domingo, 20 de agosto de 2023

A Idade Média achava que a Terra era plana?

Deus Criador, geómetra, Codex Vindobonensis 2554
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Na revista de número 01 da coleção sobre História da ciência da Scientific American, Rudolf Simek desmonta, com muitos documentos, que na Idade Média, com base na Bíblia, se acreditasse que a Terra era plana.

Essa difamação foi espalhada principalmente por muitos ateus de séculos passados e hoje é repetida por alguns desatualizados:

“A ideia de que antes da Renascença a Terra era considerada plana, ainda persiste, explicou o prof. Rudolf Simek.

“No entanto, a esfericidade do Planeta já era admitida na época medieval”

“[...] Em 1492, quando Martin Behaim fabricou o primeiro globo terrestre e o chamou de Erdapfel (“maçã terrestre”), ele se remeteu à tradição medieval. [...]

“O manual de astronomia mais conhecido nas universidades medievais era o Liber de Sphaera (“Tratado sobre a esfera”), escrito pelo inglês Jean de Sacrobosco, na primeira metade do século XIII.

“O autor tratava das bases da geometria e da astronomia, apresentando provas evidentes da esfericidade da Terra e de outros corpos celestes. [...]

A esfericidade da Terra era um dado banalmente como comum na Idade Média.

De tal maneira que Santo Tomás de Aquino no início de sua magna obra “Suma Teológica”, recorre a essa posição aceita por todos.

E parte dela para fundamentar sobre um pressuposto inconteste a necessidade da ciência teológica, dizendo:

“a diversidade das ciências procede da diversidade de nossos meios de conhecimento.

Assim o astrônomo e o físico demonstram a mesma proposição por exemplo, que a terra é redonda.

“Mas o astrônomo o prova por meio das matemáticas, quer dizer, com cálculos abstratos, enquanto que o físico se apoia em provas concretas, em fatos experimentais”.

(Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, I, q. 1 a. 1 ad 2)

O próprio Doutor Angélico comentou muito extensamente dezenas de livros de Aristóteles.

Nesses, o grande filósofo grego tratou, entre muitas outras coisas, da esfericidade da Terra e da ordem dos astros.

O Filósofo se deteve muito nas opiniões adversas, correntes entre outros filósofos da Grécia antiga, e pagãos em geral.

E as desfez meticulosamente uma por uma. E até com dados primários da observação.

Como é o caso do navio que se aproxima pelo mar: quando está longe se vê a ponta do mastro e quando se aproxima começa a se ver o mastro todo e por fim o casco da nau.



Bíblia, Toledo
“Se a esfericidade da Terra ‒ e todas as suas consequências ‒ era uma ideia tão corrente na Idade Média, como foi possível chegar ao mito, que ainda persiste, que pretende que o homem medieval acreditava numa Terra plana? [...]

“A partir do século XVII, essas ideias foram consideradas ‒ por engano ‒ como típicas do pensamento monástico medieval.

“As correntes anticlericais da época das Luzes contribuíram para a propagação dessas interpretações errôneas, que visavam desmerecer uma Idade Média influenciada pela Igreja, pouco afeita às questões das ciências naturais e com uma visão de mundo limitada. [...]”


(Fonte: A ciência na Idade Média, Scientific American História, p. 30 à 33)




AS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

3 comentários:

Otávio Grisante Barion disse...

Não conheço a fundo sobre Idade Média, como também não li o Liber de Sphaera do século XIII, no entanto tenho algumas observações. A palavra esfera não significa necessariamente um sólido redondo tridimensional, ela pode remeter apenas a uma superfície plana em forma de círculo (uma superfície curva, cujos pontos distam igualmente de um ponto interior). Ambas representações icônicas de Nosso Senhor Jesus Cristo a segurar a esfera terrestre mais se assemelha, pela forma em que a segura, ao segundo caso, uma superfície circular plana, embora sabemos que na representação medieval a perspectiva e relevo ainda não tinham o realismo renascentista, após Giotto. Porém para qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento a respeito da teoria da terra plana saberia que as representações (desenhos) contidas no interior das respectivas esferas seguradas por Nosso Senhor, com maior nitidez na primeira, remetem claramente à concepção da terra plana. Basta ver as possíveis representações do sol e da lua, em tamanhos parecidos, bem menor que a Terra, a circular sobre a mesma. E também o desenho em ambas fecha-se no próprio círculo, isto é, não se estende sobre a parte oculta visualmente, corroborando a ideia de uma esfera não tridimensional, mas bidimensional, como se vê por um espécie de contorno sobre a Terra, o que seria a borda da Terra (nessa visão da terra plana), uma extensa camada de gelo que não se poderia atravessar, a limitar o orbe. Atuais defensores da teoria da terra plana inclusive remetem essa borda da Terra à Antartida, que na verdade não seria um continente, mas a própria borda.
Ver por exemplo:
https://www.youtube.com/watch?v=cmhXRLdrwiQ

David disse...

Também é muito importante como prova o que diz Tomás de Aquino no primeiro artigo da Suma Teológica, na segunda resposta às objeções iniciais: "Deve-se dizer que a diversidade de razões no conhecer determina a diversidade das ciências. Tanto o astrônomo como o físico chegam à mesma conclusão: TERRA É REDONDA. Mas o primeiro se utiliza de um raciocínio matemático, que prescinde da matéria; ao passo que o físico por um raciocínio que tem em conta a matéria". Ou seja, em meados do século XIII.

Rodolpho Morethson disse...

Otávio Grisante não se deixe levar pela superficialidade dos sentidos das palavras. A Idade Média tem um grande respeito por Aristóteles e as provas que os medievais conheceram provam a esfericidade da Terra e não meramente sua circularidade. O efeito de que à distancia vemos primeiro a ponta do mastro de um navio, ou ainda a inclinação dos raios solares ao meio dia nas diferentes latitudes: são efeitos da esfericidade da Terra. Assim a ideia de que a Terra é plana e redonda como uma pizza é refutado por essas provas.

Quando portanto encontramos fontes medievais mencionando tais provas é óbvio que devemos entender não circularidade, mas esfericidade.

Também não devemos interpretar a iconologia medieval e antiga literalmente. Os símbolos antigos carregam sempre uma característica multidimensionalidade. Não são modelos cosmológicos/científicos no sentido moderno, mas significam também a mentalidade metafísica, teológica e antropológica da época. Assim a centralidade da Terra em tais modelos reflete também a centralidade do homem no universo e sua primazia teológica.

Interessantemente embora saibamos que a física da Idade Média foi superada, em sentido antropológico e teológico a centralidade da Terra ainda é válida. De fato, a existência de vida inteligente na Terra é incontestável, porém a existência de vida fora da Terra é cientificamente bastante controversa. Não nenhuma prova científica de que haja vida fora do orbe terreno, mesmo bacteriana (ainda que encontramos bactérias flutuando bem alto na atmosfera, ainda assim é a Terra) e, os cientistas estimam que as chances de haver vida fora da Terra são bem pequenas.

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