Santo Edmundo rei mártir, Wilton Diptych, National Gallery, Londres |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No livro “Os Santos Militares”, do General Silveira Mello (Dep. Imp. Nacional, 1953, 456pp.) encontramos uma síntese biográfica digna de destaque:
“Edmundo era filho de Opa, rei da Estânglia. É um dos pequenos reinos que compunha a Inglaterra primitiva - e nasceu por volta de 840 quando o cristianismo já estava disseminado nos estados ingleses.
“O rei, seu pai, homem de grande piedade, quando viu o filho com 15 anos, abdicou em seu favor e retirou-se para Roma a fim de consagrar seus últimos dias ao recolhimento e à oração.”
“Edmundo, que fora muito bem-educado na Religião Católica, tornou-se modelo de cristão para seu povo. Justo e bom, era homem de invulgar energia.
“Percebeu cedo o perigo que representava os escandinavos para seu país e preparou-se militarmente, assim como dispôs seu povo, para uma possível guerra.”
Naquele tempo, os escandinavos eram o grande perigo dos povos civilizados. Hoje tão pacíficos, foram no passado os tiranos dos mares.
Eles ocupavam a Escandinávia e iam descendo pela Europa e representavam a última leva das invasões bárbaras.
Alguns usavam o título de reis do mar, porque viviam em barcos fazendo pirataria de um lado e de outro, nuns barcos com umas proas lindas, de uma audácia e de uma arrogância de que a Suécia e Dinamarca perderam completamente o segredo.
Com a queda das proas, caiu tudo. Falam de “figuras de proa”; a gente poderia dizer que cada povo tem a proa que merece. E quando um povo já não tem mais coragem de ter proa é porque já não vale mais nada.
Eram, entretanto, os grandes inimigos e então preparar o povo contra essa invasão, era enfrentar o perigo por excelência.
“Não se enganou em suas previsões. Atacaram os dinamarqueses o Reino inglês.
“No primeiro combate foram duramente rechaçados, mas unindo esforços num grande número venceram a Santo Edmundo e o aprisionaram em Oxon.”
O rei santo enfrentou a primeira leva que atacou seu Reino desembarcada em vários pontos da Inglaterra.
“O chefe e adversário fez várias propostas de paz ao santo rei, que ele recusou por ser contra a Religião Católica e os direitos de seus súditos.
“Foi duramente supliciado e por fim decapitado. Foi martirizado a 20 de novembro de 870.
“Um Concílio nacional reunido em Oxford em 1122 tornou obrigatória a festa do mártir.
“Suas relíquias, inclusive um saltério que usava diariamente, foram venerados na Abadia de Cluny até o surto da heresia protestante.”
Acontece que o santo não queria ceder aos pagãos e favorecer o restabelecimento do paganismo naquele local. Ele resistiu, então e foi martirizado.
Os senhores veem a alta consciência que tinha esse homem - entretanto um filho de bárbaro - do papel de rei, de suas obrigações e das relações entre os assuntos políticos e religiosos.
Hoje se fala frequentemente em separação da política e da Religião... ao mesmo tempo que a Religião mais do que nunca intervém na política e que a política tem pânico de intervir na religião...
Naquele tempo, os senhores veem a noção que Santo Edmundo tinha. Sua queda, a implantação de uma dinastia de reis pagãos trariam a paganização do Estado e dos indivíduos.
Seria, portanto, a apostasia daqueles povos, a perdição das almas.
O nexo entre a vida política, a forma do Estado e a forma religiosa, como ele compreendia isso bem e como então se manteve fiel até o fim.
E apesar de ser maltratado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor, assim perseverou, sendo depois martirizado.
Por que razão queriam que renunciasse?
Naturalmente porque ele continuava a ter prestígio, senão sua renúncia não adiantaria de nada, era difícil consolidar a conquista enquanto não houvesse uma prova de que o Rei renunciara.
Talvez quisessem até levá-lo ao seu próprio reino para ele declarar aos seus súditos que tinha renunciado.
Se ele não quis fazê-lo, foi pela esperança de que seus súditos organizassem uma reação, uma espécie de guerrilha contra o ocupante para salvar a Fé.
Santo Edmundo regou, assim, com seu sangue a esperança de uma restauração católica.
Que lindo exemplo para os governantes modernos, seja para os civis, seja para os eclesiásticos.
O sangue desse rei valeu porque de fato a Inglaterra acabou se cristianizando inteira e até o protestantismo foi uma nação católica que durante algum tempo se chamou a “ilha dos santos”, tal foi o número de santos que lá floresceram.
Com esses dados devemos pedir a Nossa Senhora que proporcione muitos homens de Estado e muitos homens de Igreja que tenham esse espírito.
Porque enquanto os povos católicos, no campo temporal e sobretudo no espiritual, não são governados por homens dispostos a derramar seu sangue, não são dirigidos por quem preste.
Só governa bem quem está disposto a ir na fidelidade a seus princípios até o martírio, na fidelidade a seu cargo até o martírio, do contrário não vale de nada.
Assim como um militar que não está disposto a morrer é igual a zero, assim um bispo, um príncipe, um rei, um alto governante que não esteja disposto a morrer para o cumprimento de seu dever é igual a absolutamente zero.
Os altos cargos exigem a alta coragem. São os cargos pequenos que podem se acomodar com o valor moral normal.
Os grandes cargos exigem o grande espírito de dedicação, o grande sacrifício.
Os grandes cargos... Deus o que dá de mais alto a um homem é um cargo? O que vale mais: um cargo ou uma vocação? Não há situações em que uma vocação vale mais do que um cargo?
Pensemos no exemplo desse rei para termos sempre a deliberação de sermos fiéis até a morte, à vocação que a Providência chama a cada um.
Um comentário:
Rendo minha homenagem aos que multiplicam textos assim, pois é assim que conseguirem saír do atoleiro moral eu nos encontramos.
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