O rei Filipe I da França conversa com o Papa Pasqual II. Grandes Chroniques de France, Bibliothèque National de France. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No âmago da grande paz e da luminosa ordem medieval nós encontramos a união entre o Poder Espiritual e o Poder Temporal.
Não havia indiferentismo do Estado, nem laicismo agressivo, nem oposição crônica e desgastante entre os dois.
A Igreja não só respeitava as legítimas autoridades. Foi Ela, muitas vezes, a que instituiu e organizou os sistemas de governo, a partir de realidades embrionárias preexistentes, como o reino bárbaro dos francos ou dos hunos (húngaros).
E Ela vigiava como uma mãe para que o filho perseverasse pelo bom caminho.
Hoje, na imensa maioria dos casos, o filho está em estado de indiferença ou até revolta contra a mãe.
E então vemos imensas durezas na vida diária, crises e desajustes um pouco por toda parte. Os cidadãos sofrem as consequências, como filhos de pais divorciados em perpétua briga.
São Remígio batiza Clóvis, rei dos francos. Foi a nascença da França. Grandes Chroniques de France, Bibliothèque National de France. |
Mas essa união fundamental entre os pensamentos, os desejos profundos e o sentimentos da Ordem Temporal e o da Ordem Espiritual da Idade Média foi defendida em documentos do Magistério eclesiástico que ficaram gravados para sempre.
E também em escritos luminosos de grandes Doutores da Igreja, santos e bons teólogos.
A título de exemplo, transcrevemos a seguir tópico da Encíclica “Immortale Dei” do Papa Leão XIII. Mais abaixo, reproduzimos carta de São Bernardo a Conrado, Imperador do Sacro Império Romano Alemão.
Papa Leão XIII:
“Então [na Idade Média] a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios.”
(Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-11-1885 -- nº28, Ed. Vozes, Petrópolis,1954, Doc. Pont. nº14, p.15)
Coroa dos imperadores do Sacro Império |
São Bernardo:
“A realeza e o sacerdócio não podiam estar unidos por mais suaves e mais fortes vínculos do que estiveram na pessoa de Jesus Cristo, que nasceu Sacerdote e Rei, descendente das tribos de Levi e de Judá.
“Ademais, reuniu Ele uma e outro [realeza e sacerdócio] em seu Corpo Místico, que é o povo cristão, do qual Ele é a Cabeça, de modo que esta progênie de homens é chamada pelo Apóstolo: a raça eleita, o sacerdócio real (I, Pedr., II, 9); e em outra passagem, todos os predestinados são qualificados de reis e sacerdotes (Apoc., I, 6; V, 10).
“Portanto, não separe o homem o que Deus uniu! Pelo contrário, procure ele pôr em prática o que sancionou a Lei divina. Aqueles que estão unidos por sua instituição, estejam igualmente unidos pelo espírito e pelo coração; que se entreajudem, apóiem-se e se defendam mutuamente.
“Se um irmão ajuda o irmão, diz a Escritura, ambos se consolarão”. Porém, se entram em rixa e se ferem, cairão na desolação.
O Papa Pio XII com a pompa que a Igreja e a Cristandade
reconheciam ao sucessor de São Pedro. O modernismo aboliu.
“Longe de mim aprovar os que pretendem que a paz e a liberdade da Igreja sejam nocivas aos interesses do Império, ou que a prosperidade e a grandeza do Império sejam contrárias aos interesses da Igreja!
“Deus, fundador de um e de outra, não os uniu para que se destruíssem, mas para que se edificassem reciprocamente”.
(São Bernardo, Epístola 244, a Conrado, Rei dos Romanos, em 1146; apud Mons. Henri Delassus, La mission posthume de Sainte Jeanne d'Arc et le règne social de Notre-Seigneur Jésus-Christ, t. II, c. LI, pp. 302-303).