domingo, 20 de fevereiro de 2022

As Cruzadas no cerne das raízes cristãs
Apologia da Cruzada I

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O Professor Roberto de Mattei, professor catedrático de História Moderna na Universidade de Cassino, publicou uma luzidia “Apologia das Cruzadas” cujas partes essenciais reproduziremos nos próximos posts.

O Prof. de Mattei também leciona História do Cristianismo e da Igreja na Universidade Europeia de Roma, e é responsável da área das ciências jurídicas, socioeconômicas, humanísticas e dos bens culturais do Consiglio Nazionale della Ricerca, da Itália.

“As obras de arte que nasceram na Europa
nos séculos passados são incompreensíveis
sem levar em conta a alma religiosa que as inspirou”.
Foto: catedral de Winchester, Inglaterra.
“Adeus ao espírito de Cruzada na Igreja” é um refrão que se repete pelo menos há quarenta anos e que condensa a visão de um cristianismo que fez do diálogo ecumênico seu evangelho.

Esta visão é baseada em distorções históricas e numa deformação muito grave da doutrina da Igreja.

Quais são essas raízes cristãs que, de acordo com Bento XVI e seu predecessor João Paulo II, não só os católicos, mas até mesmo os laicos têm o direito e o dever de defender?

Os frutos dessas raízes estão sob nossos olhos: são as catedrais, monumentos, palácios, praças e ruas, mas também música, literatura, poesia, ciência, arte.


São Tomás de Aquino, mosaico no priorato de São Domingose em Londres
As Cruzadas fazem parte da paisagem espiritual católica europeia do mesmo modo que as catedrais. 

Elas expressam a mesma visão do mundo.

O historiador de arte Erwin Panofsky estudou a relação entre as janelas góticas e a filosofia escolástica, e enfatizou quanto o brilho dos vitrais das catedrais medievais corresponde à transparência de trabalhos como a “Summa Theologica” de S. Tomás de Aquino (Erwin Panofsky, “A arquitetura gótica e a filosofia escolástica”).

Da epopeia das Cruzadas emana ‒ poderíamos acrescentar ‒ o mesmo brilho, a mesma beleza diáfana, o impulso para cima, a mesma força criativa da obra de Santo Tomás de Aquino e de Dante.

As próprias Cruzadas são parte do patrimônio de valores derivados do Evangelho e desenvolvidos em sintonia com ele.
“As obras de arte que nasceram na Europa nos séculos passados são incompreensíveis sem levar em conta a alma religiosa que as inspirou”, disse ainda Bento XVI, na audiência geral de 18 de novembro de 2009.

O mesmo poderia ser dito das Cruzadas, que tiveram os campos de batalha da Palestina, mas foram inspiradas pela mesma escala de valores que durante esses anos guiou os arquitetos das catedrais de pedra.

Nem as Cruzadas nem as catedrais podem ser compreendidas por aqueles que ignoram o pensamento e, acima de tudo, a fé viva que inspirou seus criadores.

Catedral de Salisbury
Catedral de Salisbury
Na Catedral, os cristãos se reuniam em torno do padre que celebrava a missa em um altar olhando para o Oriente e renovava, sem derramamento de sangue, o máximo mistério do cristianismo: a Encarnação, Paixão e morte de Jesus Cristo.

Nas Cruzadas, as mesmas pessoas pegavam em armas para libertar a Cidade Santa de Jerusalém que caíra nas mãos dos maometanos.

O túmulo vazio do Santo Sepulcro, junto com o Santo Sudário, são testemunhos vivos da Ressurreição e as mais preciosas relíquias da Cristandade.





(Fonte: Prof. Roberto de Mattei, “Il Foglio”, 08/06/2010, apud Corrispondenza Romana, 08/06/ 2010).



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domingo, 13 de fevereiro de 2022

A benção medieval e
os 70 anos de Elizabeth II no trono do Reino Unido

Elizabeth II numa festa da coroação
Elizabeth II numa festa da coroação
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





O governante mais prestigiado do mundo completou 70 anos de reinado com índices de popularidade em volta de 90% no dia 6 de fevereiro [2022]: foi a rainha Elizabeth II ostentando uma coroa que vem desde a Idade Média.

Além de ser a mais antiga monarca reinante da história inglesa teve o casamento mais duradouro e fiel nos séculos de existência da realeza britânica.

Nunca antes tantos espectadores – estimados 300 milhões mundo afora, e até um bilhão pelo casamento de seu filho o príncipe Charles – acompanharam algumas das cerimônias de seu pomposo e equilibrado reinado.

Com mais dois anos, a rainha superará o reinado francês de Luís XIV, apelidado de “Rei Sol” pelo seu prestígio, que ocupou o trono do reino da França e Navarra por 72 anos e 110 dias, desde adolescente em 1643 até seu falecimento em 1715.

E Elisabeth II faz questão de esclarecer que ela não renunciará por idade ou saúde, como infelizmente fizeram outros monarcas em situações como a que ela pode enfrentar.

A rainha tem à sua disposição a mais deslumbrante e simbólica coleção de joias e coroas do mundo que usa para as grandes cerimônias segundo prescreve um cerimonial multissecular.

Mas na vida cotidiana não tem condescendência com a vulgaridade das modas modernas, usando sempre vestidos e chapéus elegantes, roupas desenhadas pelos antigos costureiros da corte real e meticulosamente adequadas a cada ocasião: nada é deixado ao acaso.

Além dos colares e joias que correspondem a uma tão distinta dama em cada ocasião.

Seu vestuário conserva um gosto inabalável há 70 anos obrigando os outros a se apresentarem na altura.

Mas os súditos são sempre recebidos com um sorriso cálido, um aceno amigável que faz explodir de agrado o gáudio popular nas ocasiões públicas, como nas festas de seu aniversário, todo início de junho.

Elisabeth II partilha o bolo dos 70 anos de reinado com uma determinação que pasma a seus mais íntimos
Elisabeth II partilha o bolo dos 70 anos de reinado
com uma determinação que pasma a seus mais íntimos
As celebrações pomposas, incluído o solene desfile militar Trooping the Colour acontecerá como é tradição no dia 2 de junho, mas a rainha para esta ocasião partiu um esplêndido bolo com seus familiares e seus auxiliares e empregados mais íntimos.

Elizabeth, quando ainda só tinha 25 anos e apenas casada, recebeu a dolorosa notícia da morte de seu pai o rei George VI, durante uma visita protocolar no Quênia.

Vigorou como na Idade Média o princípio “O rei morreu, viva o rei!” Neste caso a rainha. A transição é instantânea.

A pomposa cerimonia de coroação aconteceu em 2 de junho de 1953, em grande cerimônia na Abadia de Westminster:

O arcebispo, infelizmente herético, pronunciou a fórmula tradicional: “Elizabeth II, pela graça de Deus, rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de seus outros Reinos e Territórios, chefe da Commonwealth, defensora da fé” enquanto colocava sobre sua cabeça a maravilhosa coroa real.

A jovem rainha Elizabeth II retorno para o enterro do pai em 1952.
A jovem rainha Elizabeth II retorno para o enterro do pai em 1952.
Emociona ainda ver a foto em preto e branco da delicada rainha descendo a escalinata do avião em Londres enquanto ao pé dela formam fileira todos os ministros vestidos de preto, que ressalvada sua dignidade de função e pessoal, evocam um grupo de urubus apinhados no galho.

Quem teria dito nesse dia que a frágil rainha haveria de se manter sete décadas completas à testa de um vasto leque de países em todos os continentes, num período que viu o colapso do Império Britânico, a Guerra Fria e, mais recentemente, o Brexit e a pandemia do coronavírus!

Ao todo, por protocolo deu o placet a 14 novos primeiros-ministros, chefes executivos de governo, no Palácio de Buckingham, das mais variegadas formações políticas, como Winston Churchill, Margaret Thatcher e o atual Boris Johnson. Todos passaram, subiram e caíram e a rainha ficou impertérrita no trono

Também sofreu dramáticas crises familiares, como as que provocou sua irmã Margaret com casamentos errados e o primeiro divórcio na família real britânica em mais de 400 anos.

Veio depois a grande decepção que se seguiu ao prestigiosíssimo casamento de seu primogênito o príncipe Charles com Lady Diana em 1981 (que morreu num acidente de carro em Paris, já divorciada).

Todos os outros filhos, exceto o mais novo Edward, atualmente alvejado por escândalos, divorciaram-se.

O mais novo de seus netos, o nascido príncipe Harry, renunciou à realeza e vive alimentando escândalos para a mídia ávida deles desde o “casamento” com a atriz americana Meghan Markle.

Elisabeth II não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina
Elisabeth II não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina
Tudo conspirou e segue conspirando contra a rainha Elizabeth, mas ela não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina.

Corajosamente, na sacada do palácio de Buckingham; nas incontáveis sessões ou visitas prescritas pelo protocolo quase todo dia; sentada sozinha no trono réplica do de Santo Eduardo III o Confessor, sob um baldaquino de ouro na Sala dos Lordes, ela sorri para todos e os empolga.

Como se explica isso, sobre tudo considerando os incontáveis governos e regimes que nesses 70 anos foram caindo, por vezes do modo mais calamitoso, no mundo todo, hoje sumidos no esquecimento ou na desgraça popular?

É um charme herdado da Idade Média que atravessou episódios dos mais obscuros da história.

Um charme ao qual a coroa inglesa – que mesmo não sendo católica como na origem, mas protestante anglicana! – impregna as instituições medievais nascidas sob a benção da Igreja Católica, regada com o sangue de santos e mártires, e que nenhuma invenção política humana consegue transmitir.


VÍDEO 70 anos gloriosos perfumados pela Idade Média CLIQUE NA FOTO