domingo, 4 de junho de 2023

Idade Média: era de grandes descobertas geográficas

Lenda irlandesa conta que São Brendano
e seus monges chegaram a América.
Colombo queria encontrar a "terra de São Brendano".
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




No domínio da exploração e dos conhecimentos geográficos, a atividade não foi menor.

É um erro, mais do que uma injustiça, fazer remontar apenas ao Renascimento a época das grandes viagens.

A descoberta da América fez esquecer que a curiosidade dos geógrafos e exploradores da Idade Média em relação ao Oriente não havia sido menor do que a dos seus sucessores em relação ao Ocidente.

Desde os primórdios do século XII, Benjamim de Toledo tinha ido até à Índia. Cerca de cem anos mais tarde, Odéric de Pordenone atingia o Tibete.

As viagens de Marco Polo, bem como outras menos conhecidas — as de Jean du Plan-Carpin, Guillaume de Rubruquis, André de Longjumeau, Jean de Béthencourt — bastam para dar ideia da atividade desenvolvida nessa época para a descoberta da Terra.

A Ásia e a África eram então infinitamente mais bem conhecidas do que o foram a seguir.

São Luís estabeleceu relações com o khan (imperador) dos mongóis e também com o Velho da Montanha, o terrível senhor da seita dos assassinos.

A viagem de Marco Polo (1254 – 1324) ficou célebre.
Desde 1329 era estabelecido em Colombo, no sul da Índia, um bispado que recebeu por titular o dominicano Jourdain Cathala de Séverac.

As cruzadas haviam sido, para o mundo ocidental, ocasião de estabelecer e manter contato com o Oriente Próximo.

Mas, na realidade as relações nunca haviam cessado completamente, alimentadas como eram pelos peregrinos e pelos mercadores.

Em direção à África, as explorações estenderam-se até à Abissínia e às margens do Níger, que foi alcançado no princípio do século XV por Anselmo Ysalguier, um burguês de Toulouse.

Seria certo que a América não foi visitada já desde essa época, se não mesmo “descoberta”?

É um fato certo que os vikings tinham atravessado o Atlântico Norte e estabelecido relações regulares com a Groenlândia.

Capela medieval na Groenlândia (reconstrução histórica)
Aí se estabeleceram islandeses, aí se instituiu um bispado, e em 1327 os groenlandeses respondiam ao apelo do papa João XXII à cruzada, enviando-lhe como participação nas despesas um carregamento de peles de focas e de dentes de morsas.

Não é impossível que a partir dessa época tenham explorado uma parte do Canadá e remontado o rio São Lourenço.

Ali, Jacques Cartier haveria de descobrir com estupor, alguns séculos mais tarde, que os índios faziam o sinal da cruz e declaravam que o tinham aprendido dos seus antepassados.

Nada disto é tão espantoso, se considerarmos que por intermédio dos árabes a Idade Média se encontrava em relações pelo menos indiretas com a Índia e a China, e se beneficiava igualmente dos seus conhecimentos astronômicos e geográficos.

Um planisfério datado de 1413, traçado por Mecia de Viladestet e conservado na Biblioteca Nacional da França, dá a nomenclatura e a situação exata das estradas e dos oásis saarianos, em toda a extensão do deserto e até Tombuctu.

Nesse imenso espaço, que até meados do século XIX iria permanecer em branco nos nossos mapas, um viajante da Idade Média podia preparar com precisão o seu itinerário e saber quais iriam ser as etapas do seu percurso do Atlas ao Níger.

Contato e comércio com culturas e regiões longínquas
Outras tantas causas atuaram diretamente sobre as relações da Europa com o Oriente, e por ricochete sobre as ciências geográficas: os desastres da Guerra dos Cem Anos, o cisma do Oriente, e mais tarde a ruptura com o Islã e as invasões turcas.

É preciso acrescentar que, ao contrário do que se crê, os sábios do Renascimento manifestam um espírito retrógrado em relação aos seus antecessores, ao transferirem a base dos seus estudos para as obras da Antiguidade.

A este respeito, ver o artigo muito pertinente e muito documentado de R.P. Lecler, La Géographie des humanistes, no primeiro número da revista Construire (1940).

Aristóteles e Ptolomeu tinham sido largamente ultrapassados neste domínio, e privar-se das lições da experiência para regressar às suas teorias era privar-se de todo um conjunto de aquisições pouco a pouco reconquistadas pela época moderna, prestando justiça, ainda neste ponto, à ciência medieval.


(autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)



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3 comentários:

Elias, O Profeta disse...

Idade média Idade da luz, mundo contemporâneo Idade das trevas

Erminea disse...

Viva Cristo Rei & Salve maria Imaculada!

Certa vez visitei este blog e encontrei , creio que era uma catedral, meio avermelhada e com constraste claro e escuros. Sabe onde posso encontrá-la?

Luis Dufaur disse...

Para Erminea:

As catedrais encontram-se clicando no icone CATEDRAIS no topo da página.

Meio avermelhadas há várias. A mais famosa de pedra avermelhadas é a de Estrasburgo. Mas no Norte da Alemanha há muitas, umas em pedra, outras em tijolo, outras pintadas.

É questão de identificar em "Catedrais medievais" aquela que Vc. viu e agora procura.

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