domingo, 26 de março de 2023

O fascínio dos templários e a intrigante caverna medieval

Royston a caverna que reaviva o fascínio pelos tempários.
Royston: a caverna que reaviva o fascínio pelos templários.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Preparando a terra para uma nova loja no mercado de manteiga da cidade de Royston, a 75 km de Londres, no verão de 1742 um operário encontrou uma caverna medieval que se visita hoje.

Escavando achou uma pedra de moinho enterrada que dava entrada a um poço profundo.

Um garoto que desceu com uma vela e uma corda fez descobertas misteriosas: uma xícara quebrada, algumas joias, um crânio, ossos humanos e paredes gravadas, de cima a baixo, com figuras sem expressão facial.

Três séculos depois, a caverna de Royston continua sendo um dos lugares mais misteriosos do Reino Unido

Um jornalista da BBC desceu e encontrou para seu maravilhamento, suavemente iluminada pela luz cintilante, uma galeria de figuras grosseiramente escavadas, com rostos sem expressão, portando instrumentos de tortura.  E BBC (inglês)

O administrador da caverna, Nicky Paton, explica: “aquela é Santa Catarina, na roda de execução. Ela tinha apenas 18 anos quando foi martirizada”.

“E aquele é São Lourenço. Ele foi queimado até a morte sobre uma grelha.”

Outra imagem retratava uma pessoa segurando um crânio na mão direita e uma vela na esquerda, símbolo dos místicos que contemplam a transitoriedade da vida e o destino final do homem.

A caverna de Royston fica sob um importante cruzamento de caminhos medievais
A caverna de Royston fica sob um importante cruzamento de caminhos medievais
E, para tornar os entalhes ainda mais explícitos, havia uma execução rudimentar, quase infantil.

“O que torna a caverna tão curiosa para os visitantes e historiadores é que ela ainda é um enigma - quem a fez, quando e por quê”, afirma Paton.

“Não existe documentação sobre a sua existência antes daquela descoberta acidental. Nenhum livro, nenhum desenho, nenhum diário - nada que sugerisse que ela estava ali.”

Há teorias esotéricas que não merecem a atenção.

O fato é que a caverna fica abaixo do entroncamento de duas estradas históricas muito importantes: a via Icknield, que corre de Norfolk até Wiltshire; e a via Ermine, uma estrada romana que levava de Londres até York.

Uma grande lápide é tudo o que resta da cruz que marcava a junção das duas estradas, que recebeu o nome de Lady Roisia, uma nobre local, de quem Royston teria herdado o nome.

O antiquário William Stukeley visitou Royston dois meses depois da descoberta da caverna em 1742 e observou que essas cruzes eram comuns nos principais entroncamentos.

A lembrança dos Templários ainda que exagerada pela fantasia segue empolgando
A lembrança dos Templários
ainda que exagerada pela fantasia segue empolgando
Elas tinham o propósito de “relembrar as pessoas de fazer suas orações e guiá-las para o caminho a que elas queriam ir”.

Ermitões e santos varões construíam “celas e grutas em rochas, cavernas e ao lado das estradas”, guiando os viajantes e rezando por eles. Que diferença com nossa época!

Um grande entalhe que ilustra São Cristóvão, o santo padroeiro dos viajantes, sugere que a caverna servia a esta santa finalidade.

Mas suspeita-se que a caverna de Royston foi um esconderijo subterrâneo dos cavaleiros templários violentamente proibidos em 1307, quiçá fugindo da perseguição de bispos e reis ávidos de suas riquezas, falsas ou verdadeiras.

Os templários fundaram a cidade próxima de Baldock nos anos 1140 e documentos comprovam que comerciavam semanalmente no mercado de manteiga de Royston entre 1149 e 1254.

Os templários herdaram muitas terras doadas para financiar as Cruzadas e as exploravam. As rendas iam para a santa empresa de recuperar a Terra Santa.

“Uma capela templária provavelmente se tornou uma necessidade maior do que qualquer outra coisa”, escreveu a historiadora local Sylvia Beamon no seu livro Royston Cave: Used by Saints or Sinners? (A Caverna de Royston: usada por santos ou pecadores?, em tradução livre), publicado em 1992.

Beamon interpreta o formato circular da caverna como referência à Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém e sugeriu que os entalhes contêm símbolos da arte templária, como suas ilustrações dos símbolos do coração e do rei bíblico Davi.

A caverna foi pintada com cores brilhantes, mas muito pouco pigmento ainda permanece, e contaminado demais para datação científica.

Os restos humanos foram perdidos há muito tempo. E a maneira mais confiável de datar os entalhes é um exame estilístico, que foi conduzido em 2012 pelo Museu Real de Armas de Leeds, no Reino Unido.

O terço foi dado por Nossa Senhora em 1214 mas está associado ao espírito de Cruzada dos templários
O terço foi dado por Nossa Senhora em 1214
mas está associado ao espírito de Cruzada dos templários
A análise concluiu que as roupas curtas dos homens e os penteados e chapéus das mulheres indicam uma época entre 1360 e 1390. A imagem de São Cristóvão foi datada da mesma época.

É improvável que algum dos entalhes tenha sido feito antes de 1350, décadas depois da total eliminação dos templários.

A iconografia não tem o simbolismo típico dos templários, como ilustrações do Santo Sepulcro e da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, ou de dois cavaleiros cavalgando em um só cavalo.

Então, por que essa suposta conexão com os templários?

A professora Helen Nicholson, historiadora medieval e autora de diversos livros sobre os templários, explica porque “as pessoas na Inglaterra são fascinadas pelos templários desde que eles foram proibidos, no século 14”.

Os julgamentos dos templários incluíram acusações em geral não verdadeiras de cerimônias ocultas em lugares secretos subterrâneos.

Segundo Nicholson, “na verdade, foram inventadas porque as pessoas sofriam forte pressão dos inquisidores papais para confirmar as acusações.”

“De qualquer forma, essas histórias provavelmente são o motivo por que os entalhes da caverna de Royston [foram] atribuídos aos templários”, conclui a professora.

O que não quer dizer que a caverna de Royston não seja um grande mistério.

Em uma era em que a maioria dos mistérios é resolvida, a caverna de Royston traz mais perguntas do que respostas.

Em Caynton, perto de Shifnal, no condado de Shropshire (oeste da Inglaterra), há cavernas que teriam sido frequentadas por Cavaleiros Templários perseguidos, descreve outra reportagem da BBC.

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, conhecida como Cavaleiros Templários, é a ordem militar de Cavalaria que existiu dois séculos na Idade Média com o objetivo de proteger os cristãos que iam em peregrinação a Jerusalém após a sua conquista.

Seus membros faziam voto de pobreza e castidade para se tornarem monges, usavam mantos brancos com característica cruz vermelha, e seu símbolo era um cavalo montado por dois cavaleiros.

Como sua iniqua proibição e as horríveis torturas de que seus membros foram vítimas, inspiraram lendas que duram até hoje.

Os últimos templários encontraram proteção no Reino de Portugal onde fundaram fortalezas também lendárias e rodeadas de mistério. Por fim, o rei mudou a Ordem em Ordem de Cristo e foi essa que descobriu o Brasil, com as velas de suas naus pintadas com característica Cruz.

É tal vez esse o maior dos mistérios da Ordem dos Templários.

Mas, em muitas outras partes até hoje está viva a ideia de que os templários não morreram e de alguma forma voltarão para vingar o iniquo banimento pelo rei Felipe o Belo da França e do Papa que se dobrou para obedecer o rei revolucionário.

A caverna de Caynton acrescenta à lenda que ecoa por inúmeros locais de que os templários povoaram a história. Essa fica a menos de um metro abaixo do solo, está estruturalmente intocada, e não se sabe qual era seu propósito original.

O Historic England, órgão cultural ligado ao governo britânico, diz que elas provavelmente foram construídas no fim do século XVIII ou no início do século XIX, séculos após a dissolução da Ordem dos Templários.

O britânico Michael Scott foi fotografar as cavernas depois de ver um vídeo delas na internet e observou uma rede de passarelas e arcos esculpidos em arenito, assim como a uma fonte “em excelentes condições”.

Os templários, transmutados em Ordem de Cristo tomaram posse do Brasil para o rei de Portugal
Os templários, transmutados em Ordem de Cristo tomaram posse do Brasil para o rei de Portugal

As cavernas tiveram o acesso bloqueado em 2012 para evitar vandalismos e práticas de “magia negra”.

Os Templários eram uma ordem militar católica fundada no século XII para proteger os peregrinos nas perigosas rotas de Terra Santa.

Seus membros eram cavaleiros que viviam como monges, andavam fortemente armados, tinham privilégios canônicos e legais, e sua regra feita por São Bernardo tinha a aprovação da Igreja.

Por misterioso desígnio da Providência, injustamente proibidos os templários que puderam se refugiaram em Portugal. Ali mudaram em Ordem de Cristo e acabaram descobrindo o Brasil. E o Brasil, inicialmente lhes pertenceu.

Sua história não parece ter acabado.




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domingo, 12 de março de 2023

Famosa cerveja acaba por falta de monges

Cerveja trapista Achel desapareceu por falta de monges
Cerveja trapista Achel desapareceu por falta de monges
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A crise religiosa na Igreja no período pós-conciliar trouxe não só devastadores efeitos na vida monacal com o fechamento continuado de mosteiros e conventos masculinos e femininos no mundo inteiro.

Repercute também na cultura universal. Não só cessa ante Deus a indispensável oração e meditação na estrita observância de uma tradição medieval para aplacar a cólera divina pelos pecados cometidos pelos homens. 

Pecados que no século XXI se estão multiplicando e agravando com um furor sem igual na História.

O lento, mas constante desaparecimento dos últimos ascetas monacais também ameaça a sobrevivência de ofícios e produtos tradicionais. 

Trapista elaborando cerveja na abadia de Notre-Dame de Saint-Remy
Trapista elaborando cerveja na abadia de Notre-Dame de Saint-Remy
Caso típico aconteceu na Bélgica, onde a cultura da cerveja trapista é um emblema nacional reconhecido até pela a-religiosa UNESCO.

Na abadia belga de São Bento em Limburg, construída no século XI junto à fronteira holandesa e ocupada desde 1846 pela ordem beneditina, se produzia a cerveja Achel, uma das seis marcas na Bélgica certificadas como trapistas, da dez que existem no mundo.

Mas há quase três anos, o mosteiro perdeu seus últimos clérigos: os dois últimos frades já muito idosos tiveram que se mudaram para a irmã Westmalle Abbey, informou “Clarín”.

Não há vocações para entoar a liturgia monacal para atrair a misericórdia divina, e secundariamente para produzir sua excelente cerveja. 

Por fim, apareceu o empresário Jan Tormans que continuará fabricando a cerveja supostamente com a intenção é que o sabor e a fórmula não mudem.

Porém, quase ninguém pode acreditar nesse propósito industrial.

Monges selecionando cerveja na adega. Eduard Theodor Ritter von Grützner (1846 – 1925)
Monges selecionando cerveja na adega.
Eduard Theodor Ritter von Grützner (1846 – 1925)
Desde 2021, a Associação Trapista Internacional retirou o selo da cerveja tradicional pois leigos tinham alterado suas misturas e a ruptura com a tradição ficou mais concreta com a mudança de proprietário e a extinção do mosteiro.

A associação que reúne as abadias trapistas exige, para a atribuição da sua insígnia, que a produção de cerveja seja produzida na abadia, que seja controlada ou gerida por religiosos que observem a regra de São Bento ("Ora et labora") e que atribuam parte dos benefícios à caridade.

A Bélgica continua a liderar essa cerveja com cinco nomes (Chimay, Orval, Rochefort, Westmalle e Westvleteren). É a metade de um seleto grupo de países que inclui Holanda (Zundert), Áustria (Engelszell), França (La Trappe), Itália (Tre Fontane) e Reino Unido (Tynt Meadow).

A Associação Trapista Internacional é promovida pela abadia belga de Nossa Senhora de Scourmont, onde se fabrica o Chimay, para distinguir o saber-fazer dos monges na preparação de cervejas, queijos, licores ou chocolates.




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domingo, 5 de março de 2023

São Gregório VII: 2ª sentença de excomunhão contra o imperador revoltado Henrique IV

São Gregório VII
São Gregório VII
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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O imperador Henrique IV levantou-se contra o Papa São Gregório VII. O príncipe pretendia ter poder sobre o Papa com base em sofismas e uma capciosa interpretação das Escrituras.

Pretendia ainda, entre muitas coisas, ter poder para nomear bispos e destituí-los e até de depor o Sumo Pontífice.

São Gregório VII excomungou-o uma primeira vez. Sentido-se abandonado pelos seus, Henrique IV foi pedir a absolvição ao Papa que se encontrava a bom resguardo no castelo da condessa Matilde, na Toscana.

O imperador destituído passou três dias na neve, vestido de saco, implorando o perdão.

Porém, seu coração era falso e São Gregório VII percebia. A Corte pontifícia e até a própria condessa Matilde não perceberam e intercederam por ele. No fim, o santo Papa achou melhor suspender a excomunhão.

De volta, na Alemanha, o imperador recomeçou tudo. Em consequência, São Gregório VII renovou a condenação no Concílio Romano, em 7 de março de 1080.

Foi a segunda excomunhão formulada nos seguintes termos, onde brilha a santidade da Igreja e a heroica força de alma de um digno Vigário de Jesus Cristo:

Henrique IV pidiu perdão em Canosa. Não foi sincero.
“Ó São Pedro, chefe dos Apóstolos, e tu São Paulo, doutor das gentes, suplico-vos que presteis ouvidos e me escuteis com clemência; pois sois amantes discípulos da verdade, assisti-me para que eu Vos diga a verdade, limpa de qualquer mentira que Vós detestais, de maneira que meus irmãos melhor concordem comigo e saibam e compreendam que por confiança em Vós ‒ depois de Deus e de sua Mãe, Maria sempre Virgem ‒ eu resisto aos maus e aos iníquos...

“E posto que me ordenaste subir a um monte excelso para bradar em alta voz e apontar os pecados do povo de Deus as culpas dos filhos da Igreja, começaram a se insurgir contra mim os filhos do demônio, e premeditaram deitar a mão sobre mim até o sangue.

“Opuseram-se, com efeito, o rei da terra e os príncipes seculares e eclesiásticos, e ainda homens de corte e gente comum, uniram-se contra o Senhor e contra Vós, que sois seus ungidos, dizendo: ‘Rompamos seus grilhões e atiremos fora seu jugo’! E de mil maneiras tentaram lançar-se contra mim, para abater-me de vez com a morte ou com o exílio. (...)

“Confiante no juízo e na misericórdia de Deus e de sua Mãe piedosíssima, Maria sempre Virgem, e apoiando-me em vossa autoridade, excomungo e condeno ao anátema o mencionado Henrique, chamado rei, e a todos seus partidários.

Túmulo de São Gregório VII
“Pela segunda vez, nego-lhe, da parte de Deus onipotente e vossa, o reino da Alemanha e da Itália, e tiro-lhe todo poder e dignidade real; nenhum cristão lhe obedeça como a um rei; e desobrigo do juramento todos aqueles que lho fizeram ou lho farão relativamente ao reino. Em nenhum caso o mesmo Henrique com seus partidários possua forças e jamais em vida obtenha vitória. (...)

“Apreendam agora o rei e todos os príncipes temporais quão grande Vós sois, e quanto podeis. E tenham medo de considerar como coisa mesquinha a ordem de vossa Igreja.

“E executai logo a vossa sentença em relação ao dito Henrique, de modo que todos saibam que ele cairá, não por acaso, mas por vosso poder. Seja coberto de confusão até fazer penitência, para que deseje o céu e seu espírito seja salvo no dia do Senhor.”


(Fonte: CASPAR, Epistolae in usum scholarum, Monumenta Germaniae Historica, II, p.483).




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