No dia da bênção dos novos sinos |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Uma multidão estimada em 30 mil pessoas pela polícia (que habitualmente minimaliza as manifestações católicas) lotou no Domingo de Páscoa a praça da catedral de Notre Dame e as ruas vizinhas, para ouvir a primeira reboada oficial dos novos sinos.
Nessa mesma data, 850 anos atrás, na presença do Papa Alexandre III, o bispo D. Maurício de Sully colocava a primeira pedra para a construção daquela grandiosa catedral dedicada a Nossa Senhora.
Os sinos originais foram destruídos barbaramente pela Revolução Francesa em 1792, com exceção de um, batizado com o nome “Emanuel”.
No século XIX, Napoleão III mandou preencher com sinos de menor qualidade e carentes de afinação o vazio, a ponto de os especialistas dizerem que se tratava do pior conjunto de sinos da Europa.
Por ocasião de sua bênção ritual os sinos recebem nomes que são gravados no seu bronze. O “Emanuel” foi doado há mais de 300 anos pelo rei Luis XIV e pesa 13 toneladas.
Embora se dispusessem do desenho dos sinos originais e das partituras dos carrilhões, quem os faria? Haveria ainda mestres que continuassem o antigo ofício nascido na Idade Média?
A maior dificuldade à existência de sinos provém da oposição de um falso miserabilismo e pseudo espírito de pobreza, em decorrência do qual as igrejas deixaram de tocar os sinos, símbolos de sua riqueza, de seu domínio e poder religioso.
Em alguns casos eles foram substituídos por gravações eletrônicas dessacralizantes e artificiais.
Neste terceiro milênio, após décadas de incansável pregação progressista contra a venerável imagem da Igreja hierárquica, rica e sacral, haveria alguém que quisesse financiar os novos sinos da catedral de Notre Dame?
Apesar de em princípio nenhuma objeção progressista ter consistência para o católico, décadas de propaganda do chamado “espírito pós-conciliar” espalharam uma atmosfera de descrença e respeito humano em relação a hábitos sacralizantes e louváveis como o toque de sinos.
Em Villedieu-les-Poèles, cidadezinha da Normandia, uma fundição tradicional — a Cornille Havard — ainda utilizava os velhos métodos de produção dos sinos, técnicas ancestrais que remontam à Idade Média e que poderiam dar vida a réplicas fiéis.
Quando se soube do projeto, um entusiasmo que raiava à loucura empolgou mestres e operários, segundo Paul Bergamo, presidente da fundição.
A emoção, a alegria e a veneração tomaram conta de Villedieu-les-Poèles quando um dos sinos, já sobre a carreta, foi tocado em homenagem aos fundidores. O veículo partiu em meio aos aplausos dos populares.
Por sua vez, a Fundição Real Eijsbouts, da Holanda, encarregou-se de fazer o bourdon (sino de tamanho excepcional), batizado “Marie”, cujos custos foram cobertos com doações de particulares.
A chegada dos novos sinos a Paris, no dia 31 de janeiro de 2013, foi uma apoteose. As autoridades montaram uma arquibancada para o povo que queria vê-los.
Na realidade, durante uma viagem de mais de 300 km, o transporte dos sinos deu origem a uma série de acontecimentos: na autoestrada, as pessoas aguardavam sua passagem de cima das pontes.
Notre Dame: Clique para ouvir os novos sinos. (23.03.2013) |
Eles só foram exibidos a partir da bênção solene, ocorrida no dia 2 de fevereiro.
Os sinos se fizeram ouvir pela primeira vez em 23 de março, véspera do Domingo de Ramos, ainda em fase de teste.
O primeiro toque oficial foi o “Grand Solemnel” no Domingo de Páscoa, diante de uma multidão emocionada e entusiasmada.
— “O som dos sinos simboliza a presença de Deus na cidade — comentou um parisiense —, porque seu som é como o próprio Deus: é a suma beleza”.
— “Com o som dos sinos é todo o Universo que se põe em movimento”, acrescentou uma senhora presente na catedral.
Arquibancada construída para o público |
— “A ideia foi recriar um conjunto de sinos tão magnífico quanto aquele que havia antes da Revolução Francesa”, declarou Paul Bergamo à “Deustche Welle”.
— “Os sinos são uma das vozes da catedral porque ecoam a glória de Deus”, acrescentou o reitor-arcipreste da catedral, Mons. Patrick Jacquin.
Segundo Mons. Jacquin, num período de três semanas após a bênção solene, entre 1.000.000 e 1.500.000 pessoas foram visitar, tocar e fazerem-se fotografar junto aos brilhantes sinos.
Continua no próximo post: Notre Dame restaurou sinos e ficaram intactos no incêndio - 2
Originais destruídos pela Revolução Francesa
(Não foram atingidos pelo incêndio de 15.04.2019)
2 comentários:
Lindo, alias maravilhoso, além da harmonia do toque dos sinos de Notre Dame, sinto o eco de explendor e majestade que ecoam nos badalos que demonstram a grandeza da Cristandade. Belissimo :D
Agradeço ao blog pela ótima notícia dos sinos. Tão europeu recuperar um bem cultural. E há um caráter simbólico, da restauração de bem que não poderia se extinguir. Talvez seja transcendental.
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