”.

O ajudante de cozinha de nome Toni, encarregado de vigiar o forno durante a preparação da sobremesa, teria dormido. E quando acordou ela estava queimada!

Para se salvar da ira do colérico duque, ele então apanhou tudo o que estava sobrando na cozinha e misturou, para produzir um pão “enriquecido” que fez as delícias de todos.

Essa obra-prima passou para a posteridade como o “pão de Toni”, que acabou dando em “panettone”.

O Panettone famoso vem da região de Milão. Quem o inventou?
O Panettone famoso vem da região de Milão. Quem o inventou?
Mas há outra versão: um certo Ughetto degli Atellani, jovem nobre que queria casar com Algisa, filha do padeiro Toni, teria conseguido ser contratado pela padaria, onde concebeu o famoso pão de Natal para conquistar a moça.

Outra versão ainda é aquela segundo a qual Sóror Ughetta – cujo nome significa passa – teria comprado com suas últimas moedas algumas passas e frutas cristalizadas para acrescentar a seu pão de Natal, a fim de levar um sorriso às irmãs de seu convento.

O fato histórico incontestável é que, entre outras coisas, na Idade Média nasceu o costume de comemorar o Natal com um pão que fosse melhor que o quotidiano.

Até 1395, os fornos de Milão só podiam cozer esse pão no período natalino. Com frequência o “panettone” era marcado com uma cruz.

Mas tem o “panettone” glacé e com amêndoas de Turim.

E também o “pandoro”, de Verona, que é muito alto, pesa perto de um 1 kg, com sabor de baunilha, uma miga muito leve e que é servido num pacote feito com açúcar cristalizado que se come também.

Em Veneza, o “panettone” vem acompanhado de um creme de frutas cristalizadas.

E, além do mais, há o “pandolce” de Genova, um pouco mais compacto; o “panforte” de Siena, feito com especiarias e sem farinha, com a massa consolidada com mel, pimenta e canela.

O pandoro de Verona
O pandoro de Verona
O sul da Itália aplicou sua inspiração ao panettone, que vinha do Norte, e acrescentou delícias inéditas nas regiões frias: laranja, limão, pistache, bergamota e o licor limoncello.

O de Nápoles é feito com laranjas cristalizadas de Amalfi e limoncello.

Em Siracusa, ele vem com chocolate, pistaches, laranjas cristalizadas da Sicília e passas de Pantelleria. Todos eles em geral têm preços acessíveis.

Foi só no mundo católico que a ação multiforme da graça do Espírito Santo inspirou uma tão larga variedade de pães simples, mas deliciosos, próprios a elevar os espíritos e fortalecer o corpo nos gaudiosos dias do nascimento do Redentor.

Procure-se entre os amargados protestantes ou nos decaídos países pagãos e veja se eles criaram uma variedade análoga de uma gostosura pura e inocente, tão de acordo com o espírito sobrenatural do Natal católico.




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domingo, 19 de novembro de 2023

Retomada dos estudos sobre a Idade Média: vitória da verdade histórica

Catedral de Ferrara
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Continuação do post anterior: Preconceitos e anacronismos obscurecem a verdade sobre a Idade Média



7. A esta altura, o leitor poderá perguntar: se a investigação histórica é produzida no cruzamento entre o “eu” e o “outro”, entre presente e passado, como é possível o conhecimento objetivo da história?

O conhecimento objetivo ou científico do passado pressupõe a adoção de um método seguro, que permita uma abordagem fiel das fontes.

Não se deve, entretanto, confundir rigor metodológico com a obsessão positivista de eliminar a possibilidade de interferência da personalidade do estudioso no desenvolvimento da pesquisa para evitar os riscos de uma análise “subjetiva” da documentação.

León, Espanha, claustro da catedral
Essa pretensão se revela, em particular no campo das ciências humanas, uma utopia prejudicial: se limitarmos nossa investigação somente àquilo que pode ser considerado “objetivo” ou “comprovado” — conceitos que são, de resto, bastante escorregadios —, terminaremos por reduzir a história a uma coleção de fatos desconexos ou então a simples sondagens estatísticas.

Dessa forma, em suma, ficaríamos à margem do que é mais importante conhecer, isto é, o significado dos acontecimentos, das idéias e das experiências dos homens do passado(15).

A neutralidade total do pesquisador é uma meta inatingível: só seria possível na hipótese absurda de que o objeto de estudo lhe fosse inteiramente indiferente (mas então por que estudá-lo?).

Imparcialidade não significa aridez; já notamos que a riqueza interior do estudioso é um ingrediente fundamental na elaboração do conhecimento histórico.

Contrariando a estéril tentativa de levar o pesquisador ao estado de ataraxia a fim de garantir a objetividade do trabalho científico, Marrou afirma que entre o sujeito e o objeto da investigação deve haver uma relação de simpatia e amizade, pois, como já dizia Santo Agostinho, “não se pode conhecer ninguém a não ser pela amizade”.

Não se trata, evidentemente, de maquiar o passado, substituindo a “lenda negra” sobre a Idade Média por uma “lenda dourada” igualmente tendenciosa.

Catedral de Palermo, Itália
A simpatia e a amizade de que o autor fala constituem o fundamento da dedicação sincera na tentativa de conhecer o outro como ele realmente é: “a amizade autêntica, na vida como na história, supõe a verdade”(16).

A verdadeira simpatia pelo objeto é, paradoxalmente, uma condição indispensável para gerar em nós aquele desapego necessário no caso de os resultados da pesquisa contrariarem nossas hipóteses ou expectativas.

A humilde disponibilidade de aceitar a verdade tal como ela se nos apresenta, e não como gostaríamos que fosse, é o que Luigi Giussani apelidou de “regra moral” do conhecimento: “amor à verdade do objeto maior que nosso apego às opiniões que já formamos sobre ele”(17).

8. Embora entrem em conflito com algumas idéias atualmente em voga, as sugestões metodológicas propostas pelos autores citados estão em perfeita sintonia com a mentalidade medieval.

Se para muitos hoje, o termo estudo evoca uma atividade insossa e meramente cerebrina, na Idade Média, como notou Luiz Jean Lauand, o alcance semântico de studium era mais amplo: “Studium significa amor, afeição, devotamento, a atitude de quem se aplica a algo porque ama”(18).

Fim

(Autor: Raúl Cesar Gouveia Fernandes, M. Sc. Letras FFLCHUSP - Prof. Filosofia FEI, “Reflexões sobre o Estudo da Idade Média”). 

Notas:
(1). A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo, Brasiliense, 1986, pp. 170-179.
(2). Cf. Nunes, Ruy A. da Costa. História da Educação na Idade Média. São Paulo, EDUSP, 1979, pp. 9-30.
(3). Lisboa, Europa-América, s / d.
(4). Cf. Dawson, C. Il Cristianesimo e la Formazione della Civiltà Occidentale, Milão, Rizzoli, 1997, p. 60.
(5). Do Conhecimento Histórico, Lisboa, Martins Fontes, s / d, pp. 85 e 231.
(6). Cf. Giussani, Luigi. O Senso de Deus e o Homem Moderno, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997, p. 101 e ss.
Santa Isabel da Hungria, Edmund Blair Leighton
(7). A Igreja das Catedrais e das Cruzadas, São Paulo, Quadrante, 1993, p. 39.
(8). O Anúncio Feito a Maria, Rio de Janeiro, Agir, 1968, p. 28.
(9). Marchi, Cesare. Grandes Pecadores, Grandes Catedrais, São Paulo, Martins Fontes, 1991, p. 39.
(10). Cf. O Declínio da Idade Média, Lisboa, Ulisséia, s / d.
(11). Cf. Massimi, Marina. “Partir do Presente”, in: Litterae Communionis, 57, maio / junho 1997.
(12). Marrou, Henri-Irenée. Op. cit., p. 92.
(13). Fontaine, J. “Face à la Foi des Premiers Siècles”, in: Delumeau, J. L’Historien et la Foi, Paris, 1996, p. 116.
(14). Cf. A Mulher no Tempo das Catedrais, Lisboa, Gradiva, 1984.
(15). Cf. Brooke, Christopher. O Casamento na Idade Média, Lisboa, Europa-América, pp. 15-32.
(16). Marrou, Henri-Irenée. Op. cit., p. 88.
(17). Giussani, Luigi. O Senso Religioso. 2a edição, São Paulo, Companhia Ilimitada, 1993, p. 59.
(18). Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 302.





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domingo, 12 de novembro de 2023

Preconceitos e anacronismos obscurecem a verdade sobre a Idade Média

Catedral de Bristol
Luis Dufaur
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Continuação do post anterior: A Idade Média é mal conhecida por causa de preconceitos


5. Até aqui insistimos sobre a necessidade de se adotar uma atitude de abertura e submissão aos documentos, alertando para o fato de que preconceitos e anacronismos podem distorcer os resultados da pesquisa.

De fato, a realidade histórica sempre se revela mais densa, complexa e rica do que certos conceitos dos quais facilmente nos tornamos prisioneiros.

Frisar a exigência de fidelidade às fontes, no entanto, não quer dizer que o ofício do historiador seja meramente passivo ou receptivo.


Ao estudioso cabe a tarefa de fazer os documentos falarem. Muitas vezes, o material analisado parece bem pouco eloquente; a quantidade e a qualidade das informações que serão extraídas dele dependem da habilidade do historiador ao questioná-lo.

A pesquisa não se resume à compilação de informações que os documentos já fornecem “prontas”: compete ao estudioso abordá-los adequadamente e formular hipóteses explicativas para os dados observados.

Sendo assim, a documentação histórica pode ser considerada uma fonte inesgotável de conhecimentos, pois sempre poderá revelar aspectos até então ignorados se submetida a novas interrogações.

É preciso observar, contudo, que o questionamento das fontes é uma habilidade que deve ser desenvolvida, pois atualmente se cultiva mais a dúvida sistemática (que termina por imobilizar a inteligência) do que a atenção genuína aos porquês últimos da realidade.

É justamente por ter formulado interrogações que ainda não haviam sido feitas, alargando os horizontes da pesquisa histórica, que a obra de certos medievalistas têm conquistado relevância crescente.

Um dos precursores desta renovação foi Johan Huizinga, que — há 70 anos, quando a pesquisa histórica se limitava a temas políticos e econômicos — procurou descrever os ideais, os sentimentos e as formas de pensamento do homem medieval, numa obra que continua estimulante ainda hoje(10).

Prof. Georges Duby
Estava aberto o caminho para a “nova história”, escola à qual se filiam historiadores do porte de Jacques le Goff e Georges Duby.

6. Se o resultado da análise é condicionado pelo questionamento proposto pelo estudioso, conclui-se que a investigação histórica será sempre inevitavelmente plasmada pela personalidade do pesquisador.

Os documentos históricos são “testemunhos da experiência de homens do passado”; como tais, solicitam que também a experiência humana de quem os lê entre em jogo para serem compreendidos(11).

Quanto mais atento e curioso for o pesquisador, mais fecunda será portanto sua investigação: “o valor do conhecimento histórico é diretamente função da riqueza interior, da abertura de espírito, da magnanimidade de quem o elaborou. (...) O historiador deve ser também, primeiro que tudo, um homem plenamente homem, aberto a tudo o que é humano”(12).

E não poderia ser de outra forma: o historiador, em particular o medievalista, lida com elementos que, embora cronologicamente distantes, dizem algo a respeito de sua própria pessoa e da sociedade na qual ele vive.

A pesquisa histórica pode ser descrita, portanto, como um encontro. Neste encontro com o outro reconheceremos, para além das diferenças, uma série de afinidades, graças às quais é possível estabelecer um diálogo com o passado.

Com efeito, “é nesta tensão entre o mesmo e o outro que o conhecimento da humanidade mais antiga pode continuar a enriquecer nossa existência, num século em que a ansiedade do homem nasce do questionamento de todas as suas referências fundamentais”.

Por isso, a história se escreve “apoiando-se ao mesmo tempo na presença da memória do passado e na compreensão da distância que existe entre esse passado e o presente”(13).

Exemplar, neste sentido, é a reflexão de Régine Pernoud acerca das origens medievais dos conceitos de casamento e direitos da mulher, temas que estão no centro de debates cruciais dos dias de hoje(14).









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