Um fanático do Velho da Montanha (turbante branco) assassina o vizir Nizam-al-mulk. Museu de Topkapi, Estambul |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Os seguidores do Islã se subdividem em incontáveis seitas, algumas deveras extravagantes ou que fazem interpretações especialmente criminosas do Corão.
E isso não é novo nem de espantar pois o próprio São Tomás de Aquino nos advertiu:
“Maomé manifestou ter sido enviado pelo poder das armas, que também são sinais dos ladrões e dos tiranos. Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram totalmente ignorantes da doutrina divina” (Suma contra los Gentiles. Livro I, Capítulo VI, Club de Lectores, Buenos Aies, 1951, 321. p.76 e ss.).
Hoje, arqueólogos buscam desvendar os segredos que cultuavam a “seita dos assassinos”, um grupo religioso medieval maligno liderado pelo dito “Velha da Montanha”. Para isso escavam nas ruínas do castelo da seita no acidentado vale iraniano de Alamut, escreve “Clarín”.
O castelo de Alamut no topo de uma pedra formidável. Só ficam ruínas |
A “seita dos assassinos” acabou dispersa pelos mongóis que invadiram o país e se sentiam muito ameaçados pelas “devoções” da seita ocultista e criminosa.
Os mongóis destruíram grande parte de seu refúgios, mas os sectários perpetuaram seus mistérios em outras seitas islâmicas.
Ficaram vestígios de sete de seus castelos, dos quais o principal é o de Gazorjan, e uma dezena de torres de vigia.
Eles compunham o Estado dos temidos sectários identificados religiosamente como Nizari Ismailis, um braço dos xiitas, entre os séculos XI e XIII da nossa era.
O fundador foi Hasan Sabah, treinado na pregação pelos Fatimitas Ismaelitas do Cairo, onde hoje está o centro dos Irmãos Muçulmanos, foco do terrorismo islâmico que flagela o mundo.
No Irã, o grupo desse fundador foi apelidado “hashshashin”, termo vertido em muitas línguas como “assassinos” porque a seita fazia do homicídio uma via de ingresso no Paraíso de Alá, e praticava o assassinato político de seus rivais como exercício religioso.
O mito é atribuído a seus inimigos de quem provem as informações sobre a seita, já que os mongóis queimaram os documentos dos Nizaris, xiitas.
O arqueólogo iraniano Hamide Chubak, diretor do Patrimônio Cultural de Alamut, explicou à agência EFE que os principais rivais da seita eram os mongóis e o Império Seljúcida, uma outra temível seita proveniente do Afeganistão cujos crimes foram decisivos para suscitar a Primeira Cruzada.
Mas como é constante no Islã, as seitas se odiavam e matavam entre si, e os seljúcidas, que eram sunitas, temiam a expansão da mística religiosa dos nizaris xiitas.
O Velho da Montanha dava droga a seus discípulos. Iluminura de "Viagens de Marco Polo". Folio 17r |
“Para eles, os nizaris eram o inimigo e por isso nunca falavam positivamente, descreviam-nos como ateus e atribuíam-lhes milhares de crimes”, afirma o especialista.Eles usavam drogas como o haxixe, ou maconha, especialmente nos homicídios, mas, segundo o historiador, o Alamut está cheio de ervas medicinais e os “assassinos” diziam que a maconha servia de “farmacêutico ou remédio”.
E acrescenta que “eles estavam dispostos a se sacrificar para manter a seita, já que seguiram uma corrente do Islã xiita, no qual há martírio"
Em sua opinião, a seita de Hasan Sabah, também conhecido como o Velho da Montanha, "eliminou seus opositores", recorrendo a “atentados suicidas” em que se os assassinos se eram presos e martirizados iriam para o Paraíso islâmico.
“Seus seguidores estavam dispostos a se sacrificar para manter a seita, já que seguiam a corrente do islamismo xiita que professa a crença no martírio”, disse Chubak.
Os mongóis exploravam essa troca de acusações para justificar que estavam destruindo “os ninhos dos ateus” e quase não deixaram pedra sobre pedra de suas cidadelas.
Especialmente do castelo de Gazorjan, ou Alamut, e o de Lamiasar, na parte ocidental do vale e residência de inverno do Velho da Montanha.
O Velho da Montanha oferecia mulheres a seus seguidores como prelibação do Paraíso. 'Livre des merveilles'. Marco Polo, 1310 (BnF Gallica. Fr. 2810. Folio 16v) |
O diretor Patrimônio Cultural de Alamut lembra que uma das descobertas recentes mais importantes foi que, após o primeiro ataque mongol em 1256, os “assassinos” voltaram a controlar a área.
Um azulejo feito posteriormente, mostra que a seita “voltou vinte anos após a invasão mongol, reconstruiu o castelo e formou um governo novamente”, diz Chubak.
“Essa importante descoberta mostra que o castelo foi destruído duas vezes pelos mongóis, e não uma”, disse Chubak emocionado.
A “muito influente” Seita dos Assassinos também tinha uma rede de castelos em províncias iranianas como Isfahan, Khorasan do Sul e Mazandaran e em outros países como Síria, Afeganistão e Tajiquistão, detalha o arqueólogo.
O Velho da Montanha manda se suicidarem dois fanáticos. |
Uma cripta sob a mesquita do castelo principal e um santuário na praça Gazorjan, onde havia sepulturas, pareciam responder ao secretismo do líder espiritual dos ismaelitas nizaris, mas as escavações foram infrutíferas.
“Ainda é um grande mistério onde está a tumba de Hasan Sabah”, diz Chubak, que detalha que segundo os textos seus sete sucessores foram sepultados no mesmo lugar.
Hoje o local atrai a peregrinação dos sobreviventes da seita e o Castelo de Alamut recebe muitos visitantes e curiosos.
Os “peregrinos” modernos interessam-se pela lenda e pelo enclave natural rodeado pelas altas montanhas da serra do Alborz, que, como diz o arqueólogo, eram “parte da estrutura defensiva” da seita.
Séculos depois o Ocidente moderno sofre atentados em série que evocam os da “seita dos assassinos”. Como lidar com esse ataque místico e criminoso?
São Luiz, rei da França, em uma de suas Cruzadas lidou com os embaixadores do Velho da Montanha que pretenderam extorsionária-lo com ameaças de morte.
A resposta do rei santo foi tão feliz que a seita até se ofereceu como vassala. Veja mais em: Como São Luis IX tratou aos terroristas do “Velho da Montanha”
Como tratar os terroristas: o exemplo de São Luís
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