domingo, 6 de setembro de 2020

A “segunda Criação” obra da Igreja

A Idade Média nasceu na queda do Império Romano, de lutas de raças,  confusão de povos, violências, gemidos, corrupção e barbárie.
A Idade Média nasceu na queda do Império Romano, de lutas de raças,
confusão de povos, violências, gemidos, corrupção e barbárie.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






“Na Idade Média há muitas coisas.

“Por um lado o isolamento das cidades, a queda de impérios, luta de raças, confusão de povos, violências, gemidos; corrupção, barbárie, instituições que caem ou ficam apenas no bosquejo; homens que vão aonde vão os povos; e povos que vão aonde outro quer e eles nem sabem; há luz apenas suficiente para ver que todas as coisas estão fora de seu lugar e que não lugar para coisa alguma: Europa é caos.

“Porém, além do caos há uma outra coisa: a presença da Igreja, Esposa imaculada de Nosso Senhor. Então, há um grande acontecimento nunca antes visto pelos povos: há uma segunda Criação operada pela Igreja.

A presença da Igreja no caos inicial fez da Idade Média uma 'segunda Criação'
A presença da Igreja no caos inicial
fez da Idade Média uma 'segunda Criação'
“Da Idade Média nada me parece assombroso senão a sua criação, e nada há que me pareça adorável salvo a Igreja.

“Para operar esse grande prodígio, Deus escolheu esses tempos obscuros, eternamente famosos ao mesmo tempo pela explosão de todas as forças brutais e pela manifestação da impotência humana.

“Nada é mais digno da Divina Majestade e da divina grandeza que trabalhar ali, onde homens, povos e raças se agitam confusamente e ninguém obtém nada.

“Querendo Deus demonstrar em duas solenes ocasiões que a corrupção só é estéril e que só a virgindade é fecunda, quis que Maria nascesse e contraísse desposórios com a Igreja.

“Então, a Igreja foi mãe de povos, como Maria é Mãe dEla.

“Viu-se então àquela imaculada Virgem, ocupada em fazer o bem – do mesmo modo que seu divino Esposo ‒, levantar o ânimo dos caídos e moderar o ímpeto dos violentos; dar a uns o pão dos fortes e a outros o pão dos mansos.

“Aqueles ferozes filhos do polo, que humilharam a majestade romana escarnecendo-a, caíram vencidos pelo amor aos pés da indefesa Virgem.

“Então o mundo todo contemplou, entre atônito e assombrado, por espaço de muitos séculos, a renovação da Igreja, a renovação do prodígio de Daniel protegido contra todo mal em meio à cova dos leões.

“Após ter amansado amorosamente aquelas grandes iras e após ter serenado só com um olhar aquelas furiosas tempestades, viu-se a Igreja tirar um monumento da ruína; uma instituição de um costume; um princípio de um fato; uma lei de uma experiência.

“Para dizer tudo de vez: o ordenado do esdrúxulo; o harmônico do confuso.

“Sem dúvida, todos os instrumentos de sua Criação, como o próprio caos, existiam antes em meio ao caos; mas pertenceu a Ela a força vivificante e criadora.

“No caos estava, como no embrião, tudo o que haveria de vir e de ganhar vida. Porém, na Igreja despojada de tudo, só havia o ser e a vida.

“Tudo passou a viver quando o mundo prestou ouvido atento às suas amorosas palavras e fixou o olhar na sua resplandecente beleza.”


(Autor: Juan Donoso Cortés, “Obras Completas", BAC, Madri, vol. II, p. 630).



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Um comentário:

Roberto disse...

Gostaria que o site abordasse, se possível, os padres da patrística, um pouco mais, o que foi o pelagianismo, qual a diferença entre eles e o pensamento agostiniano, como eles influenciaram a idade média, etc., gostaria também de agradeçer pois, sendo eu professor de língua portuguesa tive diversas oportunidades para falar com meus alunos sobre os trovadores, e a poética medieval e ver a quantidade de besteiras que eles pensam ser verdade sobre a assim chamada - Idade das Trevas -, eles ficam encantados em saber que a cavalaria e os modos corteses, foram tão caros, e que os cavaleiros tinham votos tão bonitos e que a nossa história começa com a nave cabralina eu lançava ao céu a Cruz de Malta ao cruzar os mares, a cruz antes do império..., obrigado

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