Othon I com o Papa João XII |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Othon I restaurador do Sacro Império
A noção do Sacro Império Romano Alemão se nos apresenta de um modo feudal. É o conglomerado de reinos que estão debaixo da dependência do imperador sagrado pelo Papa. Assim como temos o rei acima dos duques, acabamos tendo o imperador acima dos reis.
Othon era imperador e rei. Mas juridicamente e teoricamente alguém podia ser imperador sem ser rei.
Sobre este Império pairou desde logo uma ambigüidade. Essa ambigüidade deu origem a polêmicas, a discussões em que os espíritos se rebelavam muito.
Primeiro problema: o Sacro Império abrangia só os povos de nação alemã? Seu título faz pensar nisto, mas o próprio título traz uma contradição: romano. Se é romano não se pode dizer que seja da nação alemã.
Segundo problema: a abranger povos não germânicos quais eram esses povos? Eram apenas povos vizinhos que tivessem sido conquistados ou toda a cristandade estava sujeita naturalmente ao Sacro Império?
Esta questão também era discutida. E o curioso é que ela era discutida entre os povos não alemães e discutida entre os alemães.
Entre os alemães porque havia Alemães nacionalistas que entendiam que a pertencença de elementos não germânicos dentro do Império diminuía a plena propriedade que os alemães tinham do Império e que o Império era um mecanismo alemão para a Alemanha.
Os outros se consideravam expulsos. Nos outros povos era a tendência à independência, ao nacionalismo que conhecemos.
Em Lechfeld, Othon I salvou a Cristandade dos húngaros ainda pagãos |
O imperador, quando se encontrava com qualquer rei tinha precedência sobre todos os reis.
Os príncipes da casa imperial tinham precedência sobre os outros príncipes. A dignidade de príncipe do Império era uma dignidade maior que a de qualquer outro príncipe.
A França, sem reconhecer juridicamente a supremacia do Sacro Império, nesse tempo, funcionava como um verdadeiro protetorado do Sacro Império.
Até a queda de Dom João•VI, certos funcionários do Sacro Império Romano Alemão tinham, em Portugal, as mesmas prerrogativas dos funcionários portugueses. Isto é expressão de uma certa jurisdição.
A ideia de Othon I era restaurar o Império de Carlos Magno que, segundo a concepção antiga, existia quase que de direito natural.
A ideia da existência de um Império Romano que se não existia, devia existir, e que a qualquer momento podia ser restaurado, era uma coisa que já vinha do tempo dos bárbaros.
De maneira que quando Othon I, com a aprovação do Papa, que era o poder competente para dispor sobre o Império, segundo a concepção vigente, declarou a coisa restaurada, reputou-se que ele estava investido em toda a dignidade de imperador.
O Sacro Império (em azul) no fim do reinado de Othon I |
Othon I, coroado imperador, continuou a luta contra os pagãos. Foi ele que fundou Magdeburgo, instituiu ali um bispado, fundou o bispado de Praga.
Em relação aos eslavos teve a política de conversão pela força, não muito legítima, mas muito eficiente, seguida por Carlos Magno.
Apesar disto, há um fato lamentável. As relações entre os imperadores e os papas tendiam a envenenar-se facilmente.
Em 963, depois de desentendimentos sérios, ele invade a Itália e depõe o Papa João XII, que ele considerava muito independente e cria um anti-papa chamado Leão VIII que ficou exercendo as funções de 963 a 965. Os romanos não satisfeitos com aquilo, em 964 elegem Bento V Papa. Othon o depõe e restaura Leão VIII.
Depois disto ele se desgosta de Leão VIII e levanta outro papa, João XIII. Este João•XIII parece que foi um Papa legítimo e governou de 965 a 972.
Outra démêlé muito forte dele foi com os bizantinos. Os bizantinos eram portadores da coroa imperial e eles não podiam se contentar com o fato de que a dignidade imperial do Ocidente fosse usada por gente nova, semi-bárbara, como eram os germanos. Quando viram restaurada a dignidade imperial, protestaram.
O túmulo de Othon I, hoje, em Magdeburgo, Alemanha |
Mas a coisa se aclimatou bem, porque Othon, vendo o desdém dos bizantinos por ele, aborreceu-se e atacou a Itália do Sul. Ele precisava proteger a Itália do Sul contra a investida árabe e ele queria se vingar do desdém dos bizantinos.
Nesta situação, os bizantinos, sentindo que não podiam defender a Itália do Sul, reconheceram o Império e houve o casamento de um filho de Othon com uma princesa bizantina em 972, na igreja de São Pedro, em Roma.
Em 973, Othon I morreu de modo repentino e foi sepultado em Magdeburgo.
Durante seu reinado houve um grande florescimento das Letras, uma espécie de “renascença carolíngia”.
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