Deus Criador, geómetra, Codex Vindobonensis 2554 |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na revista de número 01 da coleção sobre História da ciência da Scientific American, Rudolf Simek desmonta, com muitos documentos, que na Idade Média, com base na Bíblia, se acreditasse que a Terra era plana.
Essa difamação foi espalhada principalmente por muitos ateus de séculos passados e hoje é repetida por alguns desatualizados:
“A ideia de que antes da Renascença a Terra era considerada plana, ainda persiste, explicou o prof. Rudolf Simek.
“No entanto, a esfericidade do Planeta já era admitida na época medieval”
“[...] Em 1492, quando Martin Behaim fabricou o primeiro globo terrestre e o chamou de Erdapfel (“maçã terrestre”), ele se remeteu à tradição medieval. [...]
“O manual de astronomia mais conhecido nas universidades medievais era o Liber de Sphaera (“Tratado sobre a esfera”), escrito pelo inglês Jean de Sacrobosco, na primeira metade do século XIII.
“O autor tratava das bases da geometria e da astronomia, apresentando provas evidentes da esfericidade da Terra e de outros corpos celestes. [...]
De tal maneira que Santo Tomás de Aquino no início de sua magna obra “Suma Teológica”, recorre a essa posição aceita por todos.
E parte dela para fundamentar sobre um pressuposto inconteste a necessidade da ciência teológica, dizendo:
“a diversidade das ciências procede da diversidade de nossos meios de conhecimento.
“Assim o astrônomo e o físico demonstram a mesma proposição por exemplo, que a terra é redonda.
“Mas o astrônomo o prova por meio das matemáticas, quer dizer, com cálculos abstratos, enquanto que o físico se apoia em provas concretas, em fatos experimentais”.
(Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, I, q. 1 a. 1 ad 2)
O próprio Doutor Angélico comentou muito extensamente dezenas de livros de Aristóteles.
Nesses, o grande filósofo grego tratou, entre muitas outras coisas, da esfericidade da Terra e da ordem dos astros.
O Filósofo se deteve muito nas opiniões adversas, correntes entre outros filósofos da Grécia antiga, e pagãos em geral.
E as desfez meticulosamente uma por uma. E até com dados primários da observação.
Como é o caso do navio que se aproxima pelo mar: quando está longe se vê a ponta do mastro e quando se aproxima começa a se ver o mastro todo e por fim o casco da nau.
Bíblia, Toledo |
“Se a esfericidade da Terra ‒ e todas as suas consequências ‒ era uma ideia tão corrente na Idade Média, como foi possível chegar ao mito, que ainda persiste, que pretende que o homem medieval acreditava numa Terra plana? [...]
“A partir do século XVII, essas ideias foram consideradas ‒ por engano ‒ como típicas do pensamento monástico medieval.
“As correntes anticlericais da época das Luzes contribuíram para a propagação dessas interpretações errôneas, que visavam desmerecer uma Idade Média influenciada pela Igreja, pouco afeita às questões das ciências naturais e com uma visão de mundo limitada. [...]”
3 comentários:
Não conheço a fundo sobre Idade Média, como também não li o Liber de Sphaera do século XIII, no entanto tenho algumas observações. A palavra esfera não significa necessariamente um sólido redondo tridimensional, ela pode remeter apenas a uma superfície plana em forma de círculo (uma superfície curva, cujos pontos distam igualmente de um ponto interior). Ambas representações icônicas de Nosso Senhor Jesus Cristo a segurar a esfera terrestre mais se assemelha, pela forma em que a segura, ao segundo caso, uma superfície circular plana, embora sabemos que na representação medieval a perspectiva e relevo ainda não tinham o realismo renascentista, após Giotto. Porém para qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento a respeito da teoria da terra plana saberia que as representações (desenhos) contidas no interior das respectivas esferas seguradas por Nosso Senhor, com maior nitidez na primeira, remetem claramente à concepção da terra plana. Basta ver as possíveis representações do sol e da lua, em tamanhos parecidos, bem menor que a Terra, a circular sobre a mesma. E também o desenho em ambas fecha-se no próprio círculo, isto é, não se estende sobre a parte oculta visualmente, corroborando a ideia de uma esfera não tridimensional, mas bidimensional, como se vê por um espécie de contorno sobre a Terra, o que seria a borda da Terra (nessa visão da terra plana), uma extensa camada de gelo que não se poderia atravessar, a limitar o orbe. Atuais defensores da teoria da terra plana inclusive remetem essa borda da Terra à Antartida, que na verdade não seria um continente, mas a própria borda.
Ver por exemplo:
https://www.youtube.com/watch?v=cmhXRLdrwiQ
Também é muito importante como prova o que diz Tomás de Aquino no primeiro artigo da Suma Teológica, na segunda resposta às objeções iniciais: "Deve-se dizer que a diversidade de razões no conhecer determina a diversidade das ciências. Tanto o astrônomo como o físico chegam à mesma conclusão: TERRA É REDONDA. Mas o primeiro se utiliza de um raciocínio matemático, que prescinde da matéria; ao passo que o físico por um raciocínio que tem em conta a matéria". Ou seja, em meados do século XIII.
Otávio Grisante não se deixe levar pela superficialidade dos sentidos das palavras. A Idade Média tem um grande respeito por Aristóteles e as provas que os medievais conheceram provam a esfericidade da Terra e não meramente sua circularidade. O efeito de que à distancia vemos primeiro a ponta do mastro de um navio, ou ainda a inclinação dos raios solares ao meio dia nas diferentes latitudes: são efeitos da esfericidade da Terra. Assim a ideia de que a Terra é plana e redonda como uma pizza é refutado por essas provas.
Quando portanto encontramos fontes medievais mencionando tais provas é óbvio que devemos entender não circularidade, mas esfericidade.
Também não devemos interpretar a iconologia medieval e antiga literalmente. Os símbolos antigos carregam sempre uma característica multidimensionalidade. Não são modelos cosmológicos/científicos no sentido moderno, mas significam também a mentalidade metafísica, teológica e antropológica da época. Assim a centralidade da Terra em tais modelos reflete também a centralidade do homem no universo e sua primazia teológica.
Interessantemente embora saibamos que a física da Idade Média foi superada, em sentido antropológico e teológico a centralidade da Terra ainda é válida. De fato, a existência de vida inteligente na Terra é incontestável, porém a existência de vida fora da Terra é cientificamente bastante controversa. Não nenhuma prova científica de que haja vida fora do orbe terreno, mesmo bacteriana (ainda que encontramos bactérias flutuando bem alto na atmosfera, ainda assim é a Terra) e, os cientistas estimam que as chances de haver vida fora da Terra são bem pequenas.
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