Catedral de Siena, Itália |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Diante da beleza, da sacralidade e da superioridade por exemplo, da catedral de Orvieto, pode-se perguntar como foi possível que as almas que geraram um estilo tão sublime foram ficando insensíveis a ele, e durante séculos deixaram de construir edifícios desse gênero.
Mais ainda: construíram incontáveis igrejas, mosteiros, abadias, edifícios públicos, residências particulares em estilo clássico, com o surradíssimo arco em semicírculo ou com a surradíssima linha reta dos pórticos clássicos.
Mas jamais, jamais, jamais o gótico. Ele ficou posto de lado durante séculos.
Por exemplo, o pintor Rafael representou anjos revelando incontestável talento, mas também uma falta de discernimento, de bom gosto em vários aspectos, de chocar.
Por que esse homem fez tantas representações angélicas que parecem ignorar completamente os anjos de Fra Angélico?
Tudo quanto a Idade Média nos deixou em matéria de anjos foi esquecido em proveito de figuras gorduchonas, gozadoras, nada combativas, nada diretivas, nada sacrais, que se punham nas igrejas com alguns ornatos característicos dos anjos.
Ruínas da abadia de Fountains, Grã Bretanha |
Por que procuraram se revolver no pó e no zero das ruínas clássicas arrancadas de baixo da terra, visando restaurar uma antiguidade que o Cristianismo havia derrubado?
A beleza dos monumentos da era clássica e da Renascença é inegável. Basta ver a própria Basílica de São Pedro.
Mas comparemos uma beleza com a outra!
O gótico foi sendo sepultado no esquecimento no período do Ancien Régime, na França. No período da arte barroca, da arte rococó, etc., ficou completamente posto de lado.
O Conselho de Estado de Luís XVI tinha decretado o arrasamento da Catedral de Notre-Dame, para fazer ali uma igreja em estilo grego, como se o gótico fosse indigno para a Catedral de Paris!...
Catedral de Milão: 10.000 agulhas góticas |
Entraram no cenário da História as figuras sinistras de Robespierre, de Danton e de Marat. Ouviram-se nos tímpanos da História os acentos criminosos do “Ça ira”, de “La carmagnole”, ou da “Marseillaise”, berrando contra a era “infame” do gótico.
Depois troaram os canhões de Napoleão e derrubaram a ordem na Europa inteira.
As destruições foram infindas, morreram-se aos milhões em nome da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade!
Mas depois da Revolução Francesa, por coincidência ou não, pela Europa inteira começou a renascer o gosto pelo gótico.
Nós assistimos à restauração de inúmeros monumentos góticos, os estudos góticos floresceram e novos edifícios em estilo gótico foram construídos.
Não só na Europa, mas nas Américas. Por exemplo, a Catedral de St. Patrick, em Nova York; a catedral Notre-Dame de Montreal, no Canadá; ou a Catedral de São Paulo.
Quantas igrejinhas ainda se encontram por aí com reminiscências góticas, em terras onde no tempo da Idade Média só havia tupiniquins!
Um estado de espírito renasceu num só sopro.
Depois das obras de destruição as mais assombrosas, no espírito humano uma clave mudou e as pessoas caíram entusiasmadas diante do gótico que as gerações anteriores tinham menosprezado e esquecido.
Precisamente durante os séculos em que o gótico esteve enterrado, São Tomás também foi sendo soterrado. O gótico era o tomismo em pedra, e o tomismo era o gótico escrito em pergaminho.
Altar-mor de São João de Latrão, Roma |
Como foi possível que os homens dessem as costas para a beleza e a verdade mais claras, melhor alicerçadas, formuladas com o maior cuidado e desenvolvidas com mais firmeza de argumentação?
Mas historicamente aconteceu.
Se isso não fosse possível, Nosso Senhor Jesus Cristo não poderia ter sido ignorado e depois crucificado.
Por quê? Diante do que é Nosso Senhor Jesus Cristo, o que é a beleza do gótico, o que é a firmeza da verdade que se mostra nos escritos de São Tomás? Nada é nada!
Entretanto, o homem pôde tomar diante d’Ele a atitude que tomou.
Certas construções em volta da Catedral de Orvieto têm o aspecto de coisa mesquinha, vil, depreciativa ou depreciada que pouco liga para a sublimidade da catedral.
A elas a catedral responde num diálogo mudo, como que dizendo:
“Vós me ignorais? Mais ainda eu vos ignoro! Se não me quereis olhar e não quereis reconhecer a minha beleza, ela aqui está de pé para vos julgar.
“Um dia prestareis conta ao Juiz Eterno deste estado de alma que está no fundo de vós.
“Quanto a mim, minha conversa é com o sol, com a lua e com Deus!”.
3 comentários:
Realmente estas igrejas são maravilhosas, quando estive na Duomo de Milão, ao subir no topo da Igreja fiquei encantada e imaginando a criatividade daqueles que idealizaram tais igrejas. Realmente parece que falta imaginação para tanto. muito bom este blog.
Dê uma espiada no meu - http://caminhos-da-aprendizagem2.blogspot.com.br
Depois de muito visitar o blog, resolvi escrever para parabenizá-los pelo excelente trabalho e agradecer por disponibilizar tão belo material. Márcio (Goiânia - GO).
Que maravilha, utilizar deste recurso, que é a internet para disseminar conhecimento e cultura.
Só não aprende quem não quer.
Parabéns pelo incansável trabalho !!
À proposito, Luis, vc é prof de historia ?
abs
Jurema
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