Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A ordem é a disposição das coisas segundo sua natureza.
Assim, um relógio está em ordem quando todas as suas peças estão ordenadas segundo a natureza e o fim que lhes é próprio: apontar as horas.
Diz-se que há ordem no universo sideral porque todos os corpos celestes estão ordenados segundo sua natureza e fim. A Idade Média tendeu para implantar essa ordem em todas as coisas.
A paz medieval vinha do fato que a ordem engendra a tratabilidade. A tranquilidade da ordem é a paz.
Não. Não é qualquer tranquilidade que merece ser chamada paz mas apenas a que resulta da ordem.
Por exemplo, a paz de consciência é a tranquilidade da consciência reta: não pode confundir-se com o letargo da consciência embotada.
Existe harmonia quando as relações entre dois seres são conformes à natureza e o fim de cada qual.
A harmonia é o operar das coisas umas em relação às outras, segundo a ordem. Essa harmonia impregnou toda a Idade Média.
Quando um ser está inteiramente disposto segundo sua natureza, está em estado de perfeição.
Assim uma pessoa com grande capacidade de estudo, posta em uma Universidade em que haja todos os meios para estudar, está posta em condições perfeitas.
A trajetória dos astros é perfeita, porque corresponde inteiramente à natureza e ao fim de cada qual.
A Idade Média visou pôr nessa perfeição em tudo. Por isso gerou muitos santos.
Qual é a condição essencial da ordem e da paz?
A posse da verdade religiosa é a condição essencial da ordem, da harmonia, da paz e da perfeição.
Sim. A fidelidade à Lei exige sacrifícios por vezes heroicos dos próprios católicos que vivem no seio da Igreja banhados pela superabundância da graça e de todos os meios de santificação.
Foi o caso da Idade Média.
Isto equivale a perguntar o que acontece num relógio em que cada peça trabalha na perfeição. Dá as horas perfeitamente.
Uma sociedade em que todos os fossem bons católicos, seria como a sociedade traçada por Santo Agostinho: imaginemos:
"um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juízes, contribuintes, cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã!
"E ousem (os pagãos) ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado!
"Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada" (Epíst. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15).
Santo Agostinho, falando da Igreja Católica, exclama:
"Conduzes e instrues as crianças com ternura, os jovens com vigor, os anciãos com calma, como comporta a idade não só do corpo mas da alma. Submetes as esposas a seus maridos, por uma casta e fiel obediência, não para saciar a paixão, mas para propagar a espécie e constituir a sociedade doméstica.
"Conferes autoridade aos maridos sobre as esposas, não para que abusem da fragilidade do seu sexo, mas para que sigam as leis de um sincero amor. Subordinas os filhos aos pais por uma terna autoridade.
"Unes não só em sociedade, mas em uma como que fraternidade os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações, e os homens entre si, pela recordação de seus primeiros pais.
"Ensinas aos reis a velar pelos povos, e prescreves aos povos que obedeçam os reis.
"Ensinas com solicitude a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem o consolo, a quem a advertência, a quem o encorajamento, a quem a correção, a quem a reprimenda, a quem o castigo; e fazes saber de que modo, se nem todas as coisas a todos se devem, a todos de deve a caridade e a ninguém a injustiça". (De Moribus Ecclesiae, cap. XXX, n. 63).
Seria impossível descrever melhor o ideal de uma sociedade inteiramente cristã. Poderia em uma sociedade a ordem, a paz, a harmonia, a perfeição ser levada a limite mais alto?
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