Pendão de Sevilha |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Os cavaleiros medievais “batizavam” suas espadas com nomes e até lhes reconheciam feitos prodigiosos que Deus operava por meio delas.
Durante séculos esta crença foi partilhada por nações inteiras e algumas dessas espadas sobreviveram às vicissitudes da história e são exibidas em museus como relíquias.
Figuram como motivo de orgulho em brasões e símbolos heráldicos de famílias, cidades e países.
A disputa pela inclusão da espada do rei São Fernando III de Castela no brasão da cidade de Sevilha suscitou uma aparatosa polêmica na Assembleia Municipal informou o jornal espanhol “ABC”.
Por fim, até o esquerdista PSOE votou em seu favor ao lado dos partidos conservadores PP e Ciudadanos, mas enfrentando uma enraivecida oposição das agrupações de esquerda e extrema-esquerda.
A 'Lobera' espada de São Fernando |
O furor do partido extremista Podemos se concentrou contra a presencia do Rei San Fernando, patrono da cidade, no centro segurando na mão em lugar do cetro a sua espada, símbolo que denegriam como “máxima expressão da violência e um apelo à conquista e à guerra”.
O escudo oficial de Sevilha agora exibe sobre esmalte vermelho ao rei entronizado com o famoso gládio chamado “Lobera” tendo à sua direita e esquerda dois bispos, além do manto real, a coroa e o lema da cidade.
Em 1248 São Fernando III de Castela reconquistou a cidade invadida pelos mouros e os bispos São Leandro e São Isidoro, brilharam no período visigodo.
A espada de São Fernando III é especialmente odiada porque o rei santo usou para conquistar Córdoba, Jaén, e para assaltar desde terra e água, Sevilha e as cidadelas que a rodeavam, todas muçulmanas.
Em 23 de novembro de 1248, o emir sevilhano Axataf se rendeu a São Fernando que portava a “Lobera” e instalou sua corte em Sevilha até morrer.
Procissão na catedral de Sevilha aberta pela 'Lobera' |
Segundo o bispo de Pamplona Prudencio de Sandoval, o Santo Rei levou consigo a espada do herói e o pendão do conde para a campanha por Sevilha “confiado de que por esses meios Deus lhe entregaria a cidade e lhe daria a vitória contra os mouros”.
Após a tomada de Sevilha, essa espada virou o símbolo do poder de Fernando III, e assim aparecia em muitos gravados segurando na mão a “Lobera” em lugar do cetro.
Seu sucessor Affonso X ordenou em 1255, que cada 23 de novembro a toma de Sevilha fosse comemorada com uma procissão solene precedida com todas as honras pela “Lobera”.
São Fernando III, catedral de Sevilha |
O Infante e escritor Don Juan Manuel, neto do Rei Santo, deixou consignado em seu “Libro de los ejemplos del conde Lucanor y de Patronio”, escrito entre 1330 e 1335, que São Fernando III entregou a espada a seu filho o Infante Don Manuel, padre do escritor, dizendo:
“Não tenho nada para vos dar em herança, mas eu vos dou minha espada Lobera, que é coisa de muito grande virtude com a qual Deus me fez muito bem”.
De fato, em 29 de agosto de 1326, o Infante Don Manuel, o escritor, derrotou às tropas muçulmanas do Reino de Granada na batalha de Guadalhorce, onde perderam a vida por volta de 3.000 infiéis e 80 castelhanos.
Na “Grande Crónica”, Affonso XI o Sábio relata que armado com a espada, fez uma carga que salvou o exército cristão da derrota quando sua retaguarda se estava derrubando perigosamente.
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