domingo, 13 de fevereiro de 2022

A benção medieval e
os 70 anos de Elizabeth II no trono do Reino Unido

Elizabeth II numa festa da coroação
Elizabeth II numa festa da coroação
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





O governante mais prestigiado do mundo completou 70 anos de reinado com índices de popularidade em volta de 90% no dia 6 de fevereiro [2022]: foi a rainha Elizabeth II ostentando uma coroa que vem desde a Idade Média.

Além de ser a mais antiga monarca reinante da história inglesa teve o casamento mais duradouro e fiel nos séculos de existência da realeza britânica.

Nunca antes tantos espectadores – estimados 300 milhões mundo afora, e até um bilhão pelo casamento de seu filho o príncipe Charles – acompanharam algumas das cerimônias de seu pomposo e equilibrado reinado.

Com mais dois anos, a rainha superará o reinado francês de Luís XIV, apelidado de “Rei Sol” pelo seu prestígio, que ocupou o trono do reino da França e Navarra por 72 anos e 110 dias, desde adolescente em 1643 até seu falecimento em 1715.

E Elisabeth II faz questão de esclarecer que ela não renunciará por idade ou saúde, como infelizmente fizeram outros monarcas em situações como a que ela pode enfrentar.

A rainha tem à sua disposição a mais deslumbrante e simbólica coleção de joias e coroas do mundo que usa para as grandes cerimônias segundo prescreve um cerimonial multissecular.

Mas na vida cotidiana não tem condescendência com a vulgaridade das modas modernas, usando sempre vestidos e chapéus elegantes, roupas desenhadas pelos antigos costureiros da corte real e meticulosamente adequadas a cada ocasião: nada é deixado ao acaso.

Além dos colares e joias que correspondem a uma tão distinta dama em cada ocasião.

Seu vestuário conserva um gosto inabalável há 70 anos obrigando os outros a se apresentarem na altura.

Mas os súditos são sempre recebidos com um sorriso cálido, um aceno amigável que faz explodir de agrado o gáudio popular nas ocasiões públicas, como nas festas de seu aniversário, todo início de junho.

Elisabeth II partilha o bolo dos 70 anos de reinado com uma determinação que pasma a seus mais íntimos
Elisabeth II partilha o bolo dos 70 anos de reinado
com uma determinação que pasma a seus mais íntimos
As celebrações pomposas, incluído o solene desfile militar Trooping the Colour acontecerá como é tradição no dia 2 de junho, mas a rainha para esta ocasião partiu um esplêndido bolo com seus familiares e seus auxiliares e empregados mais íntimos.

Elizabeth, quando ainda só tinha 25 anos e apenas casada, recebeu a dolorosa notícia da morte de seu pai o rei George VI, durante uma visita protocolar no Quênia.

Vigorou como na Idade Média o princípio “O rei morreu, viva o rei!” Neste caso a rainha. A transição é instantânea.

A pomposa cerimonia de coroação aconteceu em 2 de junho de 1953, em grande cerimônia na Abadia de Westminster:

O arcebispo, infelizmente herético, pronunciou a fórmula tradicional: “Elizabeth II, pela graça de Deus, rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de seus outros Reinos e Territórios, chefe da Commonwealth, defensora da fé” enquanto colocava sobre sua cabeça a maravilhosa coroa real.

A jovem rainha Elizabeth II retorno para o enterro do pai em 1952.
A jovem rainha Elizabeth II retorno para o enterro do pai em 1952.
Emociona ainda ver a foto em preto e branco da delicada rainha descendo a escalinata do avião em Londres enquanto ao pé dela formam fileira todos os ministros vestidos de preto, que ressalvada sua dignidade de função e pessoal, evocam um grupo de urubus apinhados no galho.

Quem teria dito nesse dia que a frágil rainha haveria de se manter sete décadas completas à testa de um vasto leque de países em todos os continentes, num período que viu o colapso do Império Britânico, a Guerra Fria e, mais recentemente, o Brexit e a pandemia do coronavírus!

Ao todo, por protocolo deu o placet a 14 novos primeiros-ministros, chefes executivos de governo, no Palácio de Buckingham, das mais variegadas formações políticas, como Winston Churchill, Margaret Thatcher e o atual Boris Johnson. Todos passaram, subiram e caíram e a rainha ficou impertérrita no trono

Também sofreu dramáticas crises familiares, como as que provocou sua irmã Margaret com casamentos errados e o primeiro divórcio na família real britânica em mais de 400 anos.

Veio depois a grande decepção que se seguiu ao prestigiosíssimo casamento de seu primogênito o príncipe Charles com Lady Diana em 1981 (que morreu num acidente de carro em Paris, já divorciada).

Todos os outros filhos, exceto o mais novo Edward, atualmente alvejado por escândalos, divorciaram-se.

O mais novo de seus netos, o nascido príncipe Harry, renunciou à realeza e vive alimentando escândalos para a mídia ávida deles desde o “casamento” com a atriz americana Meghan Markle.

Elisabeth II não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina
Elisabeth II não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina
Tudo conspirou e segue conspirando contra a rainha Elizabeth, mas ela não arreda cumprindo seus deveres com dignidade e disciplina.

Corajosamente, na sacada do palácio de Buckingham; nas incontáveis sessões ou visitas prescritas pelo protocolo quase todo dia; sentada sozinha no trono réplica do de Santo Eduardo III o Confessor, sob um baldaquino de ouro na Sala dos Lordes, ela sorri para todos e os empolga.

Como se explica isso, sobre tudo considerando os incontáveis governos e regimes que nesses 70 anos foram caindo, por vezes do modo mais calamitoso, no mundo todo, hoje sumidos no esquecimento ou na desgraça popular?

É um charme herdado da Idade Média que atravessou episódios dos mais obscuros da história.

Um charme ao qual a coroa inglesa – que mesmo não sendo católica como na origem, mas protestante anglicana! – impregna as instituições medievais nascidas sob a benção da Igreja Católica, regada com o sangue de santos e mártires, e que nenhuma invenção política humana consegue transmitir.


VÍDEO 70 anos gloriosos perfumados pela Idade Média CLIQUE NA FOTO

domingo, 30 de janeiro de 2022

A Batalha de Hastings, marco na história inglesa com imponderável de Cruzada (2)

William of Malmesbury
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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continuação do post: A Batalha de Hastings, marco na história inglesa com imponderável de Cruzada (1)




Em post anterior, reproduzimos a famosa descrição da batalha de Hastings feita por Guilherme de Malmesbury (c. 1095/96 – c. 1143, foto ao lado).

Neste segundo post, reproduzimos as análises dos pródromos religiosos e sociais do conflito e as conseqüências positivas da vitória de Guilherme de Normandia para a história da Inglaterra, segundo o mesmo historiador.

Inglaterra, a “Ilha dos Santos”

Havia muito que a Inglaterra adotara os costumes dos anglos, e de fato os havia alterado com o tempo, pois nos primeiros anos de sua chegada, eles foram bárbaros na aparência e nos modos, bélicos em seus costumes e pagãos em suas leis.

Depois de abraçar a fé de Cristo, em consequência da paz de que gozavam, relegaram a força bruta a um segundo plano e aplicaram toda sua atenção na religião.

Falo dos príncipes que, na grandeza de seu poder, tinham toda a liberdade para se jogarem nos prazeres. Contudo alguns deles, no seu próprio país e outros em Roma, mudaram seus hábitos e instalaram um reino celestial e um relacionamento santo.

Muitos outros se dedicaram durante toda a vida aos assuntos terrenos, para encher seus tesouros e esgotá-los com os pobres ou dividi-los entre os mosteiros.

O que posso dizer da multidão de bispos, eremitas e abades?

Não está a ilha toda repleta de tão numerosas relíquias de santos de seu próprio povo que mal se pode passar por uma aldeia de qualquer relevância sem ouvir o nome de algum novo santo? E de quantos outros a lembrança pereceu pela falta de registros?

Decadência da Inglaterra

Infelizmente, vários anos antes da chegada dos normandos, o interesse pelo estudo e pela religião tinha diminuído gradualmente. O clero, contente com um pouco de aprendizado confuso, mal conseguia balbuciar as palavras dos sacramentos, e uma pessoa que sabia a gramática era objeto de admiração e espanto.

Os monges ridicularizavam a regra de sua ordem, o uso de vestes finas e a utilização de certos tipos de alimento.

A nobreza, dada ao luxo e à libertinagem, não ia à igreja pela manhã, à maneira dos cristãos, mas apenas, de uma forma descuidada, ouvia as matinas e as missas de um padre, mudando incessantemente de leitos entre as seduções de suas esposas.

A plebe, desprotegida, tornou-se presa dos mais poderosos, que acumulavam fortunas apropriando-se das propriedades ou vendendo seus donos em países estrangeiros, embora a característica deste povo o incline mais à orgia do que à acumulação de riquezas.

Beber em festas era uma prática universal que enchia dias e noites inteiras. Eles consumiam todos os seus bens em casas medíocres e desprezíveis, ao contrário dos normandos e franceses, que vivem frugalmente em mansões nobres e esplêndidas.

Os vícios ligados à embriaguez debilitam a mente humana. Foi por isso que eles se engajaram contra Guilherme com mais imprudência, precipitação e fúria que habilidade militar, condenando seu país à escravidão por uma única e simples derrota. Pois nada é menos eficaz do que temeridade; ela começa com violência, rapidamente cessa e é repelida.

Costumes dos anglo-saxões

Os ingleses usavam naquela época roupas curtas, tinham o cabelo cortado, a barba raspada, os braços carregados de braceletes de ouro e a pele adornada com tatuagens.

Eles estavam acostumados a comer até se fartarem e a beber até ficarem doentes. Eu não atribuo essas propensões ao inglês em geral, pois bem sei que muitos do clero trilharam o caminho da santidade de uma vida irrepreensível, e muitos leigos de todas as classes e condições foram bem agradáveis a Deus.

Castelo de Ô, Normandia

Esteja a injustiça longe desse relato, pois a acusação não envolve o todo indiscriminadamente. Mas, da mesma maneira que a misericórdia de Deus trata bem os maus e os bons em seu conjunto, assim igualmente a severidade divina os pune com o cativeiro em seu conjunto.

Costumes dos normandos

Os normandos naquela época, e mesmo agora, tomavam cuidado muito especial com a vestimenta, eram exigentes na alimentação, mas não excessivos.

Eles são uma raça acostumada à guerra, e dificilmente podem viver sem ela, apressando-se ferozmente contra o inimigo. E, onde a força não lhes dá o sucesso, estão prontos para usar estratagemas ou corromper pelo suborno.

Eles moram, como eu disse, em casas espaçosas com economia, imitam a seus superiores hierárquicos, querem superar seus iguais e saquear seus súditos apesar de defendê-los dos outros, pois eles são fiéis a seus senhores. Ponderam a traição pela chance de sucesso e mudam seus sentimentos por dinheiro.

Os normandos formam a mais hospitaleira de todas as nações. Eles consideram os estrangeiros dignos de honras iguais às deles. Eles também se casam com seus vassalos.

Com Guilherme rei começou uma regeneraçãao religiosa da Inglaterra.
O gótico desenvolveu-se muito
Efeitos benéficos da vitória dos normandos para a Igreja e para a Inglaterra

Chegando à Inglaterra eles restauraram o papel da religião, que tinha ficado sem vida em todos os lugares.

Podem-se ver igrejas surgirem em todas as aldeias, e mosteiros nas vilas e cidades, construídos num estilo nunca antes conhecido (o gótico).

Pode-se ver o país florescente, com costumes renovados, de modo que cada homem rico julgava perdido o dia caso deixasse de fazer alguma generosa ação caritativa.

Fim

(Original: William of Malmesbury (+ 1143?); “The Battle of Hastings, 1066”. O texto foi resumido em algumas partes para caber nos posts. Texto completo em: Medieval Sourcebook. From: James Harvey Robinson, ed., Readings in European History, 2 Vols. (Boston: Ginn & Co., 1904-06), Vol. I: From the Breaking up of the Roman Empire to the Protestant Revolt, pp. 224-229. Scanned in and modernized by Dr. Jerome S. Arkenberg, Dept. of History, California State - Fullerton).

Re-encenação da batalha de Hastings






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domingo, 23 de janeiro de 2022

A Batalha de Hastings, marco na história inglesa com imponderável de Cruzada (1)

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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No Ano do Senhor de 1066, perto da abadia de Hastings, Inglaterra, deu-se um dos acontecimentos que mais marcaram a história medieval. E que ainda continua marcando o presente. Veja fotos da re-encenação da batalha, e ainda mais AQUI.

Guilherme, o Conquistador, duque de Normandia, venceu o príncipe anglo-saxão Haroldo, tornando-se Rei da Inglaterra. Os leões da Normandia são até hoje símbolo da monarquia inglesa.

A luta pela sucessão após a morte do rei Santo Eduardo, o Confessor, fora difícil. Pelo costume inglês da época, o rei agonizante dava a conhecer o nome daquele que deveria lhe suceder. A escolha de Santo Eduardo era indubitável: o duque Guilherme. O rei doente o fez assim saber mais de uma vez.

Porém, Santo Eduardo veio a falecer enquanto Guilherme cuidava de seus feudos na sua Normandia natal, na França, do outro lado do Canal da Mancha.

Prevalecendo-se dessa ausência, o cobiçoso Haroldo declarou que o santo rei agonizante escolhera a ele, aduzindo o falso testemunho de alguns cúmplices.

Para o duque Guilherme a posse do trono inglês só poderia então ser feita pela força. Contudo, a travessia do Canal da Mancha por um exército se apresentava como arriscada demais. E Guilherme hesitou.

Não hesitou, entretanto, o Papa São Gregório VII , que via no duque da Normandia uma esperança para a Cristandade em perigo e uma esperança para comandar as Cruzadas para recuperar Terra Santa. O Santo Padre incitou-o a tomar o trono que lhe pertencia e, em sinal de apoio e legitimação, enviou-lhe o “estandarte de São Pedro”, sinal de que a Igreja estava com o duque normando.

Ficou para sempre gravada a partida de seu exército dos portos da França em navios que mais se assemelhavam aos dos vikings. Especialmente emocionante foi quando o vento enfunou as velas da nau ducal, pintadas com os leões deitados, hoje símbolo da coroa inglesa.

Reconstituição da nave do duque Guilherme. Museu de Bayeux, França.
O desembarque na ilha apresentava-se difícil. Descendo em grupos, os normandos bem poderiam ser aniquilados.

Porém, o acerto do operativo e a incúria dos ingleses permitiram aos guerreiros de Guilherme descer e se organizarem.

Haroldo os aguardava com seus homens e a batalha era tudo ou nada. Na noite anterior os ingleses entregaram-se à bebedeira, segundo velho costume pagão restaurado na decadência do catolicismo local.

Os normandos dedicaram-se à oração, à penitência e à assistência da Santa Missa. Ao amanhecer entoaram a Canção de Rolando e partiram ao combate.

Guilherme de Malmesbury (c. 1095/96 – c. 1143), o grande cronista da época, deixou um relato que é o ponto de referência para se compreender o histórico combate e que reproduzimos a seguir:

Ingleses se preparam para a batalha se embebedando

Os corajosos líderes prepararam-se para a batalha, cada qual segundo o seu costume nacional. Os ingleses passaram a noite em branco, bebendo e cantando, e de manhã lançaram-se sem demora contra o inimigo.

O príncipe Haroldo, Tapeçaria de Bayeux
Todos a pé, armados com machados de guerra, e protegendo-se com seus escudos, formaram um corpo impenetrável. Isso certamente teria garantido sua segurança naquele dia não fosse o fato de que os normandos, fingindo fugir, induziram-nos a abrir suas fileiras, que até aquele momento, segundo seu costume, tinham permanecido firmemente compactas.

O próprio Rei Haroldo ficou de pé com seus irmãos em torno ao estandarte, de maneira que compartilhando todos igual perigo, ninguém pensasse em recuar.

Normandos se preparam rezando e confessando seus pecados

Por outro lado, os normandos passaram toda a noite confessando seus pecados, e de manhã receberam a Comunhão do Corpo do Senhor.

A infantaria, com arcos e flechas, formou a vanguarda, enquanto a cavalaria, dividida em alas, foi colocada na retaguarda.

O duque, com semblante sereno, conclamou às armas declarando em alta voz alta que, como estava com a boa causa, Deus lhe seria favorável, e pediu suas armas.

Quando, devido à pressa, um de seus assistentes colocou sua cota de malha do lado errado, ele corrigiu o erro com um sorriso, dizendo: “O poder do meu ducado será transformado em reino”.

Normandos entoam a Canção de Roland e rezam a Deus

Começaram então a proclamar a Canção de Roland, a fim de que seu exemplo guerreiro estimulasse os soldados; e pedindo a ajuda de Deus, a batalha começou dos dois lados e travou-se com grande ardor, sem que nenhum lado cedesse terreno durante a maior parte do dia.

Vendo isso, Guilherme deu sinal às tropas para que, fingindo fugir, começassem a se retirar do campo. Com esse truque, a sólida falange dos ingleses abriu-se para perseguir o inimigo em fuga. E assim fazendo, condenou-se à repentina destruição.

Guilherme o Conquistador, William I of England.
Dando meia volta, os normandos os atacaram, obrigando-os a fugir. Enganados assim pelo estratagema, encontraram morte honrosa vingando-se contra o inimigo.

Muitas vezes os ingleses resistiam e matavam seus perseguidores nas cabeceiras. Tomando uma saliência do terreno, expulsaram os normandos, que no calor da perseguição lutavam até a encosta na direção do vale abaixo.

Lançando dardos e rolando pedras sobre eles, que se encontravam abaixo, os ingleses facilmente os destruíram.

Além disso, por uma pequena passagem com a qual estavam familiarizados, evitaram uma vala profunda e puseram os pés sobre uma tal multidão de inimigos que as pilhas de corpos nivelaram o desvão com a planície.

Esta alternância de vitórias e derrotas continuou enquanto Haroldo viveu para evitar a retirada. Mas, quando ele sucumbiu, com o cérebro perfurado por uma flecha, os ingleses fugiram sem parar até o cair da noite.

Na batalha, ambos os líderes se destacaram pela bravura

Haroldo, não contente com as funções de general, assumiu ansiosamente o lugar de soldado comum exortando aos outros.

Como estava sempre derrubando de perto o inimigo, ninguém podia aproximar-se dele impunemente, sob pena de serem o cavalo e o cavaleiro abatidos com um único golpe.

Guilherme o Conquistador, estátua equestre em Falaise, Normandia
Assim, foi longa a distância percorrida pela inimiga flecha mortal que o levou à morte.

Tendo um dos soldados ferido Haroldo na coxa enquanto este estava prostrado, Guilherme o verberou por essa vergonhosa ação e o expulsou do exército.

E, com sua voz e sua presença, entrou disposto igualmente a encorajar seus soldados, tendo sido dos primeiros a correr para o front do ataque grosso ao inimigo.

Guilherme estava em toda parte, feroz e furioso. Naquele dia perdeu três cavalos de escol, mortos debaixo dele.

O espírito destemido e o vigor do intrépido general, porém, insistia. Embora muitas vezes chamado de volta pelo protesto de sua guarda, ele persistiu no combate até que a noite se aproximou e o coroou com a vitória completa.

Sem dúvida a mão de Deus o protegeu, pois não obstante tantos dardos terem sido jogados contra ele, o inimigo não pôde derramar o seu sangue.

Este foi um dia decisivo para a Inglaterra.

(Original: William of Malmesbury (+ 1143?); “The Battle of Hastings, 1066”. O texto foi resumido em algumas partes para caber nos posts. Texto completo em: Medieval Sourcebook. From: James Harvey Robinson, ed., Readings in European History, 2 Vols. (Boston: Ginn & Co., 1904-06), Vol. I: From the Breaking up of the Roman Empire to the Protestant Revolt, pp. 224-229. Scanned in and modernized by Dr. Jerome S. Arkenberg, Dept. of History, California State - Fullerton).


continua no post: A Batalha de Hastings, marco na história inglesa com imponderável de Cruzada (2)


Gesta de Guilherme o Conquistador, Tapeçaria de Bayeux







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domingo, 16 de janeiro de 2022

Achado de 300 armas medievais
evoca era de paz e orden

Castillo de La Estrella, reconstituição artística
Castillo de La Estrella, reconstituição artística
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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O Castillo de la Estrella, em Montiel, Espanha, que foi fortaleza da Ordem de Santiago, continua a revelar tesouros escondidos.

Após a descoberta da estrutura de uma grande igreja outrora consagrada a Nuestra Señora de La Estrella, agora foi encontrado um depósito medieval de mais de 300 armas, informou a “Cadena SER” desse país. 

A descoberta foi feita na estrutura do templo de Nossa Senhora. Ela tinha uma sala onde foi possível aos poucos desenterrar uma grande variedade de armas defensivas e ofensivas do século XIV, que pertenceram aos cavaleiros da Ordem de Santiago.

O local foi reservado para alunos da Universidade de Castela-la Mancha (UCLM), que dedicariam seus estágios no verão europeu a trabalhos de investigação arqueológica.

Um primitivo castelo havia sido erigido no local no século IX pelos invasores muçulmanos. A fortaleza resistiu como baluarte muçulmano até a reconquista pelos cristãos, em 1228. Outros episódios bélicos relevantes aconteceram na fortaleza que ficou na posse da Ordem de Santiago.

A Ordem religiosa e militar de Santiago surgiu no século XII sob o patrocínio do santo padroeiro da Espanha, Santiago o Maior.

Castillo de la Estrella,Montiel, Castilla-La Mancha, suas ruinas falam de altaneria e proteção
Castillo de la Estrella,Montiel, Castilla-La Mancha,
suas ruínas falam de altanaria e proteção
Seu objetivo inicial era proteger os peregrinos do Caminho de Santiago e expulsar os muçulmanos da Península Ibérica. Hoje fica como associação nobiliária honorífica e religiosa.

Sob a sombra protetora e benfeitora dos cavaleiros dessa Ordem se desenvolveu a atual cidade de Montiel, cujos agradecidos habitantes hoje estão financiando a restauração.

Nossa Senhora da Estrela hoje é venerada em muitas localidades como Rainha e Mãe das Escolas Cristãs, e tem muitos outros títulos e representações.

Na Idade Média por resolução do imperador Carlos Magno, as instituições eclesiásticas estabelecidas deviam fornecer educação gratuita a todas as crianças, ofertando casa, alimento e roupa graciosamente.

Trata-se de um achado incomum de elementos da época medieval explicou o arqueólogo David Gallego, codiretor da escavação.

Foram encontradas adagas, espadas, lanças, pontas de flechas, grande número de fragmentos de armadura, cota de malha ou bergantins, feitos de placas de metal, incluída uma armadura completa do século XIV, que poderia ser única na Espanha.

Castillo de la Estrella, vista dos trabalhos arqueológicos
Castillo de la Estrella, vista dos trabalhos arqueológicos
Foi até possível reconstruir um peitoral feito de peças de metal e couro sem igual na Espanha e foi desenterrado material ganho aos mouros na conquista de Granada.

O grande número de armamento sugere que provavelmente foi guardado num depósito. Agora será transferido para o Museu Provincial de Ciudad Real, após a restauração.

Pergunta-se porque o achado de um material tão antigo e sem interesse comercial ou moderno de outra espécie, possa produzir tanto interesse ao ponto de repercutir na mídia internacional.

A recuperação da fortaleza e de suas adjacências, além dos objetos e armas de época, convida a reconstruir mentalmente uma ordem religiosa, social e política profundamente equilibrada e adaptada às necessidades psicológicas e morais da alma humana.

A consideração dessa ordem comunica uma paz e uma satisfação que desapareceu na caótica e cacofônica desordem universal na qual vamos nos afundando.




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domingo, 9 de janeiro de 2022

Espada de templário reaparece quase intacta

Espada de cruzado achada no mar de Cesarea
Espada de cruzado achada no mar de Cesarea
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A espada de um cavaleiro cruzado que desceu na Terra Santa quase um milênio atrás para resgatar o Santo Sepulcro foi recuperada das profundezas do Mediterrâneo por um mergulhador amador, informaram funcionários da Unidade de Arqueologia Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel, informaram múltiplos órgãos de imprensa.

A espada ficou sepultada na areia a cinco metros de profundidade, mas só agora foi descoberta quando o jogo das correntes subterrâneas removeu as areias que a haviam escondido.

A lâmina, o cabo e a guarnição de um metro de comprimento embora cheia de organismos marinhos aderidos, ficaram admiravelmente inteiros.

O achado se deu na costa diante o Monte Carmelo, no norte de Israel, numa enseada natural que pode ter servido de refúgio para os barcos medievais, especialmente nas tempestades, disse Jacob Sharvit, diretor da unidade de arqueologia marinha da agência.

Poderia ter pertencido a um cavaleiro templário, segundo sugere a proximidade do local do achado da cidadela templária de Atlit.

Segundo os especialistas a antiga espada provavelmente ficou nove séculos invisível até que as ondas moveram a areia.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Sexto mito errado: Na Idade Média a ciência ficou estagnada, e não houve progresso técnico.


Luis Dufaur
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REFUTAÇÃO: A Idade Média conheceu um florescimento científico e técnico muito acentuado.
 

DOCUMENTAÇÃO


1–Conhecimentos técnicos em geral

• O manual “Schedula diversarum artium” (século XI), do monge Teófilo Presbítero, consigna importantes inventos e conhecimentos técnicos nos ramos de preparação de tintas, pintura, trabalhos de metal, produção de cristal, vitrais, construção de órgãos, trabalhos em marfim, com pedras preciosas e pérolas.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Quinto mito errado: A Idade Média foi a “noite de mil anos”, em que a cultura desapareceu.

Luis Dufaur
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REFUTAÇÃO: A Idade Média foi uma época de grande progresso cultural.
As grandes sumas, e as obras de arte que ainda permanecem insuperadas, o atestam.



1–Progresso geral

“No segundo terço do século XI começou um progresso acelerado. Foi uma fermentação de tudo; floração um tanto desordenada, audácia criadora, tal foi o tom do século XII. 
 
“De um século XII que a meu juízo começa a 1070 e se encerra por volta de 1180, e do qual seria umbral a igreja abacial de Trindade de Caen, e por fim o coro de Notre Dame de Paris, pedras milenares admiráveis.