Foulques de Neuilly-sur-Marne: de padre relaxado a pregador da Cruzada e taumaturgo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um exemplo significativo da flexibilidade de espírito dos medievais vem da história de Foulques, vigário de Neuilly-sur-Marne, na França.
Ele, de início, foi um vigário relaxado que vivia como um leigo na ignorância da religião.
E na Idade Média havia duas categorias bem definidas de vigários: o relaxado e o não relaxado.
Esse vigário relaxado à certa altura se converteu e se transformou num bom vigário.
Sua ação começou a se difundir em torno de Neuilly-sur-Marne. Depois começou a ser conhecido fora, mas mal visto.
A conversão dele datava de apenas dois anos, quando ele soube que havia uma assembleia geral de abades para tratar das Cruzadas.
Ele vai, se apresenta nessa assembleia e fala aos abades. Os abades se recusam a apoiá-lo.
Então, ele resolve dirigir-se ao povo que se comprimia do lado de fora. Falou com tanta força, com tanta unção, de um modo tão religioso que toda a multidão que o ouvia – velhos, homens, mulheres, nobres, plebeus – resolveu tomar a cruz.
Depois, ele começou a pregar a Cruzada por toda a região.
Entre os episódios, conta-se que ele encontrou, num castelo, um grupo de nobres ingleses e franceses, que se divertiam num torneio.
Foulques de Neuilly pregou a IV Cruzada na igreja de S. Severino, Paris |
Os nobres se impressionaram tanto que todos eles deixam a guerra entre si e vão para as Cruzadas. E eles formaram o cerne da IV Cruzada a Terra Santa.
Depois disto ele vai a Paris para pregar diante da multidão.
Fala a respeito da gravidade dos pecados.
É tão grande a impressão que ele causa em seus discursos feitos em praça pública que muitas pessoas tiram os calçados, jogam-se aos pés dele levando-lhe correias e varas, pedindo que lhes dê uma sova...
Ele falou sobretudo contra os usurários e as mulheres perdidas.
Muitas mulheres perdidas aproximavam-se dele com os cabelos cortados, pedindo que ele indicasse para elas um estilo de vida.
Ricardo Coração de Leão foi convertido pela pregação de Foulques de Neuilly. |
Mais ainda. Ele tocou corações mais duros que os dessas mulheres...
Convertia usurários, exigia que eles devolvessem o dinheiro roubado e para depois se emendarem.
Havia usurários em quantidade, que davam o dinheiro para os pobres e mudavam de vida...
Tratava-se de almas susceptíveis de serem tocadas pela graça.
A conversão de Ricardo, rei da Inglaterra, foi um caso clamoroso.
Numa ocasião foi pregar para Ricardo, rei da Inglaterra. Apresentou-se para ele e disse:
– Rei, deves deixar as três mulheres que tens.
O rei:
– Hipócrita, não tenho nenhuma.
Ele: – Tens três mulheres, que são: a avareza, a impureza e a soberba.
O rei: – Não há dúvida!
Ricardo Coração de Leão, túmulo na abadia de Fontevraud, França |
– Eu dou a avareza para..., a impureza para o episcopado, o orgulho dou para os Templários...
Era taumaturgo.
E, além disso, pela imposição das mãos, ele curava.
Mas havia algumas pessoas que ele declarava que não sarava. E dava a razão.E os pecadores iam e faziam penitência!
Eram razões altamente teológicas, dignas de serem meditadas por quem, sem discernimento, tem pena de todos que sofrem, de todos os doentes.
Dizia: “não vou curá-lo porque a cura será um mau para sua alma!”
Outras vezes: “eu poderia curá-lo e não faria mal.
“Mas é preciso fazer ainda mais penitência de seus pecados para depois curá-lo.
“Vá fazer penitência”.
No homem de hoje: imobilidade tremenda, coração empedernido e bruto
Agora, meçam a diferença do homem de hoje.
Há uma imobilidade tremenda, cadavérica do homem contemporâneo. Seu coração está colado na matéria e no pecado.
Um comentário:
maravilhoso site. Como Deus faz coisas belas!
Parabéns a todos e que Deus e a Virgem Santíssima os abençoe!
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