Sob São Silvestre I a Igreja saiu do opróbrio persecutório do tempo das catacumbas. Catedral Notre Dame de Paris |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Dom Prosper Guéranger OSB (1805-1875), refundador da Abadia de Solesmes, escreveu em sua célebre obra L’Année Liturgique um grande elogio de São Silvestre I Papa (280-335), na qual, entre outras coisas, ele diz:
“Era justo, então, que a Santa Igreja, para reunir nessa oitava triunfante todas as glórias do céu e da terra, inscrevesse nesses dias, o nome de um santo confessor que representasse todos os confessores.
“Este é São Silvestre, esposo da Santa Igreja Romana e, por ela, da Igreja Universal.
“Um pontífice de reinado longo e pacífico, um servidor de Cristo ornado de todas as virtudes, e dado ao mundo após esses combates furiosos que tinham durado três séculos, nos quais triunfaram pelo martírio milhares de cristãos sob a direção de numerosos papas, mártires predecessores de Silvestre.
“Silvestre anuncia também a paz que Cristo veio trazer ao mundo e que os anjos cantaram em Belém.
“Amigo de Constantino, confirma o Concílio de Nicéia que condenou a heresia ariana e organiza a disciplina eclesiástica para uma era de paz. Seus predecessores representaram Cristo padecente; ele figura Cristo triunfante.
O Papado passou a ser respeitado como Jesus Cristo
desejava no pontificado de São Silvestre I
“Ele completa, nessa oitava, o caráter do Divino Menino e chega na humildade de Suas faixas, exposto à perseguição de Herodes e, entretanto, é o Príncipe da Paz e o Pai do século futuro.
“De acordo com os ensinamentos de Silvestre, o piedoso imperador confirmou com seu exemplo o direito concedido aos cristãos de construir seus templos de modo ostensivo; pois ele elevou grande número de Basílicas.
“A saber, a de Laterão dedicada a Cristo Salvador, a do Vaticano a São Pedro, a da via de Óstia a São Paulo, as de São Lourenço no Agro Verano, da Santa-Cruz no palácio de Sessorius, dos santos Pedro e Marcellino e de Santa Inês nas vias Lavicana e Nomentana, e outras ainda; que ele ornou esplendidamente com imagens santas e dotou magnificamente com propriedades e privilégios.
“Foi sob seu pontificado que se reuniu o primeiro Concílio de Niceia, no qual, sob a presidência de seus legados, na presença de Constantino e de trezentos dezoito bispos, a santa Fé católica foi explicada e Ario e seus sectários foram condenados. (...)
“São Silvestre também ditou vários decretos vantajosos para a Igreja de Deus que levam seu nome; a saber: (...) que os diáconos usariam a dalmática na Igreja e levariam no braço esquerdo um ornamento de linho; que o Sacrifício do altar se celebraria sobre uma toalha de linho”. Dom Prosper Guéranger, OSB, “L’Année Liturgique”, “Temps de Noel, Propre des Saints, XXXI Décembre. Saint Silvestre, Pape et Confesseur”.
São Silvestre I batiza o imperador Constantino |
Ele foi Papa no tempo do Imperador Constantino e presidiu à transformação da Igreja, que deixou de ser perseguida para ser rainha, deixou as catacumbas e começou a ocupar palácios.
São Silvestre presidiu ao desabrochar da Igreja fora das catacumbas como um sol que nasce. Foi sob suas diretrizes e inspiração que começou a obra de “constantinização” da Igreja.
O que é essa constantinização?
A obra consistiu no seguinte. Houve um primeiro edito de Constantino que concedeu liberdade à Igreja Católica.
Houve depois um outro edito, que fechou todos os templos não católicos.
Depois a Igreja começou a se instalar sobre o solo romano.
São João de Latrão é um dos troféus mais preciosos da igreja constantiniana |
Assim, mandou construir a primeira Basílica cristã católica sobre o palácio da sogra dele, a casa dos Laterani.
Ela passou a ser a igreja de São João de Latrão, a Catedral do Papa.
Depois disso, o imperador começou a cercar os bispos de honras especiais, torná-los personagens oficiais, e cercar de todo esplendor os atos do culto católico, prestigiado pelo comparecimento pessoal do Imperador.
A Igreja passou a ser unida ao Estado e ficou uma entidade de tal maneira reverenciada que um dos motivos que levaram Constantino a deixar Roma e fundar a cidade de Bizâncio – também chamada Constantinopla – estava em deixar a cidade mais ilustre da terra, que era Roma, para que o Papa nela residisse sozinho e fosse virtualmente o soberano de Roma.
Constantino ainda não lhe deu o poder temporal, mas criou uma situação em que praticamente o Papa era o senhor temporal de Roma.
Continua no próximo post: São Silvestre I: tirou a Igreja das catacumbas e a fez pomposa e soberana
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