Um dos livros de onde a Tattersall Distilling tirou fórmulas medievais |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No centro da moderna cidade de Minneapolis, EUA, a destilaria Tattersall Distilling ganhou reputação por suas genebras, bitters e licores premiados.
Mas dentro de pouco poderá ser conhecida pelos seus produtos medievais, alguns dos quais vêm com nomes assustadores para os espíritos modernos como a “água contra a peste”, noticiou o “The New York Times”.
Se anuncia como uma mistura alcoólica na base de angélica, genciana e mais uma dúzia de ervas.
A “água contra a peste” foi famosa entre os boticários medievais como tónico para prevenir as doenças.
No milênio seguinte – o nosso – é um dos oito licores que a Tattersall ressuscitou em cooperação com a Universidade de Minnesota e o Instituto de Arte de Minneapolis.
A empresa apresentou as “novas” bebidas num evento em inícios de março.
A gastronomia medieval era natural. O oposto da comida industrializada sem sabor |
Simultaneamente um crescente número de historiadores indaga o que bebiam e comiam os medievais na vida quotidiana.
As iniciativas como a de Tattersall não são ingênuas nem românticas, elas pressupõem que há um público que as procura e retornará lucro.
Tattersall foi procurar as fórmulas nos enormes acervos da Biblioteca Histórica Wangensteen de Biologia e Medicina na Universidade de Minnesota.
Entre seus 72 mil volumes, alguns de 1430, há centenas de livros que descrevem com luxo de detalhes as propriedades curativas de raízes, ervas, sementes, metais e órgãos de animais.
Essas gigantescas acumulações de saber, geradas em mosteiros beneditinos ficaram ali ignoradas em tempos passados quando se dizia que a Idade Média foi a “era das Trevas”.
Monge faz misturas: modelo para alimentos originais, saudáveis, medicinais e saborosos |
A medicina medieval era natural.
Sabia como discernir, misturar e combinar os ingredientes em função das propriedades curativas, explicou Amy Stewart, autora de “The Drunken Botanist: The Plants That Create the World’s Great Drinks” (O botânico bêbado: As plantas que criam as grandes bebidas do mundo).
Os licores foram combinados com açúcar e outros ingredientes para gerar fórmulas famosas até hoje.
Com a industrialização “muitos licores incríveis caíram no esquecimento”, sublinhou Jon Kreidler, um dos fundadores da Tattersall.
Mas, agora “acreditamos que seria interessante não só falar dessas fórmulas nos salões históricos, mas também os oferecer para degustação”, disse Nicole LaBouff, curadora no instituto de arte.
O Chartreuse é ponto de referência |
E Tattersall está especializada em licores complicados e pouco conhecidos. Nasceu então a sociedade perfeita.
Vasculhando os velhos pergaminhos escolheram algumas dúzias de receitas para lhes dar nova vida.
Algumas eram simples como o ponche de leite, que já desfruta de um interessado renascimento nas cantinas.
Mas outros como a “água contra a peste” exigiram substitutos engenhosos, porque alguns ingredientes não estão mais disponíveis.
O moderno e anti-medieval “The New York Times” confessa que “surpreendentemente, os licores não estão mal”.
E dá como exemplo, o licor de nome mais espantoso: a própria “água contra a peste” que segundo o jornal “tem um sabor a ervas agradavelmente terroso”.
“Pensei, ‘água contra a peste’, como é que uma coisa dessas poderia ter bom sabor?”, disse Kreidler.
“Mas de fato tem o sabor de base para o chartreuse”, o delicioso licor que segundo alguns entendidos é o melhor do mundo concebido há séculos pelos monges de vida absolutamente isolada ao pé dos Alpes.
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