Anúncios de eventos como este espantam pessoas muito desatualizadas. O Brasil estava representado por combatentes. |
Foi-se o tempo em que a máxima desqualificação de algo consistia em dizer que era “medieval”. Essa visualização mudou 180º.
Por isso, escritores e ativistas que ficaram esclerosados no antigo padrão protagonizam engraçados episódios.
Foi o que aconteceu com a jovem jornalista argentina Diana Fernández Irusta, de “La Nación”, galardoada com o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha.
Certo dia a jornalista, que estava tratando do joelho e andava com dificuldade, foi gentilmente auxiliada por uma nova vizinha do prédio em que mora. É Cecília, uma jovem professora de música e cantora, mãe de três filhos, que lhe deu apoio durante o tratamento. Diana ficou com uma alta imagem de Cecília.
Combate Medieval em Buenos Aires, mais de 30.000 pessoas assistiram. |
Sua surpresa foi total: nada de festinha, mas um evento que se destacava pelo nível cultural.
E enquanto ela girava pelas ruas da cidade medieval erigida para a ocasião, foi dar com Cecília, sua amável vizinha, ataviada com um belo vestido palaciano e ensinando às moças passos de uma dança medieval.
Cecilia lhe contou todos os livros que tinha lido. Ela sabia bem o que estava fazendo. Diana custou a acreditar, mas ainda não tinha se dado conta de tudo.
Os alto-falantes anunciaram o momento da batalha. Diana estava convencida de que assistiria a uma coreografia com espadas e escudos de plástico e levou seu filho.
Ela encontrou formidáveis cavaleiros medievais com armaduras de aço que poderiam figurar num museu. Armas e golpes eram reais e tremendos. Visavam derrubar o adversário. Todos eles tinham modernos acolchoados não visíveis sob a armadura, e as pancadas e o combate eram para valer.
Diana não entendia mais nada. Voltou a encontrar a simpática Cecilia, que logo percebeu seu desconcerto.
Diana arguiu, sem saber bem o que dizer: “Mas eles não ficam pelo menos com algum galo”? Sorridente e tranquila, Cecília respondeu: “Mas se praticassem futebol ou rúgbi poderiam também se fraturar, não é?”
Nessa hora, Diana já pensava que estava diante de uma heroína medieval em pleno século XXI.
E Cecília não fazia isso por fantasia. Ela lhe explicou tudo o que tinha lido e estudado, descreveu como seu coração se encheu de luz pelos relatos medievais, seu entusiasmo pela segurança dos conventos e o esplendor dos combates.
E não é só Cecília. Há associações culturais diversas que cultuam aquele passado povoado de santos, cavaleiros e damas, castelos e catedrais, sua música, pintura, culinária, arte e religião.
Cecilia lhe explicou o significado da história, da tradição: “Nós não somos só presente”. A grande coisa que a entusiasmava é a ideia da origem do homem: “Isso me leva até Deus, até a Criação, ao primeiro passo da humanidade”.
Ela parecia emergir da bruma medieval, ante os olhos da “antiquada modernidade” de Diana.
Os participantes do 1º Sulamericano de Combate Medieval ficaram emopolgados pelo sucesso |
Mas isso não lhe importava: a Idade Média já existia em sua alma e, mais dia menos dia, ela iria viajar e conhecer seus magníficos restos materiais. Com alegria de criança, ela contava que acabava de tirar seu passaporte.
Diana voltou para sua casa se perguntando se não tinha perdido o bonde da história. E descreveu sua nova e perplexitante descoberta em sua coluna jornalística.
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