domingo, 12 de setembro de 2021

Othon I e os problemas no Sacro Império derivados das diversidades étnicas

Othon I com o Papa João XII
Othon I com o Papa João XII
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









continuação do post anterior: Othon I restaurador do Sacro Império



A noção do Sacro Império Romano Alemão se nos apresenta de um modo feudal. É o conglomerado de reinos que estão debaixo da dependência do imperador sagrado pelo Papa. Assim como temos o rei acima dos duques, acabamos tendo o imperador acima dos reis.

Othon era imperador e rei. Mas juridicamente e teoricamente alguém podia ser imperador sem ser rei.

Sobre este Império pairou desde logo uma ambigüidade. Essa ambigüidade deu origem a polêmicas, a discussões em que os espíritos se rebelavam muito.

Primeiro problema: o Sacro Império abrangia só os povos de nação alemã? Seu título faz pensar nisto, mas o próprio título traz uma contradição: romano. Se é romano não se pode dizer que seja da nação alemã.



Segundo problema: a abranger povos não germânicos quais eram esses povos? Eram apenas povos vizinhos que tivessem sido conquistados ou toda a cristandade estava sujeita naturalmente ao Sacro Império?

Esta questão também era discutida. E o curioso é que ela era discutida entre os povos não alemães e discutida entre os alemães. 

Entre os alemães porque havia Alemães nacionalistas que entendiam que a pertencença de elementos não germânicos dentro do Império diminuía a plena propriedade que os alemães tinham do Império e que o Império era um mecanismo alemão para a Alemanha.

Os outros se consideravam expulsos. Nos outros povos era a tendência à independência, ao nacionalismo que conhecemos.

Em Lechfeld, Othon I salvou a Cristandade dos húngaros ainda pagãos
Em Lechfeld, Othon I salvou a Cristandade dos húngaros ainda pagãos
Entretanto, o fato concreto é que foi tão grande o poder dos imperadores que eles, a partir da constituição em 962, do Sacro Império Romano Alemão, os embaixadores dos imperadores tiveram precedência sobre os embaixadores de todos os reis.

O imperador, quando se encontrava com qualquer rei tinha precedência sobre todos os reis.

Os príncipes da casa imperial tinham precedência sobre os outros príncipes. A dignidade de príncipe do Império era uma dignidade maior que a de qualquer outro príncipe.

A França, sem reconhecer juridicamente a supremacia do Sacro Império, nesse tempo, funcionava como um verdadeiro protetorado do Sacro Império.

Até a queda de Dom João•VI, certos funcionários do Sacro Império Romano Alemão tinham, em Portugal, as mesmas prerrogativas dos funcionários portugueses. Isto é expressão de uma certa jurisdição.

A ideia de Othon I era restaurar o Império de Carlos Magno que, segundo a concepção antiga, existia quase que de direito natural.

A ideia da existência de um Império Romano que se não existia, devia existir, e que a qualquer momento podia ser restaurado, era uma coisa que já vinha do tempo dos bárbaros.

De maneira que quando Othon I, com a aprovação do Papa, que era o poder competente para dispor sobre o Império, segundo a concepção vigente, declarou a coisa restaurada, reputou-se que ele estava investido em toda a dignidade de imperador.

O Sacro Império (em azul) no fim do reinado de Othon I
O Sacro Império (em azul) no fim do reinado de Othon I
Luiz, o Piedoso, quando consentiu na divisão do Império, ele conservou para si a dignidade de imperador e deu três reinos para cada filho. E depois disso houve durante algum tempo a dignidade de imperador acima dos reis. Então entendeu-se que estava perpetuada essa situação.

Othon I, coroado imperador, continuou a luta contra os pagãos. Foi ele que fundou Magdeburgo, instituiu ali um bispado, fundou o bispado de Praga.

Em relação aos eslavos teve a política de conversão pela força, não muito legítima, mas muito eficiente, seguida por Carlos Magno.

Apesar disto, há um fato lamentável. As relações entre os imperadores e os papas tendiam a envenenar-se facilmente.

Em 963, depois de desentendimentos sérios, ele invade a Itália e depõe o Papa João XII, que ele considerava muito independente e cria um anti-papa chamado Leão VIII que ficou exercendo as funções de 963 a 965. Os romanos não satisfeitos com aquilo, em 964 elegem Bento V Papa. Othon o depõe e restaura Leão VIII.

Depois disto ele se desgosta de Leão VIII e levanta outro papa, João XIII. Este João•XIII parece que foi um Papa legítimo e governou de 965 a 972.

Outra démêlé muito forte dele foi com os bizantinos. Os bizantinos eram portadores da coroa imperial e eles não podiam se contentar com o fato de que a dignidade imperial do Ocidente fosse usada por gente nova, semi-bárbara, como eram os germanos. Quando viram restaurada a dignidade imperial, protestaram.
O túmulo de Othon I, hoje, em Magdeburgo, Alemanha
O túmulo de Othon I, hoje, em Magdeburgo, Alemanha

Mas a coisa se aclimatou bem, porque Othon, vendo o desdém dos bizantinos por ele, aborreceu-se e atacou a Itália do Sul. Ele precisava proteger a Itália do Sul contra a investida árabe e ele queria se vingar do desdém dos bizantinos.

Nesta situação, os bizantinos, sentindo que não podiam defender a Itália do Sul, reconheceram o Império e houve o casamento de um filho de Othon com uma princesa bizantina em 972, na igreja de São Pedro, em Roma.

Em 973, Othon I morreu de modo repentino e foi sepultado em Magdeburgo.

Durante seu reinado houve um grande florescimento das Letras, uma espécie de “renascença carolíngia”.




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